Capítulo 1

56 6 5
                                    

I've been told, I've been
To get you off my mind
But I hope I never lose the bruises that you left behind
Oh my lord, Oh my lord
I need you by my side

Lewis Capaldi - Bruises

Deitada na minha cama eu penso em quantas vezes eu já pensei em desistir de tudo pelo simples fato de não dar mais conta do fardo que carrego todo santo dia. Moro sozinha, sou sozinha desde que me entendo por gente. Tenho pai e tenho mãe, não que isso signifique muita coisa. Não me queixo por isso. Eles escolheram seus caminhos, fiz o mesmo e escolhi o meu, mesmo que tenha sido completamente oposto ao deles. Mesmo assim, tenho a impressão de que não sou o suficiente, que não sou o que eles esperavam que fosse. Com certeza queriam que eu fosse diferente. Mas eu não consigo, e sinto que não sou aceita por eles. Se para ser aceita por todos, eu tenha que mostrar que mereço a aceitação deles, tecnicamente eu não estou sendo aceita pelo que sou. Estou sendo aceita por que eles me moldaram e me fizeram de acordo com o que eles impuseram.
Imediatamente deixei de ser eu mesma e passei a ser eles. Sendo assim, sou uma espectadora da minha própria vida.
Em meus 21 anos, não posso afirmar que sou feliz. Se eu disser que eu sou feliz, seria hipocrisia da minha parte. Eu sou uma atriz, e atuo o tempo todo. As pessoas me veem e acham que o fato de ser essa pessoa sorridente e que faz todo mundo sorrir, é tão feliz quanto demonstra. Não sou amargurada, só não sou feliz. Há aqueles momentos de lapsos de felicidade. Mas não passam disso. Quando estou sozinha meu eu se destoa de toda a minha farsa e, é ai, que eu desabo.

***
Parada em frente ao campus, olho para todos os lados me perguntando por que cargas d'água eu ainda venho para as aulas. Nada mais entediante do que vir até aqui, ouvir meu professor de Filosofia falar por duas horas, pra no fim passar um trabalho em dupla, trio, grupo e o caralho a quatro. Trabalho esse que eu sou obrigada a fazer com pessoas que não dão a mínima pra mim, mesmo sabendo que a recíproca é verdadeira. Ossos do ofício. Desistindo de tentar entender, entro na sala e sento na cadeira mais distante possível do professor Valdevino. Queria saber o que a mãe dele fazia quando escolheu esse nome, só acho que ela deve odiá-lo. Como de costume ele debate sobre coisas nada a ver durante a aula. Lembro que uma vez eu fui apresentar um trabalho e quando estava indo sentar, a porra do notebook dele resolveu se pendurar no meu moletom. Ele não viu. Só a sala inteira. Queria ser um avestruz naquele momento e enfiar minha cabeça no buraco mais próximo.
Como não tem nada pra fazer, estou distraída escrevendo frases e desenhando merda nenhuma no meu caderno quando ele me pergunta:

- O que você acha, Srt. Holmes? -

Olhei pra ele, olhos estreitos e sem entender nada.

- Desculpe, pode repetir? - ouço algumas pessoas rirem do meu embaraço e quero muito levantar o dedo do meio e mandá-los se foderem. Mas aí eu lembro que não posso. O professor simplesmente vira as costas e me deixa com a cara de taxo sem entender porra nenhuma.

L O S TWhere stories live. Discover now