Capítulo 6

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There is a swelling storm
And I'm caught up in the middle of it all
And it takes control
Of the person that I thought I was
The boy I used to know

Dean Lewis - Waves


Me afasto de Benjamin e saio do apartamento dele a passos largos. Não quero que ele me veja assim, preciso evitar olhar pra ele e ver nos seus olhos o que eu mais odeio: pena. Ele ainda me chama, mas eu não paro pra escutar. Chego no meu apartamento e me jogo na cama, eu devia saber de em algum momento ele iria fazer isso. Ele iria querer que eu converssasse e dissesse o que tanto me atormenta. Será que não percebe que conversar não vai me fazer se sentir melhor? Conversar não vai preencher esse vazio e muito menos vai tirar esse peso de cima de mim. Se conversar desse jeito, eu não teria parado de ir às consultas do meu terapeuta.
Entro no banheiro à procura do meu alívio. Tiro a roupa. Entro no box. Ligo o chuveiro e me sento no chão. Estico o braço esquerdo e faço. Sangue desce junto com a água enquanto meus soluços soam alto. Faço de novo. A dor me faz ver que nada se compara com a dor que eu sinto na alma. Quando meu choro diminui eu levanto zonza, desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Vou até a cozinha pego sal e passo na ferida para que pare de sangrar, quando é o suficiente vou para o quarto e deito na cama e em pouco tempo apago.

[..]

Acordo assustada com meu celular tocando. Eu sei quem é. Eu não vou atender. Quando para de tocar vejo que já são duas horas da tarde, pelo jeito eu apaguei geral.
Levanto, tomo um banho e escovo os dentes. Vou até a cozinha e tomo um copo com água. Meu telefone toca de novo e eu espero até que pare, pego e vejo que Benjamin já me ligou doze vezes e me mandou vinte e sete mensagens perguntando como eu estou. Não respondo e o desligo. Não vou falar com ele até que desista de ser meu amigo. Até que esqueça que eu existo. Vou deixá-lo antes que ele me deixe. Volto pro quarto e me deito novamente. Fito o teto me sentindo mal, sem rumo. Parece que estou andando em círculos. Às vezes eu tento pensar que eu vou sair dessa e que isso é passageiro, mas, nem sempre eu fui assim. E mesmo assim não cheguei a lugar nenhum. Por que agora seria diferente? Vejo todo mundo crescendo e conquistando seus sonhos enquanto eu estou aqui no fundo do poço, então, pra que criar expectativas? Eu sei que vou me decepcionar. Minha perspectiva de vida não me deixa ver um futuro pra mim. Eu não me imagino casada, com filhos e um emprego bem remunerado. Não me vejo nem terminando a faculdade. Não idealizo o futuro por que eu não sei o que me espera, posso morrer daqui cinco segundos, então eu vivo cada minuto de cada vez. Step by step.

L O S TWhere stories live. Discover now