Capítulo 2

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I wished you the best of
All this world could give
And I told you when you left me
There's nothing to forgive

Labrinth - Jealous

Cheguei em casa com meu ânimo a mil. Aquela vontade de deitar e esquecer que existe alguém além de mim na terra. Passo pela cozinha e lembro que não comprei nada pra comer, ser adulto é uma merda mesmo. Quando você "vira" adulto, automaticamente, cai um mundo de responsabilidades em cima de ti. Você não sabe mais que rumo da vida tomar, não sabe o que fazer pra não se tornar um merdinha filho da puta e não sabe nem mesmo o que precisa fazer pra não ser mais um idiota lutando por um espaço nessa desgraça que eles chamam de terra. Então, começa esse inferno de ter que estudar pra poder ser "alguém". Caralho, eu não pedi pra nascer! Mas mesmo assim, cá estou eu. Então, se eu nasci, logo, sou alguém! Não preciso fazer porra nenhuma pra ser alguém na vida! Eu já sou alguém. Alguém bem fodido, mas não sou menos alguém do que uma pessoa que fez uma porra de faculdade e hoje limpa o cu com uma cédula de cem reais. Entretanto, cada dia que passa se torna uma pessoa medíocre e alienada. Com toda essa pose de "sou melhor que você, otário", junta dinheiro pra comprar a casa dos sonhos, se casar e ter filhos. Aí só serve pra trabalhar e, consequentemente, morrer. Ja dizia Clarice Lispector: prefiro ter uma realidade inventada. Não quero ter que viver de acordo com o que a sociedade impõe. Vai se foder sociedade de merda. Juro que se eu pudesse sairia em uma viajem só de ida pra casa do caralho. Ultimamente tenho andado tão cansada que parece que eu carrego um milhão de saco de cimento nas costas por dia. Tenho que ligar pros meus pais. Faço uma nota mental pra não esquecer esse detalhe. Sigo pro meu quarto e tenho o prazer de encontrar a cama, tão linda e confortável. Deito, suspiro e piro. É chegado o momento em que eu paro e penso o que eu estou fazendo da minha vida. Sinceramente? Não faço ideia. Queria sorrir e dizer que está tudo certo, que eu tenho tudo sobre controle. Aí eu lembro que eu não tenho controle nem sobre a minha fome, imagina sobre o que estou fazendo da vida. Preciso de alguém nem que seja pra me fazer companhia, mas meu único amigo ficou pra trás, eu o abandonei. Deixei ele lá, eu tinha que estragar tudo como sempre. Mas eu precisava, não podia ficar lá. Eu não queria mais ter que ouvir que eu não passava de um transtorno e dava mais trabalho que uma criança de cinco anos. Que não queria nada da vida. Aí eu resolvi viver. Ou sobreviver. Por que é o que estou fazendo. Andando, andando e andando e sempre acabando em uma beco sem saída. Sendo empurrada para uma escuridão, um túnel que no final não tem luz.

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