UM

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Que dia é hoje?

Simmmmm, Terça sua linda VOLTAMOS! 

Vamos começar devagar para ninguém enfartar rsrs

Boa leitura. 

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Algumas coisas nunca mudam.

O aroma que inalo enquanto preparo o pedido da mesa sete — robalo ao vapor com emulsão de chardonnay e aspargos — continua sendo o meu cheiro favorito. O cheiro da emulsão do vinho, pimenta moída, sal e creme de leite preenche o ambiente e junta-se aos demais aromas dos outros alimentos preparados. Inspiro lentamente absorvendo o cheiro típico da cozinha e me perco em pensamentos.

Desde pequena a cozinha sempre fora meu lugar favorito. Enquanto minhas primas saíam para andar a cavalo, tomar banho de cachoeira e aproveitar a natureza da casa do interior da nossa avó, eu preferia ficar ali sentada no banquete da cozinha acompanhando cada movimento dela, desde a escolha dos ingredientes, passando pelo preparo da comida, e terminando na mesa posta. Tudo isso acompanhado pelo seu cantarolar sereno e risonho.

Fui criada pela minha vó materna Dulce, meus pais morreram num acidente de carro quando eu tinha cinco anos. Não tenho muita recordação deles, as lembranças são apenas através das fotografias. Nelas sempre aparece um casal sorrindo segurando uma criança. Essa criança sou eu. Cresci ouvindo minha avó contar sobre minha mãe, sobre como pareço fisicamente com ela, os cabelos vermelhos não negam, e como meus pais eram felizes... A ausência desse lado maternal foi preenchida pela vó Dulce e pela Lorena que era a minha prima-irmã. Minha tia foi mãe solteira, então ela e a filha sempre moraram com a vovó. Eu e a Lorena temos a mesma idade, nossa diferença é de apenas meses, ela nasceu em janeiro e eu em agosto. Crescemos juntas e nunca nos desgrudamos uma da outra.

Já na adolescência, passei a participar ativamente do preparo da comida da casa. Eu ouvia atentamente as recomendações da minha avó, sobre o tempo correto para deixar a massa do pão descansar ou as batidas perfeitas para fazer claras de neves... Com o passar dos anos passei a transcrever esses seus ensinamentos para um caderno. A curiosidade juvenil me fizera explorar novos ingredientes. Eu frequentava o mercado municipal junto com ela, experimentava os temperos e as frutas exóticas e assim passei a realizar as mais loucas combinações, tornando a cozinha era meu laboratório.

Quando as pessoas me perguntavam o que eu gostaria de ser quando crescer, eu respondia de imediato: Chef de cozinha! E eu estava quase lá. Hoje Eva Prado é Souschef auxiliar direto do chef e sua substituta imediata.

Trabalho arduamente desde o estágio no curso de Gastronomia. Comecei como a menina que picava legumes e limpava os peixes e cheguei a elaboração dos pratos assinados pelo chef. Aos vinte e quatro anos me sinto praticamente realizada, pois tenho um emprego com perspectivas de crescimento e pela primeira vez na vida tenho um carro zero. E daí que ele foi financiado em infindáveis prestações e que era um modelo popular? Pelo menos tinha ar-condicionado e cheiro de carro novo.

— Eva, terra chamado Eva.

— Desculpa, Sr. Torriceli não vi o senhor se aproximar.

Luiz Torriceli é o dono do restaurante onde trabalho. Um brasileiro de coração, nascido na Itália, que largou sua vida lá pós se apaixonar perdidamente por uma mulher do país do samba.

Belo Mentiroso - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora