Capítulo 38

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Hayley Blake


Havia perdido a noção do tempo. Minha mente estava confusa e meu raciocínio lento, estava faminta, com sede e dor. Sequer tinha energia para pensar em uma forma de me livrar daquelas correntes, o acônito bombeando em meu sangue era como um veneno, queimava.

Eles haviam me drogado novamente com a mesma erva paralizante que tinha na bebida que Nick me ofereceu. Os membros do meu corpo ainda estavam dormentes, minha língua amargava. Não conseguia ouvir a voz da minha loba, o acônito estava a matando lentamente, sequer conseguia senti-la dentro de mim.

Tempo, eu precisava de tempo para recuperar minhas forças e pensar como conseguiria me soltar e destruir aquele covil. Eu não esperaria que Jackson me encontrasse, não coloquei aquele plano em ação esperando que ele fosse me resgatar, estava no meu direito acabar com o bando de desgarrados.

Fechei meus olhos e tentei relaxar meus ombros tensos, tentaria descansar por algumas horas antes que Nick ou o parasita sanguinária voltassem, precisava do máximo de energia para enfrentá-los. Soltei um suspiro profundo e inclinei minha cabeça, permitindo que o cansaço me apagasse.



Quando abri meus olhos, notei que estava em um lugar diferente, em uma casa familiar, o lar de Peter e Melissa, onde eu morava há algumas semanas. Franzi o cenho, meu coração batendo com força com a sensação tranquilizadora que aquela casa me transmitia, caminhei até a porta da sala e toquei a maçaneta, quando uma onda de um poder desconhecido chamasse minha atenção.

Engoli em seco antes de me virar e encontrar uma raposa no meio da sala, ela não era uma raposa comum, seus olhos brilhavam como fogo, sua pelagem laranja vibrante. Uma aura poderosa a envolvia, contei sete caudas com pontas brancas brilhantes, três soltavam faíscas de eletricidade e as outras quatros estavam cobertas de fogo. Estremeci com o peso no ar que ela causava, um ser de imenso poder, uma criatura rara.

-Hayley-uma voz suave ecoou em minha mente.

-Como me conhece?-indaguei na defensiva, recuando um passo e esbarrei na porta.

A raposa avançou em minha direção, seu andar era suave como o vento, seus olhos de fogo estavam cravados em mim.

-Não precisa ter medo.

-Quem é você?-perguntei entre dentes, arrisquei um passo para frente e meu tornozelo falhou, me apoiei na parede para não cair. Olhei para baixo e encontrei o pedaço de prata fincado em minha pele, o sangue pingava no chão.

A raposa continuou me encarando com curiosidade, parecia esperar por alguma coisa, algo nela me trazia uma estranha sensação familiar, não consegui identificar o que era. Tentei chamar minha loba dentro de mim e o esforço a fez soltar um baixo ganido de dor em minha mente, ela estava fraca demais, eu poderia matá-la se forçasse uma transformação.

-O que você fez comigo?-perguntei num rugido monstruoso, uma força desconhecida fluindo de dentro de mim fez a casa tremer, até a raposa recuou com aquele poder estranho, atordoada.

Lutei para sufocar aquela escuridão sombria, manter adormecido aquele monstro sanguinário, impiedoso e cruel. Ainda não era o momento de libertá-lo, não, ainda não.

A raposa sacudiu a cabeça, se aproximando novamente.

-Não me reconhece mais, loba selvagem?-voltou a indagar. -Pense, Hayley, acredito que não tenha amizade com muitas kitsunes-ironizou o animal.

Aquele deboche no tom de voz apenas pertenciam a uma única pessoa, um sorriso largo de alívio se abriu em meus lábios ao reconhecê-la.

-Clary!-quase chorei de alívio, podia jurar que um lampejo de satisfação atravessou seu rosto. Um forte clarão de luz a cobriu e eu precisei fechar os olhos para não ser cega pela luz ofuscante.

Sangue Puro: A última Labonair ( Livro 1) - FINALIZADOOnde histórias criam vida. Descubra agora