Sangue Puro: A última Labonair ( Livro 1) - FINALIZADO

Capítulo 63

HAYLEY BLAKE

Recomeçar nunca foi algo fácil. 

Desapegar das amarras, quebrar os vínculos do passado e seguir em frente sempre foi desafiador. Mas a pior parte era lidar com as cicatrizes das feridas que nos foi causado há muito tempo atrás. 

A luta por nossa liberdade nos custou um alto preço. Todo o sangue derramado, cada noite de lágrimas, a dor da perda e da traição roubou a inocência que eu tentei preservar nos últimos anos. Eu precisaria lidar com meus demônios internos mais agressivos do que nunca, a escuridão que sussurava em meus ouvidos era tentadora. 

Na calada da noite, eu acordava gritando em meio as lágrimas, atormentada por pesadelos e lembranças ruins, permanecia abraçada ao meu parceiro, o rosto em seu peito, para me certificar que ele estava bem, que tínhamos vencido nossos inimigos e finalmente podíamos aproveitar de um pouco de paz e tranquilidade. Eu sabia que Jack ficava acordado durante a noite, incapaz de adormecer e esquecer do sangue que manchou suas mãos. Ele me segurava em um aperto firme quando estávamos juntos, para ter a certeza que eu não fosse tirada dele novamente.

Nas semanas seguintes a conquista da cidade, toda a matilha dos Crescentes lutou para se reestabilizar no território. Tivemos que expulsar o restante dos vampiros revoltos pela morte de Dorian e os bruxos vingativos pelo assassinato de Gaspar. Lidamos com aquela ameaça e calamos a voz de uma possível rebelião. Várias casas foram desocupadas e ocupadas pelos lobos, construíndo lares seguros para suas famílias, firmando suas raízes na cidade. Não foi uma tarefa fácil, mas com muito custo estávamos conseguindo florescer novamente em uma terra manchada de cinzas há muito tempo atrás.

Aiden mal ficava em casa, estava sempre junto do povo, envolvido em reuniões e encontros, criando um relacionamento de lealdade e confiança com os lobos. Meu irmão estava extasiado com os últimos acontecimentos, ele tinha começado com um novo projeto de construir pequenas casas e chalés para os lobos que insistiam em viver na floresta, mantendo-se longe da civilização humana. Rebecca o acompanhava na maioria das vezes, manter-se isolada em casa somente aumentaria a dor da fêmea, então ela se empenhava em ajudar as crianças órfãs dos Crescentes. Minha cunhada tinha se aproximado da matilha de fêmeas lideradas por Kimberly, conviver com elas fez bem a loba.

Um mês depois da conquista de Nova Orleans, eu finalmente podia dizer que tudo finalmente estava se estabilizando, como sempre deveria ter sido, mesmo que pisar naquela cidade despertasse fantasmas do meu passado.

Sacudi a cabeça, mordendo o lábio inferior diante do vestido de cetim preto com alças finas que eu havia escolhido usar naquela noite. Jack me levaria para jantar no French Quarter naquela noite. Havíamos tido tantos compromissos no último mês que eu não me recordava da última noite que passei junto do meu parceiro, deixando de lado nossas responsabilidades e desfrutando da presença um do outro. 

Cantarolei ao prender os pequenos brincos brilhantes em minhas orelhas. Batidas na porta soaram pelo quarto.

-Pode entrar.

Rebecca enfiou a cabeça dentro do quarto e sorriu levemente ao me ver. Desde a perda do filhote, eram raros os momentos que eu via minha cunhada sorrindo verdadeiramente.

-Você tem um minuto?

-É claro, Becky.

Borrifei um pouco de perfume na minha pele e fiz uma careta com o cheiro forte. Rebecca adentrou o quarto, hesitando e se sentou na beirada da poltrona perto da janela, batendo o pé freneticamente no chão.

-O que foi?

Deixei o vidro de perfume sobre a penteadeira e caminhei descalça até minha cunhada, me sentando na cadeira ao lado dela.