Capítulo 6

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GUSTAVO NARRANDO

Depois de ter sonhado com a Cecília sem ter a menor noção do que estava acontecendo, resolvi ignorar completamente aquilo. Era desejo, só isso. Ela nunca poderia ser minha, e tudo bem. Segue o baile, como meu amigo João gosta de falar.

Porra, mas que ela é linda, ela é.

Não, gostosa, porque é só o exterior. Não a conheço bem o suficiente para chamá-la de linda, já que pra mim é a deliciosa combinação do interior com o exterior. Ela tem uma casca linda, realmente. Mas pensando melhor, não tem muito peito igual a Luciana, nem tanta bunda. O que foi que eu vi nela, caralho? Ah, já sei, o temperamento horroroso. 

Rio pra mim mesmo enquanto escovo os dentes para passear lá fora e dar um rolê pela cidade. Se bem que nem tem muita coisa a essa hora, gosto de andar por aí sem destino mesmo. 

Ao sair do quarto, por coincidência, encontro Cecília saindo do dela. 

Ela fica vermelha ao me ver, o que não é pra menos. Eu vi aquele corpo delicioso enrolado numa toalha levemente molhado e...

Foco, caralho.

Foco.

"Oi, Cecília... er... tô saindo pra dar aquela volta por aí que te falei... er, quer vir junto? Sua dor de cabeça melhorou?"

Ela sorriu amarelo claramente se amaldiçoando por ter calculado mal o tempo pra sair e passar despercebida. Eu sorrio sarcástico. 

Nesse momento minha mãe - muito discreta - , aparece: 

"Ciça, minha querida, você deveria sair com Gus! Ele vive saindo sozinho por aí e sempre me pergunto que que ele está fazendo, você indo com ele poderia me passar um relatório depois" e dá uma piscadela cúmplice para Cecília. 

"Ah, tia, sabe o que acontece... eu não tô muito animada não". Fala Cecília, com a voz triste. Reparando bem nela, percebo o nariz vermelho e os olhos inchados, ela devia estar chorando a tarde toda. Foda.

"Ciça, sua mãe me deu uma missão ao deixar você vir para cá. Independente do que está acontecendo na sua vida agora, você deve se alegrar, meu amorzinho! Se não for sair com o Gus, quero que você passe uma tarde no salão comigo, então!"

Cecília arregalou os olhos azuis igual dois pratos, e ficou olhando da minha mãe pra mim, e de mim pra minha mãe como se estivesse entre a cruz e a espada. Fiquei olhando para ela sarcasticamente à espera do parecer, ir comigo que ia respeitar que a vida dela tava uma merda no momento ou ir com a minha mãe que não entendia o significado de luto e ia jogar confetes em cima dela se necessário para "levantar o astral". 

"Tia, eu estava querendo comprar uns clipes numa papelaria, aproveito e dou uma volta pela cidade com o Gustavo. Tudo bem?"

A minha mãe bate palmas, animada. 

"Claro, querida! Gustavo vai levar você para o festival que está tendo na cidade, um circo está uma temporada aqui, e é simplesmente maravilhoso pelo que me contaram". 

Cecília sorriu forçada, mas ainda assim, que sorriso... puta merda. Tô tendo pensamentos libidinosos de novo sobre a minha PRIMA? 

Bufo irritado comigo mesmo. 

E a atenção de Cecília se fixa em mim tão logo eu bufo. 

"Gustavo, te incomoda se eu for?" Ela questiona, achando que bufei porque ela vai comigo. 

"Não. Leve um casaco, lá fora está congelando. Te espero no carro."

Ela me olha como se quisesse me estrangular e me achasse um ogro. Eu sou um ogro. E preciso manter a distância dessa menina, senão ela realmente vai ter um motivo para se queixar e querer sair de casa. Se eu ficar com ela uma vez... seria bom pensar que ia ser só pra matar a curiosidade e nunca mais, mas eu sei que vai ser mais que isso. Essa garota... se eu deixar, ela vai me conhecer um pouco bem demais. 

Amor,Where stories live. Discover now