Perfeitamente Perfeita Para Lutar e Tentar Se Recuperar!

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Assim que Zelena e eu nos sentamos no sofá senti-a tensa. Seus olhos focalizaram o nada e ela se prendeu nas memórias de seu passado. Eu fiquei observando-a enquanto comia um pouco da torta de maçã que estava na geladeira. Provavelmente minha namorada havia feito no dia em que chegara, enquanto me esperava.

–Então, Emma... – minha cunhada começou. – A sua namorada sempre foi uma pessoa criativa e sempre foi nosso bem mais precioso. Quando o homem que me fez foi convocado logo o pai dela apareceu e eu sempre gostei demais dele. Henry faz com que eu me sinta filha dele também. E sempre foi assim! – Ela abriu um leve sorriso enquanto olhava para suas mãos. – E quando mamãe veio me contar que tinha um feijãozinho na barriga dela... Ah Emma, eu me senti mais feliz que mamãe até. Sempre sonhei em ter uma irmã para brincar de boneca todos os dias, para ajudar mamãe a escolher a roupinha que ela usaria, para ficar agarradinha nas noites de chuva... – os olhos dela marejaram. – E quando mamãe confirmou que era a nossa Regina que estava vindo eu quase surtei. No dia em que ela nasceu eu era a mais nervosa e ansiosa. Até me deram calmante no hospital. – Nós duas rimos da afirmação dela. – E eu tenho orgulho de dizer que a minha linda irmã só foi abrir os olhinhos quando eu a peguei e, de brinde, o primeiro sorriso dela foi para mim naquele mesmo instante. – Uma lágrima rolou. Era tanto amor ali... – Ao contrário do que a família inteira imaginara eu não me roí de inveja por Gina chegar e ser a mais paparicada. Regina é a pessoa mais importante da minha vida, Emma! Pode parecer exagero, contudo eu a amo mais do que amo a nossa mãe. Quando o homem que me fez voltou e destruiu tudo aquilo fazendo com que mamãe tivesse de largar o pai da Gina eu me senti na obrigação de protegê-la por Henry e eu dei o meu melhor. As férias na casa dele eram sempre as melhores! Nós duas aprontávamos todas e mais algumas... Até ela completar sete anos. Tudo pareceu ruir de vez! Henry internado, mamãe ficando cada vez mais fora de casa para nos sustentar e a Gina mudando repentinamente. Eu sabia que ela era tímida, por vezes arisca, porém aquilo nunca acontecia comigo! Era como se, perto de mim, ela fosse outra pessoa! Sorridente, brincalhona, adorava contar histórias para mim... Até àquela tarde em que eu tive de ir para a casa de uma coleguinha. – Ela fez uma pausa, puxando o ar para os pulmões com força. – Quando eu cheguei e mamãe pediu para eu ir ao nosso quarto tentar animá-la eu não tinha ideia de que meu feijãozinho estava tão mal... Ela dormia, porém era visível que tinha chorado e que sentia alguma dor.

Ela não conseguiu prosseguir e eu segurei sua mão. Regina me contara sua história resumidamente, sob efeito de remédios, porém Zel estava contando como descobriu que a pessoa mais importante de sua vida havia sido violentada.

–No outro dia ela implorou para eu não lhe deixar sozinha, mas aquele maldito deu um jeito de me tirar de casa. Ao chegar ela estava no jardim, deitada em posição fetal, chorando. Ela não se lembra disso, mas eu sim... Regina pediu para morrer. Pediu para eu matá-la. Aquilo doeu tanto em mim, Swan! E não saber os motivos era ainda pior. A partir daí ela se escondeu até de mim. A minha irmãzinha criativa e alegre morreu. Enquanto suas notas no colégio eram as melhores por usar os estudos como escape, seu psicológico foi morrendo. Quando ela finalmente contou tudo ao pai Henry eu me senti a pior pessoa do mundo. Senti-me falha. Eu não a protegi, Emma. Eu não consegui protegê-la, não consegui enxergar o que estava debaixo do meu nariz. – Olhou para mim com tanta dor nos olhos claros que senti meu coração falhar uma batida. Abracei-a fortemente. Zel logo se recompôs – Para piorar ela sempre sofreu bullying! Quando nós nos mudamos eu achei que aquilo ia parar, porém só piorou. Ela se tornou coroinha na paróquia que se localizava a três quadras da nossa casa e eu pude ver um raio de luz em meio à escuridão. Ela sempre amou a igreja. Na primeira vez em que ela serviu o padre veio falar conosco. Ele já queria avisar que minha Sis seria ministra da eucaristia assim que completasse dezoito anos porque ele via mais amor por Cristo e pela igreja nela que em muitos padres... – Zel sorriu. – Você já imagina como ela ficou, não é? Porém, quando completou quinze anos, notou que não era heterossexual... Aquilo foi torturante para minha irmã! O julgamento dos religiosos foi deveras pesado. Queriam expulsá-la da paróquia, contudo nosso padre não permitiu. Ele sabia do passado dela e sabia como aquilo era importante. Sobretudo ele também sabia que não era Jesus Cristo para julgá-la! Aquele padre foi quem fez Gina enxergar que não era uma aberração e nem que queimaria no fogo do inferno por ser homossexual. Quando ele veio a óbito ela sofreu demais. – Suspirou. – Quando minha irmã conseguiu finalmente se aceitar e começar a enxergar a vida com novos olhos os religiosos de plantão do colégio dela resolveram que iriam curá-la de sua opção sexual. – As lágrimas caíram novamente. – Ah, Emma... Fui eu quem a encontrou num beco imundo, semimorta. Eu nunca senti tanta dor na minha vida! Regina era a pessoa mais magnifica que eu conhecia, e que conheço até hoje, mas as pessoas ao redor nunca enxergaram isso. Nada nesse mundo justifica o que aqueles seis indivíduos fizeram! E eu achei a pena deles tão ridícula! Até os dezoito eles viveriam em prisão domiciliar e pagariam serviço comunitário, a partir daí cada um cumpriria seis anos de prisão. A minha revolta foi tamanha que tivemos de nos mudar às pressas por eu cruzar com a namorada de um deles, que havia ajudado em tudo, e quase a matar. Eles nunca entenderão o sofrimento que nos atormenta até hoje! Nunca! – Falou entre soluços.

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