1 - Areia de sangue

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— ME DEIXEM PASSAR! EU QUERO FICAR AO LADO DELA! — Gaara investia contra a porta sendo impedido por seus dois irmãos que, com tudo o que tinham, tentavam acalmá-lo. Ele não podia usar sua força contra eles, mas precisava desesperadamente romper a barreira que o separava da esposa. -Vocês não entendem. Ela não pode passar por isso sozinha. Não dessa vez.

— Gaara, eu entendo. Também sou mulher, mas não há nada que você possa fazer. — Temari segurava o braço do caçula. Era a irmã mais velha e mesmo que estivesse impotente no momento queria passar firmeza e demonstrar que tudo ficaria bem, mesmo que seu coração esperasse o pior.

Ele não ouviu nada do que ela lhe dissera, nem sabia se seu outro irmão tentava persuadi-lo também, tudo que entrava por seus ouvidos eram os gemidos baixos que atravessavam a porta. Narumi devia estar se contendo para não gritar, ela era sempre tão forte. — Lembrava-se das noites em que ela saia da cama escondida, depois de um dia inteiro agindo como se nada a abalasse, fugindo para o banheiro, chorando baixinho — Forte, porém não indestrutível. Não merecia passar por tudo aquilo sozinha.

De repente o largo corredor que dava acesso ao quarto começou a parecer menor, cada vez mais estreito. Gaara olhou ao redor percebendo que as cores — antes uma mistura de amarelo areia, do piso e paredes, e tons de azul da decoração — começaram a parecer todas tons de roxo, sua visão ficava turva.

— Me desculpe irmãozinho, eu não tive escolha — Kankuro disse enquanto aparava o corpo amolecido do irmão. — Temari me ajude a levá-lo para um dos quartos de hóspedes.

— O que... você fez comigo... Kankuro? Eu... eu... quero ficar com ela... — Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Gaara adormeceu sob o efeito da droga que lhe foi ministrada.

— Kankuro, você ficou louco? O que deu para ele? — Temari desesperou-se, sem saber se aquela havia sido a melhor escolha. — O que acha que vai acontecer se ele acordar depois que o parto já tiver acabado?

— Acalme-se! O efeito é rápido. O que usei foi algo leve, apenas para ele se acalmar até a Sakura chegar. Quando ela estiver aqui, perguntamos o que fazer com ele. Agora só nos resta rezar.

Desde o início dessa gestação, Narumi seguia à risca todas as ordens de Sakura, controlando até mesmo seu ímpeto e permanecendo em repouso absoluto no leito de seu quarto a partir do sexto mês. Agora sentia seu esforço sendo desperdiçado, juntamente ao sangue que escorria por suas pernas manchando os lençóis.

Seus olhos passearam pelas paredes, observando os tecidos estampados que havia pendurado, eram os mesmos que sua mãe havia bordado a mão, anos antes de morrer. Havia se esforçado em trazer um pouco da Vila da Névoa ao ambiente através da decoração, então pensou que olhar ao redor seria reconfortante, mas foi pior. Queria tanto estar em casa agora. — O povo de sua vila é muito orgulhoso e presa por suas tradições, por mais que tivesse deixado tudo para se casar, lar sempre seria a Névoa.

— Seja forte, Yagura, pela mamãe. Se eu não aguentar, quero deixar um pedacinho meu para o seu pai, por favor. — Narumi sussurrava para a barriga.

Em Kirigakure há uma tradição muito antiga que Narumi aprendeu de seus pais. Quando uma nova família surge através do casamento, o casal ganha um colar com duas pedras coloridas que representam o noivo e a noiva. A do homem é vermelha, para lembrar o sangue que corre pelo corpo ou que jorra na batalha. A da mulher é azul, para lembrar a suavidade que esconde a tormenta sob sua superfície. Mais pedras são adicionadas sempre que um filho nasce e, ao mais velho, será entregue o colar da família quando os pais falecerem. Se esse tiver filhos homens passará ao primogênito, senão ao sobrinho. No dia em que a linhagem masculina acabar, ou seja, só houver mulheres que morrem ou casarem e o sobrenome da família deixar de existir, esse colocar é lançado ao mar, pois aquela família acabou. — Narumi lançou o colar Namikaze no dia em que se casou com Gaara, agora temia que seu pequeno cordão Sabaku, não tivesse chance de atravessar gerações. Fechou os olhos recitando uma oração, pensando em dias melhores que haveriam de chegar. Entre seus dedos o colar com duas pedras transparentes dos bebês que nunca nasceram.

Família Sabaku - MenmaNGWhere stories live. Discover now