2 - O Yagura é de vidro, os trigêmeos de borracha

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— Gaara, podemos conversar um instante? — Sakura trazia Sasoshi nos braços e tinha uma expressão triste ao dar três batidas no batente da porta do escritório, afim de chamar a atenção do ruivo que examinava um documento.

— Aconteceu alguma coisa? A Narumi... — Ele se levantou da poltrona, mas acalmou-se ao vê-la negar com a cabeça e ir em direção ao sofá. — Desculpe. Tenho andado muito nervoso com tudo o que aconteceu.

— Entendo perfeitamente. Não vim dar nenhuma notícia ruim só estou preocupada com você. Notei que ainda não foi ver o Yagura e já faz nove dias desde que liberei ele da incubadora. — Sasoshi puxava a blusa da mãe pedindo para mamar, um chorinho irritado começando.

— Eu não sei bem o que fazer. Ele é tão pequeno e frágil, tenho medo de machucá-lo. Prefiro esperar a Narumi estar bem para me ajudar com isso. — Ele fechou os olhos, estava exausto.

— Vou te dizer a mesma coisa que falei para o Sasori quando nosso filho nasceu: É compreensível estar com medo e ninguém vai te julgar por isso, a Narumi também está, mas o seu filho precisa de você e ninguém pode te substituir nisso. — Sakura estava morando com a família Sabaku nessas primeiras semanas pós-parto, afim de dar apoio como médica e amiga à Narumi. Era inevitável se intrometer em questões como essas.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, cada um pensando na própria vida e nos caminhos estranhos que trilharam até aquele momento. Gaara observava o pequeno Akasuna com seus cabelos vermelhos e imaginava como estaria seu filho agora que havia ganho um pouco mais de peso.

— O Sasoshi está quase pegando no sono, posso colocar ele no berço e te ajudar com o Yagura se quiser.

Gaara apenas agradeceu com um movimento de cabeça, depois tornou a se perder nos próprios pensamentos. Narumi carregava consigo o pingente que representava os dois outros filhos que fizeram, mas ele não conseguia pensar neles como ela fazia, era como se não fossem reais, mas Yagura era, estava ali e precisava dele. Aquele seria seu último momento de covardia, prometeu a si mesmo.

O berço não ficava no quarto do casal, porque era difícil demais controlar Narumi que, mesmo doente, saia da cama ao menor ruído ou falta dele. Assim Sakura achou melhor que ficasse com ela e seu filho no quarto de hóspedes. Sasoshi parecia sempre curioso com o vizinho, mas por ser muito maior ainda não os deixavam interagir com medo de machucar o recém nascido.

Eles entraram com cuidado, sem saber se Yagura dormia. O pai prendeu a respiração e aguardou a uma distância segura esperando que ela trouxesse o bebê para si, mas enquanto Sakura ninava o seu, o de Gaara começou a chorar.

— Acho que ele precisa de alguma coisa. — Olhou para a mulher que não lhe deu atenção, parecendo muito entretida em uma conversa inteligível com o Akasuna. — Sakura, tem algo errado com ele!

— Fome. Esse choro desesperado sempre é isso. — Sasoshi estava bem alimentado, mas se o amiguinho estava chorando devia ter um bom motivo, então seguiu o embalo.

— Me ajuda!

— Eu gostaria, mas só a Narumi vai poder fazer isso. Ela tem tudo que ele precisa. — Sentiu-se mal ao ver o desespero de Gaara, mesmo assim preferiu deixar ele aprender a lidar com aquilo sozinho, afinal não estaria ali muito mais tempo. — Lembra do parto? Você segurou ele um pouco e fez direitinho. Só lembre-se de apoiar a cabeça.

Com cuidado, estendeu os braços para pegar o filho. O medo era tanto que mal começou a ergue-lo, colocou de volta. Respirou fundo e olhou para Sakura que o encorajava com um movimento com a cabeça. Tornou a pega-lo e dessa vez conseguiu ir até o fim.

— Ele tem os olhos iguais aos da mãe. - Estava bobo com aquele ser que parecia tanto consigo. Mesmo o choro insistente era emocionante, lembrando que depois do sofrimento que tiveram seu filho estava vivo e bem.

— Gaara, leva ele pra mamar antes que a mãe dele saia da cama outra vez. — Era bom vê-lo assim.

— Certo. Vamos ver a mamãe? — Beijou a testa do Yagura com cuidado antes de sair do quarto.

Andava com cuidado, não queria sacudir, tinha a sensação de que ele quebraria a qualquer instante. O choro atraiu a atenção de alguns empregados que chegaram de todos os lados da casa ajudar e foram parando ao ver o Kazekage. Todos pareciam estar prontos para pegar a criança a qualquer momento, como se ele não fosse capaz de carregar o próprio filho. Aquilo o deixava ainda mais inseguro enquanto caminhava pelo corredor que, não era tão longo, mas parecia não ter fim naquele momento.

— É o Yagura que está chorando? — Narumi saiu do quarto de camisola, com seus enormes cabelos extremamente bagunçados e uma expressão furiosa que assustou a todos exceto seu marido. — Amor, você pegou ele sozinho?

— Vai deitar. Eu já vou leva-lo para você. — Ele sorriu orgulhoso pra esposa que estava se desmanchando em lágrimas.

Os espectadores daquela cena torciam o nariz achando tudo muito dramático, uma típica atitude de Narumi que parecia contagiar o Kazekage deles. Não eram capazes de entender a dor e alegria que os dois compartilhavam e, por isso mesmo, o casal os ignorou ao trocar um beijo no momento em que Yagura passou para os braços da mãe.

— Você foi incrível, mas da próxima vez venha mais rápido pra não deixar meu filhinho passando fome. — Ela se dirigia à cama para amamentar.

— Queria conseguir ter a sua confiança para cuidar dele. — Gaara observava o modo cuidadoso porém desatento com que ela movia o bebê. — Acho que vou sempre tratá-lo como se fosse de vidro.

— Você acostuma uma hora.

Aproximadamente seis anos depois.

Gaara sacudia Karura tentando fazer a pequena manhosa parar de chorar, quando Shukaku resolveu que um prendedor de cabelos parecia um delicioso petisco antes da mamadeira e ele teve de usar o braço mais livre para disputa-lo com o filho. Tentava se concentrar no que fazia, mas o berreiro da mais velha não o deixava pensar. Começou a cantarolar a primeira musica que lhe veio a mente, o que só deixou os bebês ainda mais atiçados.

Não teve escolha, colocou a filha no trocador ao perceber que perdia a luta contra Shukaku e que o menino já quase engolia o elástico do adereço. Precisou forçar o pequeno queixo para baixo e depois puxar o objeto para fora, o qual arremessou para um canto qualquer do quarto. Para o desespero do ruivo, o filho se juntou a irmã no choro.

— Por favor, acalmem-se. Vocês já deixaram a mamãe doida ontem. — Pegou Karura com um braço e Shukaku com o outro, balançando as crianças com mais força do que de costume. — Papai vai levar vocês três para a brinquedoteca e... — Três? Amaya estava quieta demais.

Gaara viu tudo em câmera lenta. Amaya estava na beirada do trocador, puxando insistentemente o rabo de uma pelúcia que pendia de cima do guarda-roupa, até que finalmente o brinquedo se soltou e caiu sobre ela fazendo-a perder o equilíbrio e mergulhar de cabeça para o chão. Ele foi rápido o suficiente para impedir a queda, mas com os dois braços ocupados teve de usar a areia e, mesmo com sua habilidade só conseguiu segurá-la pelo tornozelo.

— Narumiiiii! — Era demais, os três choravam, uma filha pendurada, precisava de ajuda. — Socorro!

A porta abriu e por ela não passou a esposa que aquela hora estava trabalhando, mas Yagura que segurou Amaya e tentou acalmar o choro da irmã.

— Pa-pai, o que vamos fazer? — O menino tinha a mesma expressão de preocupação que o mais velho.

Gaara deu um beijo no topo da cabeça do Yagura, grato por ter um filho tão prestativo e comportado, mesmo que ainda muito novo. Respirou fundo e caminhou para o sofá de dois lugares no canto do quarto.

— Consegue acalmar dois enquanto troco a fralda de um?

Família Sabaku - MenmaNGWhere stories live. Discover now