I.I - Valentina

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(Música: Lovely - Billie Eilish)

A água já está fria e meu coração pulsa não forte que posso definir seu ritmo como algo bem irritante. Estou perdida em meus pensamentos quando o estalo da porta da sala abrindo me puxa bruscamente para minha realidade. Meu corpo sofre o tranco da oscilação entre navegar no passado e ser sequestrada para o presente.

Ethan chegou, posso sentir o seu perfume ir invadindo os cômodos de minha casa como um alerta sobre sua chegada.

Meus olhos se abrem com lentidão numa preguiça e demoradamente meus lábios se separam num desgrudar como se estivessem presos sobre cola, um suspiro é liberado por mim da forma mais pesada que consigo.

— Já vou! — digo num tom de advertência numa voz sobressaltada para que ele não ultrapasse a porta do quarto.

— Estou na sala... — responde o Ethan em seu timbre de adolescente e calmo.

Depois de segundos de procrastinação fiz questão de me levantar e sair daquela banheira. Puxo então minha toalha do gancho preso na parede e envolvo por meu corpo deslizando por cada parte até secar, logo me coloco a prender a toalha por baixo dos braços e deixá-la como um vestidinho em mim. Já estava prestes a sair, mas recuo os passos e retorno até a beirada da banheira, mergulhando minha mão pela água e buscando a tampa do ralo com a mão que, ao achar, puxo e deixo que a banheira esvazie sozinha.

Os cabelos estão limpos desde a noite anterior, eu estava numa crença ilusória de que iria conseguir ter mais tempo no dia de hoje, que poderia dormir um tempinho a mais. Queria apenas adiantar. Por um lado tive sucesso, por outro, nem tanto. Na frente no espelho largo a toalha na cama jogando-a, cai de uma forma desengonçada e parte dela fica pendurada na quina da cama enquanto a outra se forma em um tapete no chão. Visto meu corpo num robe de cetim e fico me encarando de cima a baixo no espelho que há no banheiro.

Quem sou eu? Esse questionamento martela minha mente sem nenhum remorso.

Deslizo a língua entre os lábios e sinto a aspereza da pele ressecada ali, agora amenizada com minha saliva, o que não era grande coisa. Me desconheço dentro de mim mesma e essa é uma sensação péssima, horrível. Foco em meus olhos como se eu estivesse tentando conversar comigo mesma e buscar mais ocasiões quais eu estivesse frente a frente com meu próprio ser. Um nervoso percorre por mim e levo as mãos frias em minha nuca e uma sensação esquisita se enrosca ali e acabo por meu arrepiar com meu próprio toque.

Minutos depois após brigar visualmente com minha aparência que não me agrada muito, resolvo sair do banheiro e quarto também. Sem muita pressa vou guiando meus pés em passos calmos para a sala e ao chegar por ali meus olhos observam o garoto ligeiramente forte e com os cabelos loiros escuros, quase que um castanho. Ele está jogado no sofá de um jeito tão largado que me impressiona, então o que está ao seu lado chama minha atenção de forma magnética. Uma maletinha pretinha, de alça tradicional com apenas o nome Ethan Parker escrito na tampa.

Ele percebe minha presença e vira seu rosto em minha direção, nossos olhos se cruzam numa conversa informal. Fixo meus olhos aos dele e fico analisando o que o tom de mel quer dizer. Hesito em perguntar devido aos inúmeros questionamentos que me vem a cabeça.

Tenho a impressão de que Ethan está com medo de hoje e não quer dizer absolutamente nada para mim. Embora preferido pela Ezel, eu conheço o nerd a minha frente. Ele tenta disfarçar de que está tudo bem, mas sinto pelo peso de seu respirar que, no fundo ele não quer fazer nada do combinado. Ele usa a sua melhor máscara então... O sorriso. Seu sorriso tenro é lançado para mim e eu não aguento, reviro os olhos sentindo uma leve e ligeira dor correr por eles.

INDUÇÃO - Causas, Efeitos, Consequências e Descobertas [Versão Projeto ]Onde histórias criam vida. Descubra agora