Pré-capítulo - Causas (Valentina)

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NOTA: Essa capítulo não está na mesma fase temporal que a história do livro, por isso entra como pré-capítulo para ser uma preparação de entendimento referente o terceiro capítulo em diante. Ao decorrer do texto será sinalizado a fase temporal da história narrada.
 Agradecemos a compreensão, boa leitura!


CAUSAS - VALENTINA 

Acho que será estranho contar algo que aconteceu tempos atrás, mas para que tudo se encaixe, vamos voltar a noite da minha morte. Para refrescar sua memória, eu havia saído do meu corpo numa projeção astral, está lembrado?

(Onze de junho - Flashback on)

(Música: The One I Love - Mirror Fury)


Agora estou olhando meu corpo deitado naquela maca após a notícia ter sido dada a Apolo e minha mãe, eles entram no quarto para se despedir. O pranto deles me atinge lá no meu profundo, mas eu precisava disso. Abraço eles, mesmo que não possam me sentir, e nem eu sentir eles. Nate sinaliza o tempo que ainda resta, eles dizem para que eu descanse em paz, e antes de sair daquele quarto minha mãe solta uma última frase. 


- Me perdoa por ter errado com você, se isso pudesse ter evitado sua ida. - Ela diz, acariciando meu rosto, deixando sua última lágrima cair sobre meu nariz.

Ela se afasta após o pedido de Nate, Apolo lhe estende o braço saindo com ela dali. Logo Nate pega o celular e toca rapidamente os dedos na tela numa sequência, assim, levando o celular a orelha. 

- Gregório?! Valentina já chegou. Preciso que Ethan providencie de mostrar a carta com a exigência de estilo do caixão dela. Agora vou levar ela pelos fundos. - Ele dizia no telefone. 

- Sim... O carro que arrumamos está aqui. - Ele responde. 

- Fechado, cara. Vou levar para a casa lá, te vejo la. Falou! - Ele se despede e desliga.

Nate me transfere para a maca móvel e cobre meu corpo com um lençol branco, vou andando ao lado dele, observando como ele era um ator perfeito, e que ele não deixava nenhuma evidência de que iria extraviar meu corpo para outro lugar. Saindo pelos fundos, aproveitando que já estava de noite e que os fundos do hospital não tem uma luminosidade favorável, com cuidado ele pega meu corpo no colo e caminha os últimos passos até o carro que já estava aberto, deitando meu corpo no banco de trás e indo para o lado do motorista. Como não estou numa forma real, atravesso a porta do carro e me sento pela frente. Assim, Nate vai para o lado do motorista e liga o carro, dando partida. 

- Quantos anos, hein Valentina... - Ele diz olhando meu corpo pelo retrovisor do carro.

Eu sabia que ele não me era estranho, dou uma franzida nas sobrancelhas.   

- E quem é você? - Pergunto, esquecendo que ele não podia me ouvir. 

- Eu queria te dar o melhor de mim, sempre te mandando as mensagens... - Ele suspira enquanto fala. 

- As madrugadas de conversas... Tudo significou para mim, mesmo que estivéssemos longe fisicamente. - Ele prossegue. 

- Eu nunca tive coragem de falar meus sentimentos por você, talvez seja por isso que nunca tive a oportunidade... E agora... Estou aqui. - Com os olhos atentos na estrada, vez e outra ele olhava para trás.

- Você parece um anjo assim, dormindo nessa paz. - Suspira fortemente.

- Você não vai se lembrar de mim, mas saiba que você ainda é meu vício e minha doença. Finalmente vou poder te ter. - Sorriu de um jeito insano. 

Fico tentando lembrar cada momento com Nate, na verdade pessoalmente foi somente um, os demais não passaram do campo virtual. Mas ele havia dito na última mensagem que não ficaria mais no mundo, e eu havia acreditado que ele tinha morrido. Quando meus olhos abrissem novamente, eu poderia conversar com ele e entender o que aconteceu durante esse tempo, e como ele me encontrou. Antes que fique confuso, deixo claro que meu corpo parou sim, mas devido aos efeitos do Vorglax, um remédio desconhecido que paralisa seu corpo, evidenciando a morte, mas ele dura por algumas horas apenas, sendo assim, meus órgãos continuam recebendo falsos estímulos para que continuem funcionando, pois meu coração para, mas meu comandante que é meu cérebro não. Nate me aplicou outra dose, mesmo que desnecessário, então o efeito da minha morte provisória iria durar por algumas horas extras. 

Sei que deve estar se perguntado o motivo de eu ter feito isso, o porque eu fiz pessoas sofrerem por mim. A resposta é simples, o ditado que diz sobre que só damos valor quando perdemos é o que responde as demais perguntas. Antes de ter a ideia de forjar minha morte, eu realmente tentei tirar minha vida, mas foi uma tentativa falha que não vem ao caso. Esse papo é sério, pessoas vivem tirando suas vidas pelo mesmo motivo que entre aspas tirei a minha, pelo peso do mundo. Mas qual é a definição do peso do mundo? Para mim foi estar sozinha, mesmo que eu estivesse rodeada de pessoas, e acredito que para outras pessoas, o peso é bem pior. Quando nosso coração está deprimido, não é atoa, sempre tem algo que atinge ele. Eu tinha uma vida perfeita aos olhos de pessoas que estão do lado de fora, apenas observando. Elas achavam que por estar na faculdade, por ter uma estabilidade financeira e por morar com meu namorado, que eu era feliz, que isso tornava minha vida perfeita. Por muito tempo tentei inibir a minha realidade por sempre ouvir a mesma coisa "Ah, você não precisa reclamar, você tem tudo!"  de tanto ouvir isso, comecei acreditar na minha ingratidão, e a me punir sentimentalmente por por isso, eu criei uma máscara para tudo que eu sentia. 

Eu fui aquele tipo de pessoa que estava rodeada de quem sempre dizia que eu não era nada, começando pela minha mãe que sempre disse que eu não teria utilidade para nada na vida, que eu iria sofrer, que eu não prestava. Não sou perfeita, disso eu sei. Mas ela dizia isso porque antes de eu nascer ela me imaginou num padrão dela, e eu não desenvolvi isso. Ela sempre teve em mente que eu seria dela e quando ela viu que eu estava saindo de seus braços e me tornando do mundo, ela se rebelou. Quanto as amizades, meu amados amigos sempre estavam nas críticas, Carolina, a que convivi por anos na escola, sempre me dizendo todas as manhãs sobre como eu era feia, que nenhum garoto ira gostar de mim e que eu nunca iria ser alguém na vida.No início eu não dava bola, mas chega um momento que a repetição e a insistência das palavras fazem sua mente guardar tudo isso, e quando você chega na frente do espelho e se olha, a sua mente diz o quão feia você é, o quão derrotada e invisível você é, e acredite, a mente não recita na voz de Carolina, ela recita na sua própria voz. 

O peso do mundo vai se formando  nisso, vai se formando nas pessoas que te colocam para baixo tantas vezes que te convence a enxergar de que você é ninguém. E mesmo que você suba um degrau, elas olham para você e te julgam, elas dizem que você não vai conseguir mais, e isso chega no ponto em que você questiona sua própria existência. O suicídio realmente começa por dentro, quando a sua vontade morre, quando você mesmo morre para você, quando você se olha no espelho e não se enxerga, quando alguém te chama pelo seu nome e você não se reconhece, quando você ouve sua própria voz mas no fundo não escuta nada, quando você gradativamente vai sumindo, se tornando a cada dia mais invisível a ponto de se perder das suas próprias vistas.

Eu fui sumindo a cada dia, eu estava no abismo, querendo muito eliminar meu corpo desse mundo, parar de ser um peso morto na vida de todos, de ser apenas um corpo ambulante. Eu não via mais a graça do mundo, eu não gostava mais de estudar, eu me sentia congelada. Chegou o ponto em que abrir os olhos, acordar e viver era um desafio, não uma vontade. Quando me notei assim, eu tentei olhar em volta e ver quem poderia estar ali, eu estava caindo do precipício, eu só precisava me segurar em uma mão para conseguir me erguer, e talvez me firmar. 

Planejei minha morte para todos aqueles que não me queriam bem saírem como vitoriosos e me esquecerem, assim tudo acabaria. Eu quis cair em esquecimento, porque aquela Valentina iria morrer como a fracassada, e então, a nova Valentina Castiel iria renascer, se erguer das cinzas. Eu morri para todos, e nasci para mim mesma. Eu deixei de pertencer ao mundo para me tornar minha. Nas ultimas semanas, antes de eu tecnicamente me matar, eu dei-me a oportunidade de me conhecer, eu me dei uma nova chance, pois percebi que ninguém merecia minha morte, ninguém merecia o meu fim. O mais gostoso é deixar que pensem isso, que entendam desse jeito. 

Coração habitado agora pelas trevas, pela insanidade e pelo doce sabor da justiça. No momento que meu coração voltar a bater, serei outra pessoa, totalmente diferente. Meu coração irá bater por mim, meus sentimentos serão voltados para mim, e todos os meus propósitos serão feitos para mim, e todos aqueles que um dia mataram uma partezinha de mim, serão apunhalados com a mesma quantidade de vida que retornarei. 

(Música: House on a hill - The Pretty Reckless)

Finalmente umas três horas e meia se passam, Nate chega na casa da colina. Estamos na cidade vizinha de Waryton, a casa é simples, mas é bem ajeitadinha por fora pelo menos. Nate estaciona o carro bem na frente da porta, então sai e me pega nos braços novamente, entrando comigo na casinha e assim me levando até um quarto e me deitando sobre a cama. Vejo ele pegar o celular, logo espio e vejo que era uma mensagem para Ethan, dizendo que eu já estava na casa. 

- E agora? Você aumentou a dose do meu remédio.... Quando é que vou acordar? - Ergo uma sobrancelha sentando ao pé cama, me observando desacordada.

Nate se senta perto do meu corpo deita, analisa meu corpo ali e sorri de canto. 

INDUÇÃO - Causas, Efeitos, Consequências e Descobertas [Versão Projeto ]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang