Capítulo IV.I - Ezel

195 15 302
                                    

— Ezel... nós precisamos ir, eu estou com você e vai ficar tudo bem... hoje tudo vai ficar bem. — diz Trevor de um jeito confiante enquanto me olha com atenção de deslizar seu polegar por minha bochecha. — Vamos, hm?! — insiste com seu olhar penetrante sob o meu, o que me faz apenas concordar e respirar fundo.

Crio aquela maldita coragem e me levanto, sinto tudo bater em zig-zag e uma pressão na cabeça. Sou obrigada a fechar meus olhos com força de forma que sinto meu globo ocular querer saltar dali, respiro fundo outra vez, esse fluxo de sentimentos me arranca o ar de uma forma que não consigo medir, ou explicar sei lá, está difícil até de falar. O que está conseguindo me manter de pé é o ruivo a minha frente, com seus olhos tão intensos que posso apostar cegamente que ele sabe mais do que eu e, que com toda a certeza está aqui por deduzir como posso reagir. Trevor esteve com o baú por um tempo, ele pode muito bem ter revirado, investigado, chegado até minha pista final antes de eu ter acesso a ela. O pior de tudo, e que mais odeio, é que eu não consigo desconfiar ou sentir raiva. 

— Trevor... a-antes da gente ir, preciso que me seja sincero com algo... — meus olhos se esquecem de piscar, tanto que ficam vidrados aos dele. — É sobre Valentina? — sinto um fervor no peito em apenas dizer o nome dela. 

O ruivo perde o brilho do olhar, como se estivesse sendo pego de um crime qual ele pudera ter participado. 

— Trevor. — insisto. 

— Não quero dizer, eu quero apenas que você descubra e saia bem daqui hoje. — sua calmaria chega a me irritar agora, posso sentir como se estivesse lançando chamas nele com minhas pupilas. — Você confiou em mim até agora, juro que não vou decepcionar... Não você. 

Filho da puta! Ele diz de uma forma tão segura que sinto a vontade de meter a mão em sua cara joga-lo contra a parede, socar seu rosto até deslocar seu maxilar e fazer ele me xingar. Bom, isso é o que parte de mim sente em querer fazer. Mas a outra parte quer apenas abandonar esse mausoléu todo e ir embora, com ele, esquecer de tudo e viver daqui para frente como eu mais desejo, nos braços dele, a mercê dos toques dele. Posso sentir meus olhos serem atraídos por seus lábios perfeitos e convidativos, mas logo em minha mente há uma distorção e posso enxergar aquela boca que tanto me atrai cheia de sangue escorrendo, merda, deve ser outras das alucinações. 

— Vamos logo. — é o que digo após descartar todos esses pensamentos divergentes. 

Trevor assente, logo puxa minha mão para a sua e eu fecho os olhos, desistindo de qualquer pensamento violento direcionado a esse ser do meu lado que me provoca sensações e pensamentos tão repentinos e as vezes até mesmo surreais. Olhando para nossos pés trocando os passos enquanto andamos, solto um riso meio abestalhado, embora as circunstâncias e o fato de eu estar em uma parte desativada de um manicômio, descobrindo um passado que fora apagado de mim, que até então eu nem conhecia, eu gosto de estar ali com ele. Sinto que não teria pessoa melhor a não ser o ruivo. Tempos anteriores, eu juraria que a única pessoa que poderia ficar ao meu lado em todos os momentos, seria Ethan e em tempos mais anteriores ainda, Perkins, que por sinal deve estar se dando muito bem na Roma, já que perdemos total contato. 

— Confesso que eu achava minha vida conturbada, até entrar na sua e descobrir as bordas ocultas que protegem ela. — ele comenta aleatoriamente, o que me faz levar a atenção para ele. 

— Como assim? — fico com meus olhos virados para ele, no aguardo da resposta. 

(Música: See You Again - Wiz Khalifa feat. Charlie Puth)

Ele não diz nada, apenas paramos na frente de uma porta que está entreaberta. Os olhos dele sinalizam para que eu entre. Dou uma franzida nas sobrancelhas e levo a mão aberta até a porta e empurro lentamente, logo sentindo um frio descomunal parecer me congelar inteira por dentro. A porta se abre o suficiente para eu ver o quarto degradado, o cheiro de velho do ambiente, a aparência desleixada, abandonada e esquecida. No centro, uma cadeira quase que com a madeira podre e uma mulher sentada, está de costas para mim. A luz que escapa pelos rasgos da cortina de tecido fraco reluz nos fios cobres da mulher e, não sei porque, mas toda aquela sensação ruim vai embora de uma forma indescritível, posso até sentir como se estivessem injetando energia dentro do meu peito de forma que aquele frio anterior estivesse sendo combatido por uma onda de calor avassaladora. Consigo ver de relance, pelas laterais que ela está de saltos chiques e roupas sociais, na hora Valentina me vem e...

INDUÇÃO - Causas, Efeitos, Consequências e Descobertas [Versão Projeto ]Where stories live. Discover now