I. II.II - Ezel

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(Música: In the End - Linkin Park)

Eu não consegui acompanhar Apolo até a porta, não foi por mal, mas é quase a mesma coisa que ver Valentina indo embora... outra vez. Ela era fortemente ligada a ele, só de olha-la já se sabia se estava tudo bem com ele ou não. Quem olhava para Valentina lembrava de Apolo porque ela praticamente andava com ele pregado na testa e, quem olhava Apolo lembrava dela. Coloco a carta sobre a estante e volto a me enfiar debaixo do edredom, tateando o sofá, passo a mão por baixo da almofada e lá está a pequena cartela de Natylumi, destaco dois comprimidos e com as mãos trêmulas jogo eles boca a dentro e engulo a seco mesmo, sinto descerem como se rasgassem minha garganta. Passo com minhas mãos até meu rosto e o esfrego com força sentindo meus olhos arderem mesmo fechados.

Sinto que estou prestes a surtar dentro dessa casa.

Pego meu celular que está na ponta do braço do sofá, nem mesmo dou tempo aos comprimidos para fazerem efeito. letargicamente Vou fuçando na lista de contatos até achar Ethan.

Espero que ele atenda, preciso que ele atenda.

— Ezel?! O que foi? — ouço a voz do meu nerd favorito e isso me faz suspirar de alívio.

Pelo menos eu ainda tinha ele.

— Ethan... eu.. eu preciso sair dessa casa, ou tenho certeza que farei o mesmo que Valentina. - respondo inquieta de forma que faz minha voz sair rouca.

— Ezel, NÃO! — rebate ele em uma rapidez que me assusta. — Se troca aí que eu já estou saindo daqui para te buscar. — completa o rapaz balançando as chaves no microfone do celular fazendo questão que eu ouça o barulho.

— Preciso beber, Ethan... — resmungo dengosa no telefone.

"Hoje mais do que nunca" — completo em pensamento.

— Certo, irei te levar... Mas quero que me responda uma coisa. Você não tomou nenhum de seus calmantes, né? — indaga ele com nítida desconfiança.

— Claro que não, Ethan. — minto a ele e sei que preciso ser convincente. — Venha antes que eu caia no sono, durma, e não acorde mais. — Acabo jogando a indireta para que venha logo. 

— Ezel, calma... por favor. Eu juro que já estou chegando. — finaliza ele desligando-se da chamada.

Deixo que o aparelho caia sobre meu colo enquanto meus olhos percorrem pelo lugar que estou. O ambiente largado e descuidado, esquecido, assim como todos fazem com os sentimentos das pessoas, esquecem.

 Posso sentir um peso surgir em meu corpo, os comprimidos já devem estar para começar a agir, é como se meu corpo fosse um computador obsoleto que recebeu vários comandos juntos e está executando tudo sem pressa. É assim que me sinto. Uma máquina saturada prestes a pifar. Não sei mensurar, mas em mais ou menos vinte minutos me levanto e vou me arrumar, esqueço a vaidade. Hoje não teria banho de perfume e nem mesmo uma maquiagem para mascarar as imperfeições da pele. Apenas coloco meu vestido preto básico e calço um all star surrado junto de uma jaqueta da mesma cor para completar minhas vestes. Tudo preto. Se era para desviar do luto, que ao menos eu vestisse ele.

Cerca de meia hora depois Ethan chega e buzina sequencialmente. Chego no portão e faço um sinal com a mão pedindo para que aguarde, assim ele vai saber que está tudo bem.

 Vejo na casa da frente tia Alice simplesmente brotar de forma furtiva em seu portão, com os olhos bem atentos e projetados para nós. Ela não passa de uma velha implicante que minha mãe deixou como vigia para a casa, e como ela gosta de fazer jus ao pedido, com toda a certeza ela reportaria essa situação a Itália. Antes que ela pudesse reclamar do barulho das buzinas, jogo meu corpo porta a dentro e cato as chaves, providenciando a saída rápida de casa. Enquanto fecho e tranco a casa, a maldita chave velha faz questão de me irritar quando fica presa na fechadura e emperra. Bufo e com muito custo consigo girar esse atraso de vida e fechar o portão de vez. Foram diversas tentativas frustradas de conseguir girar aquilo, cruzes. Ouço a porta do carro ser destravada e entro rapidamente para sair das vistas de tia Alice.

INDUÇÃO - Causas, Efeitos, Consequências e Descobertas [Versão Projeto ]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant