Capítulo 6

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Aportamos no Arquipélago dos Mortos.

Não sei muita coisa sobre. O arquipélago é habitado por doze clãs, cada ilha acolhe um. São uma civilização atrasada tecnologicamente mas próspera, eles rejeitam a tecnologia que temos e já guerraram muito entre si apesar de que hoje estão em paz graças a aliança formada. As ilhas são ricas dos mais diversos recursos  naturais. Os pilares desses clãs é a luta. De crianças a idosos, todos são guerreiros.

Assim que Lince e eu descemos do navio somos recebidas por um casal de guardas fortemente armados que guardava a costa. A mulher tem os cabelos loiros presos em tranças elaboradas para trás, usa uma armadura prateada e parruda, tem uma lança em mãos e a cintura repleta de facas. O homem é moreno e tem a cabeça raspada, tatuagens cobrem suas têmporas e ele usa uma armadura exatamente igual, lança na mão e facas na cintura.

- Quem são e o que fazem aqui? - a mulher pergunta com a voz firme.

- Somos viajantes. - Lince toma a frente, as mãos erguidas em sinal de paz. - Queremos falar com o líder do seu clã.

A mulher olhou para o companheiro. Ele moveu a cabeça.

- Sigam-nos. Deixem toda e qualquer arma no seu barco. Qualquer demonstração de violência vai ser fortemente retaliada. - o homem bateu a lança no chão e se virou começando a andar.

Dou as ordens para que a tripulação venha. Seguimos num burburinho contido, atravessando a praia e a mata.

Fico surpresa quando chegamos aos imensos portões. Parecem ter sido esculpidos no ferro, com letras de um dialeto que não conheço e desenhos de algo que se lido em ordem parece contar uma história.

Os sentinelas no alto das torres abrem o portão para entrarmos.

Somos recebidos por uma centena de curiosos, as pessoas abrem caminho para que passemos, elas usam roupas pesadas de peles, couro e tecido escuro. Está anoitecendo e a iluminação é feita por tochas e fogueiras.

Eles nos guiam até uma construção cilindrica e alta, que é escoltada a todo instante. Nossos guias falam com os guardas.

Entramos e subimos por rampas decoradas, com centenas de tapetes e quadros. Entramos num salão enorme onde há uma grande cadeira no centro, rodeada por 12 cadeiras menores.

Na cadeira do centro está sentada uma garota. Ela nos analisa com seus olhos amarelos como ouro, destacados pela maquiagem escura que cobre as pálpebras e têmporas. Os cabelos castanhos estão presos em tranças altas pela metade do cabelo. Seus braços são cobertos de tatuagens simbólicas. Ela usa uma espécie de vestido de peles. Os traços do rosto são delicados e jovens, arrisco dizer que ela é mais nova que eu, quase uma criança. O nariz é fino e a boca tem o lábio inferior maior que o superior, os olhos são uma explosão dourada e as sobrancelhas são finas. Ela nos observa com a calma de um guepardo.

É a líder deles.

Tenho certeza disso e não é pelo lugar que está, as roupas que veste, nem pela dúzia de guerreiros que a escoltam. Mas pela força que ela transmite apenas com um olhar.

Será que algum dia serei assim? Talvez eu precise.

- De onde vocês vêm, viajantes? E o que querem com os Doze Clãs da Morte? - a líder pergunta com a voz firme e fina, confirmando minhas suspeitas da sua idade.

- Viemos de Mondian e Evbád. Nossos reinos estão em colapso. Estamos tentando reverter isso. - me pego dizendo antes de Lince. - Precisamos de suprimentos que nos levem até Arnlev. Ficaremos por alguns dias se nos permitir.

Ela se inclina em seu trono rudimentar. Observando-nos como um animal. Permanecemos imóveis.

- Você. - ela diz ao se reclinar. Eu conheço você.

Todos murmuram ao mesmo tempo, eu sou a mais surpresa do local.

- Deve estar me confundindo. - deduzo dando um passo a frente.

Ela cruza as pernas, à vontade.

- Não estou. - ela fecha os olhos por longos segundos. - Vi você. Na minha mente. - ela franze a testa por um instante. Eu não sei do que ela fala. - Sua jornada é sombria. Temos algo em comum, desde muito jovens tivemos que arcar com nossos destinos.

Os tripulantes do Vingança a observam sem entender o que se passa. Eu estou quase no mesmo patamar.

- Podemos conversar sobre isso mais tarde se nos permitir ficar. - ergo a cabeça a fitando com intensidade.

- Já podem se instalar. Acredito que ficarão por um longo tempo. - ela diz enigmática. Os guardas começam a dividir-nos em grupos para levar até  nossos aposentos. - Você não. - ela ergue a não para mim. - Fique para que jantemos, Rayrah.

Movo a cabeça para o lado, desconfiada. - Eu não lembro de dizer meu nome.

- Não disse. - ela fecha os olhos como antes e murmura algo baixinho, como uma prece.

***

A mesa de jantar de madeira é tão comprida que mal posso ver todas as delicias servidas.

Jantamos em silêncio. A comida é deliciosa, rústica, com um tempero único.

Não consigo parar de pensar no que lider dos 12 clãs disse mais cedo. Como ela me conhece? Como sabe quem sou? Que história é essa?

- Acredito que muitas perguntas atormentem sua mente agora. - a voz leve dela preenche o silêncio, sentada do outro lado da mesa, ela me fita com seus olhos amarelos-ouro. - Nós duas passamos por muito para chegar a onde estamos.

- Não que isso seja uma boa coisa. - digo entre dentes. Ela assente.

- Eu te vi no Equilíbrio, Rayrah. - fico confusa com a afirmação, ela diz tão convicta que eu só posso ter ouvido errado. - Você faz parte de algo que eu jamais poderia explicar, eu te vi em meio ao universo. A ordem cósmica de passado e futuro, equilíbrio entre mundos, eu vi você sendo escolhida por ela. - ela diz com seriedade. - Sabe por que sou a líder dos doze clãs? - faço que não com a cabeça. - Porque os meus ancestrais foram os mediadores entre o Equilíbrio Cósmico e os homens.

Parece estranho ouvir. A menina é um enigma. As crenças de seu povo são espetaculares. Mas seriam reais? Ela continua:

- Posso sentir as vibrações do universo. Posso ver passado, presente e futuro. E no futuro vi você. - ela diz sem desviar os olhos de mim nem por um segundo. - Sinto a vibração universal que te rodeia. Rayrah... por que você fecha os olhos sem querer ver o que é? Por que finges não sentir os que se passa no seu coração?

Mordo o lábio com inferior com tanta força que arquejo.

- Você não sabe quem eu sou.

- Vi seu passado, seu presente e seu futuro. - ela troveja sem perder a calma. - Você pode salvar o mundo. Ou pode destruí-lo. De acordo com o que deixa florescer no seu coração.

- Como uma menina como você pode saber disso? - simplesmente não posso aceitar isso que ela diz. Não pode ser. Eu não sou isso.

- Sei porque já tive que escolher. Assim como o seu; o meu poder pode ser usado para qualquer fim. Mas escolhi isto. Escolhi o melhor para meu povo e estou feliz. - ela sorri. - Somos dois lados da mesma moeda. Fizemos coisas horríveis. Perdemos quem mais amamos.

Estreito os olhos. O meu peito se aperta, a angústia contida ameaça fugir.

- Qual seu nome afinal, Mediadora do Equilíbrio Cósmico? - suspiro estupefata com a menina-mulher que me encara com a sabedoria de uma octogenária.

- Ohnin. - ela sorri simpática. - Se passar algum tempo aqui, podemos aprender muito uma com a outra.

Sorrio também.

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O que acharam da Ohnin? (Lê-se Ôhinin)

Ela é uma personagem bem mística que eu pretendo explorar bastante a história.

Até meus amore♡

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Where stories live. Discover now