Capitulo 15

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Há sangue por toda a parte.

Nas minhas roupas, nos meus cabelos, na minha adaga, nas minhas mãos e principalmente no chão perto de mim.

Meu sangue. De Prometheus. Dos guardas. Dos meus amigos.

Levanto meu olhar novamente para Kadash.

Ele está ali. Intocado. Vestido num gibão preto, como o príncipe que já foi. Sem hematoma algum, sem uma gota de sangue, os cabelos louros brilhantes, os olhos azuis gélidos me fitando, o rosto perfeito como porcelana.

Ele olha pra mim como se eu não fosse nada.

- O que você fez com ele? - minha voz sai trêmula, tanto pela dor de ter matado Prometheus quanto pela surpresa ao reencontrar Dash.

- Nada demais. - o homem do rosto deformado vai até ele, tenho arrepios. - É o meu mais novo fantoche. Você gostou? Ainda estou costurando, mas está ficando melhor que todos os outros. - ele põe as duas mãos sobre os ombros de Kadash, e o príncipe nem se move. Ele apenas olha pra mim fixamente, sem nenhum indício de reconhecimento no rosto.

Fantoche.

- Dash, por favor, acorde. - chamo ignorando o rei. - Dash?

Ele continua imóvel. Não é ele. Não é o meu Dash.

- Você se lembra dela? - Maori pergunta para ele, e como se reconhecesse apenas àquela voz, o príncipe responde.

- Não.

Ele não se lembra... de mim?

- Mas lembra do que vai dizer hoje sobre ela, não é? - Maori continua, andando lentamente em volta dele, mais me parece uma cobra enroscada na sua presa, sufocando-a até a morte, quebrando os seus ossos num abraço mortal.

- Sim. - ele responde mecânico. Os olhos ainda presos nos meus, ainda vazios.

- E o que é? - a risadinha dele me dá ânsia de vômito.

Ele se endireita, como o velho Kadash parecia diante das câmeras.

- Mondian, Évbad, após o ataque que levou à morte de nossas rainhas, vocês pensaram que eu estivesse morto. Mas não estou. Venho com muito pesar anunciar que o ataque rebelde orquestrado no Castelo da Lua foi de total autoria da princesa Rayrah, filha de Alyah.

Ele vai me incriminar. Foi treinado pra me incriminar e isso é tudo o que sabe sobre mim. Ponho as mãos sobre a boca, chocada. Ele continua:

- Ela tentou me matar e forjar a própria morte para incriminar o Conselheiro Real de Alyah. A princesa que Évbad amava, é na verdade, uma assassina cruel e impiedosa, ela foi capaz de tudo isso. Rayrah Scarllet é incapaz de amar! As nossas Rainhas não foram as únicas vítimas da insanidade da princesa, mas também o meu irmão, o príncipe Prometheus... - ele põe as mãos sobre o rosto e eu não sei se ele está atuando ou se está realmente chorando. - Ela ainda não foi capturada. A assassina do meu irmão e das nossas amadas rainhas está à solta. Todos os cidadãos estão autorizados a fazer justiça. Quem me trouxer a cabeça dela vai ganhar o triplo do seu peso em ouro.

- Você quer me deixar ir pra participar do seu joguinho doentio! Quer que eu fuja como a criminosa que você quer que eu seja! - cuspo nos sapatos do rei marionetista. - Não vou fazer parte disso. Seu desgraçado!

Maori olha para o cuspe e nem se dá o trabalho de limpar. Ele põe o dedo indicador nos lábios fazendo "shhh, o show ainda não acabou."

Kadash continua: - Para preencher a lacuna deixada nos dois reinos. Eu, príncipe Kadash II, primogênito da rainha Hill e único herdeiro legítimo vivo, vou assumir os tronos.

- E corta! - Maori grita divertido como um diretor de cinema. - Maravilhoso, não? Ainda bem que eu não matei esse garoto! - ele ri e bagunça os cabelos de Kadash.

Aperto Red Fox na minha mão.

- É isso? Vai fazer dele sua marionete? Ele terá a coroa mas você terá o poder? - quero que ele se aproxime, fique perto o suficiente, que fique com raiva.

- Você lembra que minha vingança não se estendia somente às minhas irmãs? - ele dá o primeiro passo na minha direção. - Também não se estendia somente à você. Alyah tentou me matar; mas antes disso, Hill queria me controlar. Alyah queria os holofotes e o poder. Mas Hill se contentava em governar nas sombras e queria fazer isso através de mim.

Ele se aproximou mais. Quase o suficiente.

- Esta - ele aponta para Kadash parado como um robô. - é minha vingança.

Só mais um passo, vamos...

- Mas se Alyah tentou te matar, por que você ainda não me matou? - rosno.

- Porque antes disso ela destruiu minha reputação. Queria ser rainha mesmo que isso significasse me fazer parecer indigno do trono. - ele deu o último passo.

Ergo Red Fox e ela vai de encontro com a garganta dele. Mas seu antebraço para o meu segundos antes da chuva de sangue. Forço a adaga com a outra mão, mas ele torce meu braço fazendo a adaga virar apontada pra mim.

- Ray... - ele meneia a cabeça. - Quando é que você vai aprender?

Ele dá uma joelhada no meu estômago e me faz cair sem ar. Ergo os olhos, os cabelos caindo sobre o rosto. Ele chuta minha costela. Grunho, agora de barriga para baixo.

Tento chamar meu poder mas não consigo, ele parece ter sumido, ou se escondido.

O rei marionetista me observa antes de abaixar, ficando perto do meu rosto. Ele toma Red Fox e faz um talho profundo na curva da minha bochecha. O sangue escorre, tingindo meus dentes de vermelho.

Os guardas restantes estão saindo, levando consigo Marco, Linda e Nona. Ionny, maldita traidora, sussurra mais uma manipulação no ouvido de Kadash e ele sai por conta própria sem lançar um único olhar para mim.

O único que sobra é Maori. Ele se volta para mim e tem uma arma nas mãos, um calibre 38.

- Vai finalmente me matar? - cuspo sangue no chão.

Maori continua com a arma apontada. Ele quer ver medo nos meus olhos.

Mas eu não tenho mais medo de morrer.

- Atira. - digo sentindo o gosto metálico do sangue na boca, cada palavra faz mais sangue jorrar. - Atira agora! Vai! Acaba com isso! Não vou jogar sua droga de jogo! Atira!

Ele atira.

Mas na minha perna. Eu grito porque dói muito, mas eu continuo olhando pra ele.

- Eu vou matar você. Vou terminar o que minha mãe começou. - ele dá as costas como se não me ouvisse. - Você vai pagar.

Ele acende um fósforo antes de sair, levanta-o para que eu possa ver, o sorriso no rosto dele me arrepia ainda que eu mal possa ver.

Ele deixa o fósforo cair no chão que os soldados encharcaram de gasolina.

- Boa sorte, Ray. - É a última coisa que me diz antes de fechar a porta atrás de si.

O castelo vai queimar.

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Curtinho mas valeu

Oi galeraaaaaaaaaaa
Saudades♡

Esse livro vai ficar divido em duas partes e já estamos quase no fim da parte 1.

Vou postar um capítulo explicando. Espero que estejam gostando!
Não esqueçam de clicar na estrelinha ^-^

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Where stories live. Discover now