A Taberna

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Seja bem-vindo. Se achar um lugar pra sentar, fique à vontade, e eu lhe atendo assim que puder. Se não achar, vai pra mesa do bar, eu já chego lá.

...

Não achou um lugar pra sentar? Hoje estamos um pouco lotados. Eles simplesmente se recusam a sair. Um bando de bêbados, na minha opinião. A melhor clientela de todas.
Quer se juntar a eles? Tenho uma sidra que pode cuidar disso em um copo. O pão acabou de... Me dê um segundo, eu tenho que despachar aquele sujeito pela janela.

Pronto, problema resolvido. Sempre achei mais divertido jogar alguém pela janela. Qualquer um pode usar a porta, mas a janela... a janela exige precisão, e gosto do ar mais dramático. Então, que tal aquela sidra?

Ah... O letreiro, né? Leu a placa na porta? "Nem todas as histórias são contadas", "elas se tornam sussurros", "um lugar como qualquer outro, para ouvidos destreinados...". Chamativo, não é?

Então, entrou aqui porque gostou do nome? Porque se sim, o nome "Taberna" apareceu primeiro, e você vai adorar aquela sidra.

Mas... Não acho que entrou por isso. Acho que na verdade, nem você sabe porque entrou. Acho que leu o letreiro e a placa... E quando deu por si, já estava aqui dentro.

Hmmm... Quem sabe... Acho que vale uma tentativa. Um homem acabou de "sair" do bar, então, temos uma cadeira vaga. Porque não a puxa até aqui? Tem uma coisa que gostaria de lhe dizer.

Não sei se é uma pessoa cética. Mas é importante que saiba... "A taberna dos sussurros" não é um nome comum, e com certeza não foi escolhido a toa. Se você me permitir, gostaria de lhe contar o primeiro de todos os sussurros. A história de como nasceu esse pequeno estabelecimento, e o que o tornou o lugar que é hoje.

Há muitos anos, bem antes de construir essa taberna, eu era um contador de histórias. Gostava de me considerar um bardo, mas a verdade é que nunca aprendi a tocar. Eu viajei por mais reinos do que me lembro, e por onde quer que eu ia, eu aprendia uma história nova.

Eu era fascinado por histórias. Os contos de Hai-taun, a lenda dos Fauruns, a terra dos Ceontes... as histórias coloriram o mundo, e a cada nova história que eu conhecia, o mundo ganhava um novo tom de cor.

De todas as histórias, a lenda de Slaut era a minha preferida. Um homem que quando criança, foi abençoado com a sabedoria da lua. A história foi a que me tornou quem eu era, e a sabedoria dele que me inspirou a ir atrás de tantas histórias.

Pelo menos até... aquele dia.

Não consigo me lembrar de nada daquele dia, nem saberia dizer em que cidade eu estava.

Mas me lembro da estalagem de madeira. Lembro de estar sentado em uma mesa, contando a história de Gaor, o terrível.
Me lembro com detalhes do fascínio dos meus ouvintes, a conhecida alegria de se encontrar com um mundo novo, através de uma história. Me lembro de deixá-los na expectativa de uma continuação assim que pegasse uma bebida.

E enquanto ia ao bar, ele apareceu. Uma figura encapuzada, usando um sobretudo puído de couro, me lembro de seu rosto fino, e seus olhos... Os olhos dele pareciam brilhar, e seu olhar era hipnotizante. Parecia que ele conseguia olhar para mim, para dentro de mim, e através de mim, ao mesmo tempo. É difícil descrever, mas... A sensação de alguém que consiga te entender completamente com um só olhar, é um tanto viciante.

Me lembro dele me perguntar... Se eu conhecia a verdade. Mas nenhum contador de histórias pode dizer que sabe a verdade, já que é do nosso feitio exagerar e omitir, para ter uma história melhor, e ouvimos nossas histórias de outros contadores, que provavelmente já tinham feito o mesmo antes da historia chegar aos nossos ouvidos.

A Taberna Dos SussurrosWhere stories live. Discover now