A cidade sem céu

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Todos nós já conhecemos uma cidade. Cheia de vida, enquanto abençoada pela luz do sol, ou silenciosa como a morte, quando a lua está em seu ápice. Mas e se houvesse uma cidade que não fosse banhada pelo sol ou lua? Como saber se seus habitantes deveriam estar cheios de vida, ou presas em um silêncio mortal?

O que se se deve esperar de um habitante, de uma cidade sem céu?

...

Lōthur e Said foram acordados às pressas por Forh, o irmão mais velho de Lōthur. Foi a primeira vez que vira o irmão mais velho em meses, desde seu desaparecimento. Ele e Said tinham menos de 7 anos, mas ainda assim, foram os únicos que não desistiram.

Eles foram até uma casa abandonada nos arredores da cidade, onde Forh costumava ir quando estava chateado, ou queria ficar sozinho. Os adultos já tinham procurado lá, mas eles tinham que eliminar as opções.
Era uma casa estranha. A madeira já estava podre, o que deixava a casa com um cheiro estranho. O chão não tinha um piso de madeira, era só terra.

Mas o mais estranho, era o poço. Dentro da casa, havia um cômodo só para um poço, que era mais bem trabalhado que o resto da casa inteira, e era a única coisa que não parecia podre, ou desgastada, na verdade, o poço parecia mais novo do que as calças remendadas e as mantas puídas que os dois usavam. Lōthur e Said tiveram a ideia maluca de entrar no poço, e sabiam que era uma boa ideia, porque sabiam que era ousado demais para os adultos tentarem.

E assim, eles caíram. Caíram até a coragem deles acabar, e até perderem suas vozes, de tanto gritarem, assustados, e então, continuaram caindo, e o medo os fizeram perder a consciência.

E agora, estavam sendo acordados pelo irmão desaparecido.

A primeira reação de Lōthur foi abraçar o irmão, na tentativa de espremê-lo tanto, que coubesse dentro do seu coração, que insistia em acelerar. Said entrou no abraço alguns segundos depois. Não era irmão dele, mas Said era uma criança, e toda criança sonha em ser alguém quando crescer. E os dois queriam ser como Forh.

Enquanto recebia o abraço, Forh deu mais broncas nos dois do que deveria. "Que imprudência", dizia ele, "Cair em um poço assim!". Era um sermão válido, que nenhum dos dois escutou.

Então veio a dúvida: Onde estavam? Forh tinha acabado de acordar da queda dele, então não podia ajudar muito.

A única fonte de luz, era provavelmente o poço de onde caíram, que parecia estar a centenas de metros acima deles. Mas com o pequeno feixe, disperso pela altura, eles puderam ver a silhueta de uma cidade. Uma cidade inteira, afundada sob a terra.
A curiosidade e entusiasmo fez Said e Lōthur começarem a correr quase que imediatamente em direção a umas das várias ruas, mas Furh os repreendeu. Eles voltaram e ficaram um de cada lado do irmão mais velho, enquanto ele tentava decidir o que fazer.

Foi quando ele surgiu. No começo como uma voz sem origem, mas ao longo que se aproximava, eles viram uma sombra, quase na forma de uma pessoa, mas camuflada pela distância, e falta de luz.

Ele deu as boas vindas aos jovens, mas os alertou. "Esse lugar não é seguro para crianças.", Avisou o homem, "essa cidade é amaldiçoada, e não é bom crianças ficarem muito próximas de maldições".
Ele explicou que há muito tempo, esse era um lugar próspero, cheio de vozes e risadas. Mas os sacerdotes da luz sentiram inveja da prosperidade da cidade, e os amaldiçoaram, condenando-os a viver nas sombras, até seus últimos dias. Aquele poço era a única fonte de luz que havia, e nem sempre servia de alguma coisa.

Said e Lōthur apertaram forte a mão de Furh, que os acalmou, dizendo que eles encontrariam um jeito de sair.

O homem disse que por séculos, os habitantes tentaram, mas não puderam fugir. A magia que os aprisionava era forte demais, e era necessário um feitiço muito poderoso para conseguir sair. Ele disse que era a sombra que os prendiam, e apenas ela poderia libertá-los.

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