Sacrifício

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Scoot

Sabe quando você está dormindo tranquilamente e de repente acorda assustado com o despertador? Pois é, o nome do meu é Felipe. Me levantei e segui ele pra fora da caverna bem devagar por ainda estar caindo de sono e quase fiquei cego com o sol na minha cara, os outros ainda estavam dormindo.
Nós andamos pela floresta para fazer patrulha e enquanto isso fomos conversando, tudo parecia quieto, mas de repente ouvimos passos vindo em nossa direção, antes de assumirmos posição de ataque um lobo saltou do arbusto. Safira:

- Meu Deus, quase nos matou de susto!- disse Felipe.

Ela apenas riu

- Você não devia estar na caverna?- perguntei

- Sai quando seu amiguinho estava distraído- ela disse sorrindo um pouco de lado.

- Você não pode sair sem permissão gracinha.

- Eu já disse para não me chamar desse jeito!

- Como se eu obedecesse você- eu provoquei com um sorriso.

- Não me provoque! - ela rosnou

- Se não o que?

- Aí seu...- ela foi interrompida por Felipe que se pôs na nossa frente tentando evitar uma briga.

- Certo. Já que está aqui faça a patrulha conosco que depois levamos você de volta- disse ele

Ela concordou provavelmente para não ter que voltar para a caverna, continuamos andando em silêncio até chegarmos no lago, nosso território só vai até ele então nós voltamos, antes de podermos dar qualquer passo ouvimos um ruído estranho, nunca tinha ouvido aquilo antes, comecei a farejar o ar e me assustei ao saber o que era. Um humano. Olhei para o lado e vi que tanto meu irmão quanto Safira também tinham sentido o cheiro, Felipe fez sinal com a cabeça dizendo pra sairmos dali e fomos saindo, os passos do humano ficaram mais próximos então resolvemos nos separar.
Depois de um tempo correndo ouvi latidos de cachorros por perto, avistei dois cães cercando Safira, corri e saltei em um deles mordendo seu pescoço o que fez ele grunhir de dor, o outro tentou me tirar de cima de seu parceiro mas Safira o tirou de cima de mim o segurando pela pata, mais o cachorro era forte e conseguiu se livrar dela e partir para cima de mim mordendo minha pata, fazendo eu largar o outro, olhei para o lado e vi Safira no chão tentando levantar mais estava sendo segurada pelo cão no qual eu mordi, e que sangrava muito no pescoço, de repente o homem apareceu e apontou uma arma para mim, apenas abaixei a cabeça e esperei pelo tiro, fechei os olhos. Ao ouvir o tiro abri meus olhos mais eu não estava ferido, olhei para Safira e vi que ela estava com uma expressão de tristeza e pânico, olhei para o outro lado e vi um vulto preto deitado, eu reconheci ele e me assustei ao ver sangue escorrendo, na mesma hora ataquei o cão que me segurava com tanta raiva que nem reconheci minha própria força, ao acabar com ele parti pra cima do humano que pelo susto atirou pro lado errado atingindo o outro cão, tirando- o de cima de Safira que me ajudou a atacar o humano.
Após o homem conseguir fugir um pouco ferido eu corri para acudir o vulto preto, chegando perto meu coração doeu ao ver aquilo, meu irmão, sangrava e estava com a respiração devagar quase parando. Meus olhos se encheram de lágrimas e então ouvi a voz dele:

- Cheguei bem a tempo- ele sussurrou.

- Não precisava ter feito isso Felipe.

- Você é meu irmão...- ele tossiu- sempre irei te proteger maninho.
Uma lágrima desceu pelo meu rosto, ele olhou pra mim forçando um sorriso.

- Cuide da Geada por mim- sua voz ficou mais fraca.

- Não! Pare com isso, você vai ficar bem.

- Scoot...- eu o interrompi.

- Você vai voltar com a gente!

- Não dessa vez maninho...- a voz dele falhou.
Safira se aproximou vendo o meu estado e olhou triste para Felipe:

- Cuide desse cabeça dura pra mim por favor Safira- ele pediu quase fechando seus olhos.

- Claro, pode deixar.

- Felipe...- tentei falar mas ele me cortou.

- Seja forte, cuide de quem você ama e aproveite cada momento...- ele deu um suspiro antes de terminar e fechou os olhos, seu pulmão soltou o ar e então vi que ele estava... morto.

Coloquei minha cabeça sobre o pescoço dele com as lágrimas escorrendo, fiquei ali até Safira me fazer levantar e ver minha expressão de tristeza. Mesmo que a gente não se entenda ela viu como eu estava me sentindo e pareceu saber como era aquela sensação horrível apenas olhando em meus olhos, ela se aproximou e encostou sua cabeça em meu peito, e foi subindo suavemente até chegar em baixo da minha cabeça, com a intenção de me acalmar, apenas fechei os olhos e senti seu pelo tocando o meu.
Voltamos para a alcatéia mais eu não tive coragem de contar para Geada, apenas contei ao meu pai que pela primeira vez em anos chorou, a cena de meu pai chorando cortou meu coração. Ele era destemido, forte e admirável; mas ao saber da morte de Felipe, pareceu apagar toda sua reputação e revelar seus sentimentos bem na minha frente e de Safira.
Saímos dela a pedido dele e fomos para a caverna dela que em todo tempo me olhava preocupada, deixei ela na entrada e nós concordamos em falar aquilo para Geada no dia seguinte.
Pela primeira vez na minha vida senti vontade de morrer para não sentir aquela dor, mas eu iria honrar o último pedido de meu irmão, iria proteger quem amo.
A noite estava escura e silenciosa, não se ouvia nem um mínimo ruído, as estrelas não estavam no céu aquela noite, como se o mundo tivesse perdido a graça para mim.

Nas Patas do DestinoWhere stories live. Discover now