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    Por algum motivo, salvei o número de Yerim e agora trocávamos mensagens. Ela era simpática e tinha um excelente sexto sentido: cada vez que eu começava a me sentir desconfortável perto de Seulgi, ela aparecia num passe de mágica e me tirava dali.

    Numa dessas ocasiões, no intervalo de uma quinta-feira, nós estávamos encostadas na parede de tijolos da escola, conversando, quando sua mão esbarrou na minha. Ela manteve o olhar sobre o meu enquanto enrosacava nossos mindinhos.

    Yerim era realmente bonita, com seu cabelo curto e ar rebelde. Seulgi também aparentava isso, embora de uma forma diferente. Minha melhor amiga era calorosa e brilhante, enquanto a garota à minha frente tinha algo de calculista e ameaça real sob a pele.

   Ela se aproximou ao ponto de que fosse possível sentir o hálito das balas de uva que sempre carregava consigo e já me oferecera diversas vezes. Desci meu olhar para seus lábios entreabertos, mas um barulho me fez recuar.

    Me virei para encontrar Seulgi nos encarando com uma emoção indecifrável estampada no rosto. Abri a boca para falar algo, mas eu não devia explicação alguma a ela. Uma mão pousando em minha cintura desviou minha atenção para Yerim.

    Ela estava presenteando a morena com um sorriso viperino.

    Um arrepio percorreu minha espinha e, antes que eu enlouquecesse, voltei ao refeitório.

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    Apesar do episódio de quinta, não deixei de falar com Yerim. No sábado saímos para dar uma volta no shopping.

    Não era o tipo de programa ao qual eu estava acostumada, já que com Seulgi eu geralmente ficava em casa de bobeira, ou como máximo íamos até a praça do bairro. Mas Yerim não era Seulgi, e isso era tudo que eu precisava, independente do lugar.

    Sentada na praça de alimentação com um pedaço de pizza na mão, não consegui evitar as lembranças.

    Os pais Kang tinham uma pizzaria, então sempre que ia dormir lá, o menu estava definido. Eles eram fantásticos no que faziam, tanto que a pizza do shopping parecia borracha comparada à deles. Engoli com esforço e retribuí o sorriso de Yerim.

    Passar a noite na casa de Seulgi sempre era uma aventura, porque eu cresci filha única, e ela tem três irmãos mais velhos. Seus pais reservavam um pedacinho da cozinha do estabelecimento deles e fazíamos a pizza. Enquanto ela assava corríamos pelo lugar, entre risadas. E então a devorávamos.

    Conforme fomos ficando mais velhas, deitar no terraço olhando o céu noturno e conversando substituiu a correria. E de alguma forma era mais especial, porque éramos só Seulgi, os astros e eu.

    No inverno levávamos alguma manta e nos aconchegávamos o mais perto que podíamos. Até então eu não sabia por que meu coração acelerava perto dela.

sleepover - seuldy/wenseulOnde histórias criam vida. Descubra agora