Pure Flower • Taekook (em revisão)

8. O feiticeiro e sua história

Aos cinco anos, Jungkook sentiu pela primeira vez a punição pela maldição.

Aos sete anos, seu pai começou a fazer falta e sua mãe gerava crianças para outros feiticeiros. Estava sozinho.

Aos dez anos, colocaram-lhe a coleira de controle absoluto para o amedrontar.

Aos doze anos, sua mãe morreu. Ele foi enviado para a colheita.

Aos treze anos, teve a infelicidade de se deparar com um dragão. Era um filhote que não devia ter nascido, porém ainda foi perigoso.

Dragões já foram as criaturas mais poderosas de todos os mundos. Histórias proibidas sobre o pré-guerra contam que eram os Guardiões dos Deuses. Quando houve o confronto das espécies, eles se enfraqueceram e caíram na Terra. Dizem que os dragões que despencaram no Território Brando morreram e seus cadáveres geraram os pântanos venenosos. Enquanto os no Território Hostil foram "salvos" pelos espíritos e mantidos em cárcere nas montanhas para servirem de experimento.

Descobriram que seus ovos guardam uma energia única e poderosa. Durante os quatrocentos anos que ficam acordados, são obrigados a procriar e, durante os mil anos de hibernação, descamam para se renovar. Os feiticeiros são instruídos por seus carrascos a colherem ambos, ovos e escamas, dependendo da designação da zona. São tarefas extremamente difíceis, os ovos são enormes e pesados, emitem magia tóxica em excesso para quem fica muito tempo exposto; as escamas são igualmente perigosas, além de afiadas. Mas os espíritos não se importam, seus escravos são descartáveis.

Então, ao ser surpreendido pelo dragãozinho recém-nascido, Jungkook esperou que o devorasse. Sofrera o bastante para não querer continuar vivo, seu pai desaparecera há meses, talvez estivesse morto. Não tinha mais motivos para existir em um lugar onde não se tem valor, só a dor da manipulação e tortura. O filhote, no entanto, o poupou. Na verdade, se afeiçoou ao pequeno feiticeiro. Os olhos azuis, as escamas acobreadas, as asas pequenas e a cauda fina e inquieta que o perseguia aonde fosse. Teve de escondê-lo como pôde e conseguiu por um tempo. Uma amizade floresceu, distraiu-se das feridas novas e antigas que ardiam todos os dias. Ria com o coração aquecido em meio ao inferno gelado da região.

Aos quatorze anos, Jungkook foi pego brincando com seu amigo e levado a prisão de gelo pela primeira vez de muitas que aconteceriam no futuro. Nunca mais soube do dragão.

Aos vinte e três anos, descobriu mais sobre o Território Brando, as criaturas de essência pura e a liberdade que há fora das terras obscuras.

Aos trinta e sete anos, buscou sobre o passado das raças e, com o que conseguiu, tirou suas próprias conclusões do mundo. Talvez houvesse esperança.

Aos cinquenta e dois anos, se assustou ao ver o pai vivo, tornando-se um dos tiranos da colônia que vivia e trabalhava. O que mais poderia piorar?

Aos cinquenta e seis anos, jurou ódio eterno a ele por obrigá-lo a entregar seu colega de cela a morte certa no vulcão do dragão mais temperamental.

Aos noventa e um anos, conseguiu se desprender da coleira e fugir para a divisa com o Território Brando. Viu o sol radiante e quente pela primeira vez, solo verde e nenhuma névoa. Foi resgatado tentando ultrapassar a linha. Sentenciaram-no ao castigo exemplar.

Aos noventa e oito anos, o castigo acabou. Infelizmente, resistiu até o fim. Estava exausto de lutar e ter esperanças. Preferia ter morrido.

Aos cento e onze anos, seu pai lhe disse que não estava só. Fazia o que fazia para protegê-lo. Estava barganhando uma forma de mudar a situação e poupar mais vidas de feiticeiros.

Aos cento e vinte e nove anos, tiraram-lhe a coleira e direcionaram-no para a Cidadela. Disseram-no que tem capacidade para ser um bom tirano e o ensinariam a executar magia apropriadamente. Ficou perto de seu pai, pôde conhecê-lo melhor e perceber que estava, em parte, errado sobre ele, apesar de tudo que o fez passar. Também estava sendo torturado pelos espíritos enquanto bolava um plano de salvação para a raça.