Olhares - Livro 1.

15 - Maria Luiza (extra)

Sabia que tava rolando alguma coisa, conheço o homem que eu tenho, muitos olhares, e quando a Daniela disse que ia no banheiro e a Evellyn disse que ia junto e ela negou já sabia que era treta.

Segui ela fazendo a doida e fiquei só esperando, escutei tudinho, eu sei como o Ricardo é, conheço bem, passa anos e ele não muda, e é fácil jogar papinho pra essas meninas da pista, por isso não culpo a Daniela, aquele ali não vale o chão que pisa.

Eu sou abusada mesmo e sabia que ele não ia me bater, esses anos todos eu só apanhei uma vez dele, primeira e última, foi a vez em que ele viu que porrada comigo não adiantava, se ele pudesse já tinha me matado mas sabe o amor e o ódio? andam lado a lado.

Arrumei meu cabelo e voltei pra mesa, nem precisei falar nada, peguei as coisas e fomos embora, Milena já tinha ido alegando estar passando mal então provavelmente ja estava dormindo, Evellyn subiu direto pro quarto bêbada e sem entender nada do que tava acontecendo deixando eu e Daniela na sala.

— Vai contando, pode começar — falei tirando os saltos e sentando no sofá

Ela contou tudo, desde do momento em que ele olhava para ela no baile, me amostrou as mensagens dele pra ela e ela dizendo que não dava mais até hoje.

Pelo jeito ela já tava gamadinha, mas eu como experiente falo que isso aí é passageiro, ela só ta deslumbrada com o papinho dele, que filho da puta, velho desse jeito.

Aconselhei ela não vir aqui até isso se acalmar, fiz ela me prometer que contaria para Milena, eu não falaria nada, ela que iria falar.

Quando eu conheci o Ricardo eu era assim mesmo, morava na pista, subia morro pra curtir baile, minha tia morava aqui então eu vinha direto.

Até que em um baile ele me olhou e aí foi amor a primeira vista e anos juntos.

O Martins assumiu o lugar do pai dele no tráfico, é tipo legado de família, quando eu conheci ele, ele já era patrão, o pai dele havia morrido um tempo atrás.

Eu nunca tive sogra, ele odiava falar da mãe, o pouco que eu sei é que ela fugiu e deixou ele com o pai, o Ricardo nunca assumiu mulher nenhuma, era uma aqui e outra ali, sempre foi o drogado e rei delas.

Eu posso bater no peito e dizer que fui eu quem tirei ele do vício, se hoje ele é focado no que faz é graças a mim.

Eu nunca aturei traição não, sempre fui um furacão, ele costumava dizer que eu era o furacão da vida dele, quando eu engravidei minha mãe  surtou e eu tive que subir a comunidade definitivamente mas não era o meu lugar, não me encaixava e queria uma criação diferente para minha filha.

Quando eu estava com 5 meses de gestação meu inferno começou, brigas em cima de brigas e várias traições, foram incontáveis as vezes em que eu aparecia em baile com as minhas primas para bater nas monas que andavam com ele e depois o pau quebrava em casa.

Ele nunca me bateu grávida, mas eu sempre joguei as coisas em cima dele, sempre fui eu quem dava o primeiro soco.

A primeira vez que ele me bateu estávamos no segundo mês se pegando, ele me empurrou no meio do baile por que eu mandei ele tomar no cu e aí o pau quebrou até chegar em casa.

Nesse dia, eu aguentei quietinha e no outro dia rasguei o braço dele todinho de navalha, depois disso ele só me ameaçou e nunca mais encostou um dedo em mim.

Quando a Milena nasceu eu desci pra pista de novo, nosso relacionamento estava fraco e eu estava desgastada, era poucas as vezes em que eu trazia a Milena para ele ver, ele sempre respeitou minha decisão de não criar ela no meio dos surtos dele, mas sempre exigiu os direitos dele de dar as coisas por mais que eu negasse.

Ele sempre bancou tudo, festa, roupa, escola, curso, o nosso combinado era esse até não dar mais, mas também nunca desejou ter tanto contato, sempre foi um homem muito seco.

Agora eu voltei, eu não sei se ele tem alguém fixo, se tem mulher em casa, ele não me deixa saber muito da vida dele aqui ainda, mas eu tô na pista, uma vez primeira dama pra sempre primeira dama, elas que se segurem  por que quando o furacão passar fudeu e vão surtar quietinhas.

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