sky ─ jongkey.

urano e o céu • ☁️

faziam milênios desde que urano não visitava a terra, os céus ficavam cada vez mais monótonos, rotineiros e comuns ao deus. sempre havia uma pequena coisa ou outra na qual ele podia ajudar mas isso também ficou desinteressante depois de um tempo. urano passava suas horas observando os humanos na terra, como podiam ser tão pequenos e tão burros daquele jeito? sempre faziam maldades para machucar outros seres de sua mesma espécie, o quão ruim isso podia ser?

naquela solidão o deus não sabia mais o sentido das cores, a única que conhecia aquele ponto era o azul escuro das nuvens que refletia nos mares enquanto chovia. uma visão encantadora, ele pensava, mas não deixava de ser triste. seus olhos se tornavam poças de água ao ver aquilo e se lembrar de que estava sozinho mais uma vez, magoava o deus saber que ele nunca poderia ser feliz como os outros deuses. até que ele tomou uma decisão.

os demais outros deuses haviam se reunido no monte olimpo, e ele não perderia a reunião pela decima terceira vez seguida, então ele os acompanhou. todos falavam sempre as mesmas coisas, e isso atormentava mais ainda o deus, o deixava mais triste e mais entediado ainda, então ele tomou coragem, encheu o peito, suspirou e disse;

"eu quero sair" - disse com toda a convicção que conseguiu tirar de si mesmo.

todos pareciam olhar com pavor ao deus, ele engoliu em seco e tentou continuar a falar mas foi interrompido.

"como?" - ártemis questionou - "o que quer dizer com 'sair?'"

o pobre urano travou, ele não sabia como explicar aos demais que estava cansado daquele lugar. ele precisava sair mas sabia que o proibiriam como fizeram aos que tentaram das últimas vezes. mas ele precisava tentar, nem que fosse uma vez.

"preciso sair! quero sair pelo portão dos céus e ir a terra, vocês não tem vontade também"?

"você ficou louco, urano? claro que não, nós temos tudo do que é bom aqui em cima, porquê faríamos isso?" - eros respondeu em um tom doce.

"ah por favor! cale a boca! estamos na mesma rotina a tantos milênios, como gostam disso?" - perguntava já meio exaltado - "eu não preciso disso! não quero isso!"

e saiu.

isso foi a seiscentos e cinquenta milênios atrás.