Prólogo

36K 1.4K 68
                                    

 Essa é a minha história.

Eu vivi um amor. Um amor bandido.

E não foi porque eu quis...

Tudo começou:

...

Andava pelos corredores da minha faculdade. Meu nome é Marina e tinha 22 anos. Eu estava no segundo período de Direito e não tinha nenhum amigo. Só vivia de estudar e assistir a algumas séries americanas de TV. Bem, a muitas series na verdade.

Passei minha vida toda a planejar meu curso de Direito, minha formação em advocacia criminal. É isso que eu quero ser. Amo o código penal, e amo ainda mais, a capacidade de provar que alguém é inocente.

Quando olhava para o conjunto de armários que a Faculdade Horizonte insistia em nomeá-los como nossos “scaninhos completamente seguros”, eu senti um forte impacto nas minhas costas. Girando meu corpo rapidamente para que meu material não caísse completamente no chão, me deparei com uma garota assustada e nada normal:

- Oh me desculpe, por favor, eu estava... – ela dizia muito rapidamente as palavras com medo da minha reação. Ela era um pouco gordinha, sua pele bem branca ficava bem vermelha quando falava. Eu até pensei em revidar ou xingar a garota, mas vendo a tão desconcertada eu fiquei realmente com pena:

- Não faz mal, tudo bem, eu mesma pego minhas coisas – a última parte saiu meio ríspida e ela interpretou isso de maneira negativa, recolhendo o braço que tentava me ajudar. Para quebrar o gelo, eu estiquei meu braço num cumprimento e murmurei:

- Prazer, sou Marina – ela esboçou um sorriso fofo pelo meu gesto e completou:

- Sou Jucilene – vendo que eu ameacei sorri pelo seu nome ela continuou – nome de família, fazer o quê.

E ficamos amigas. Provavelmente a minha única amiga.

Juce, como eu carinhosamente a chamava, vinha de uma família muito rica, dona de praticamente todas as terras ao redor da minha Cidade de Piracicaba, interior de São Paulo. Mas sofria de uma dislexia para absorver as matérias da faculdade, e se não fosse por minha ajuda, teria sido reprovada em quase todas as matérias. E não em apenas algumas...

Dessa maneira, quando eu já estava no sétimo período ela ainda cursava como irregular as matérias do sexto. Ainda assim, ficávamos juntas sempre.

Um dia, ela chegou chorando na faculdade, porque tinha sido ameaçada pelo avô de ser deserdada caso não colasse grau naquele ano. Eu já tinha me formado e batalhava no mercado da advocacia criminal por algum espaço e sonhava ir para a Capital. Lá estavam as grandes oportunidades e os “grandes clientes”. E daí, ela me fez a proposta mais cabeluda que eu já aceitei: me passar por ela no curso de Direito para as provas finais e irmos juntas pra São Paulo para abrirmos um escritório na área criminal. Com o dinheiro do seu avô. Eu era ambiciosa, queria uma oportunidade e lá estava ela.

Não tenho orgulho do que fiz, mas posso dizer que fui muito boa atriz. Vesti as roupas dela, coloquei enchimentos pelo meu corpo e segui para a sala que faria todas as provas finais. Coloquei óculos de sol, alegando uma irritação no olho e amarrei uma badana colorida no cabelo para disfarçar a tonalidade de nossos cabelos. Ela um pouco loura e eu de cabelos negros e bem lisos.

E tudo que posso dizer é que consegui. Ela passou com louvor e depois, seguimos para São Paulo.

Hoje, depois de cinco anos, casada e mãe de um filho de dois anos eu posso dizer: parecia ter valido a pena...

Nosso escritório ficava no centro de São Paulo na disputada Av. Paulista. Eu tinha na cartela de clientes alguns estelionatários, poucos traficantes e muitos, muitos assaltantes. Apropriadores de coisas alheias, eu costumava amenizar chamando os assim no tribunal. E por defender alguns larápios afoitos e indisciplinados, eu tive que enfrentar alguns Juris que o acusavam de atentar contra a vida alheia, no crime de roubo seguido de morte do nosso código penal: Latrocínio.

RipperWhere stories live. Discover now