7º Capítulo

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7 – O dia em que eu passei dos limites

Ajeitei o cabelo como pude. Eu os tenho bem lisos e consegui poucas ondas nas pontas. Elas provavelmente sairão em poucas horas. Mas a minha pele ficou muito boa depois do longo banho que tomei e fiquei ótima quando arrematei com batom, um pouco dele nas bochechas e na minha boca. E nos olhos, várias camadas de rímel que acentuou ainda mais o caramelo dos meus olhos.

Minha saia de trabalho era longa, então enrolei um pouco do seu comprimento na cintura para que ficasse com visual mais de mini saia. Por baixo da camisa social amarrada ao final da cintura, estou com uma camiseta que ajustei no meu busto apertando-a com uma gominha. Faltam apenas os meus sapatos, que ficaram gastos do dia em que quase fui morta, mas são os melhores que posso conseguir por aqui.

Olho no pequeno espelho do banheiro e acho que estou bem. Pareço bem. Preciso distrair pessoas esta noite e me manter concentrada. Bem concentrada.

Ouço o barulho na porta e me viro rapidamente para encontrar Ripper de pé na porta. Meus olhos encontram os dele rapidamente e ele desvia para o resto do meu corpo. Ele sorri bem sutilmente e eu respiro aliviada que tenho causado o efeito que esperava. 

Circulo o quarto e espero suas ordens pra que possamos sair. Ele entra e fecha a porta e eu quase me desespero com a possibilidade de ele ter mudado de ideia. Até que ele começa a falar:

- Todo o lugar é controlado por mim Marina. Não pense na possibilidade de fugir, nem ao menos considere fazer algo pra me desafiar.

Eu engulo em seco e afirmo um sim com a cabeça. Ele segue pela porta e acena para que eu possa acompanha-lo. Quando cruzo a porta, sinto um peso sair de mim e fico animada com a simples ideia de ver algo além de paredes. Esboço um pequeno sorriso, mas logo meu rosto se enruga quando vejo quatro homens fortemente armados no cômodo exterior ao meu quarto. Dois deles eu me lembro do dia que fui salva. Eles não me dirigem o olhar. Apenas para aquele que os comanda e seguem seus passos como se formassem todos uma matilha ao redor do alpha.

 Sou posicionada propositadamente no centro dos homens. Atrás de mim segue Ripper e eu posso sentir como se seu olhar estivesse na minha nuca. Descemos escadas de um cômodo a outro. Parece que estou em um local bem elevado e que existem vários andares do chão ao local onde fica o meu quarto. Não pude até este momento reparar nisso porque a janela do meu quarto está sempre fechada e seus vidros são parcialmente escuros.

Assim que atravessamos uns três lances de escada, sinto as mãos de Ripper na minha cintura e ele me mobiliza passando um braço ao redor do meu pescoço. Ouço o dizer:

- Vou tampar seus olhos agora.

E não vejo mais nada a partir dali. Sou conduzida por mais vários degraus e tento conta-los, mas a minha péssima habilidade novamente vem à tona. Perco-me e desisto da tarefa. Quando o homem a minha frente para e eu toco em seu corpo distraidamente, as mãos de Ripper segura fortemente as minhas por trás e ele sussurra pra mim:

- Encoste no meu corpo, Marina. Não toque em ninguém.

E continuamos a caminhada agora por um lugar mais íngreme enquanto sinto o peito de Ripper posicionado atrás das minhas costas.

Uns dez minutos depois, sinto dor nos meus pés pelo desconforto dos sapatos altos e de bico fino. Mas me mantenho ereta e não reclamo. Quando penso que vamos avançar, sinto a faixa nos meus olhos sendo desamarrada e um local escuro surge na minha frente. Estamos num corredor, amplo e com feixes fracos de luz. Um barulho forte de música parece vir do outro lado, e posso ver uma porta ao final. A formação do grupo muda. Todos os homens vão a frente, e apenas Ripper ainda permanece atrás de mim.

E de repente vejo gente. Muita gente.

Mulheres são as primeiras a se virar para nós, vestidas em verdadeiros pedaços de pano. Os shorts não são nem mesmo em formato de shorts. Parecem boxers que se encolheram ao lavar. E as saias, bem essas podem ter a mesma largura da faixa que há minutos atrás tampavam meus olhos. E são na maioria meninas bem novas, provavelmente menores de idade.

Os homens, são jovens também e usam variadas versões de jeans e camisetas, alternando colares no pescoço que lembram joias muito pesadas. São todos diferentes de Ripper. Mais enfeitados que uma árvore natalina.

A música é bem alta e o lugar é decorado de maneira rude. Mas eu gostei. Ver vários feixes de luzes e uma infinidade de pessoas me colocaram um belo sorriso no rosto. Até que eu notei Ripper atrás de mim.

Cercado de mulheres.

Olhei na sua direção e contei pelo menos umas cinco garotas ao seu redor. Duas penduradas no seu pescoço, outra agarrada a sua cintura, e mais atrás duas outras sussurravam coisas em seu ouvido. Ele sorriu para algumas e indicou “pra caírem fora” outras. Eu fiquei chocada com a exposição mais que sensual das mulheres em volta dele e nesse momento, seus olhos se encontraram com os meus.

Ele se desvencilhou do restante e disse bem baixinho no meu ouvido:

- Pode circular, Marina. Aqui dentro, você está livre para andar.

Eu fiquei sem graça com seu comentário. Mas logo forcei minhas pernas a algum lugar. Andando pelas laterais do espaço, percebo que é todo circundado com um balcão onde são servidas bebidas. Pensei em pegar uma long neck para matar minha sede, mas logo que estiquei as minhas mãos, Ripper surgiu na minha frente e retirou da mão do barman antes que eu pudesse alcança-la:

- Nada de bebidas para ela – ele se virou na direção do homem que apenas concordou com a cabeça.

E desapareceu do mesmo jeito que surgiu. Eu segui andando, internamente furiosa com essa noite, e avistei o banheiro feminino. Querendo um pouco de privacidade, corri para lá e fui com tudo para a pia mais próxima, jogando agua no meu pescoço, para abafar o calor.

Assim que levantei meus olhos, avistei um grupo de mulheres atrás olhando de maneira curiosa pra mim. Eu sorri para elas, tentando parecer simpática para conversar com alguém. Elas se desviaram de mim e saíram rindo pela porta do banheiro. Sou uma espécie de aberração para o pessoal daqui.

Estou cansada, com raiva e acuada. Eu pensei que hoje me sentiria mais livre e estou mais presa do que nunca estive. Tenho pessoas ao meu redor, mas elas parecem estatuas que se movem na minha presença. Andando pelo lugar, antes de vir ao banheiro notei que todos saíam do meu caminho e principalmente os homens, evitavam me encostar. Ripper me provou com uma força brutal o quanto ele controla tudo e todos ao seu redor. Não posso lutar contra ele no seu ambiente, não quando lido com o temor que eles têm por ele de maneira tão primitiva. Mas posso jogar, e de repente, quero jogar com tudo que tenho.

RipperWhere stories live. Discover now