O quarto desejo, por @NaiaraAimee

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Você já parou para pensar no sentido da palavra "definitivamente"? Bom, segundo os dicionários do Google (sim, eu pesquisei), definitivo é algo decisivo, determinante, categórico. Era isso eu queria dizer para minha prima Carla quando mamãe abriu a porta do meu quarto e anunciou que ela estava bem ali, parada no limiar.

Eu tinha enviado a ela uma mensagem mais cedo falando que definitivamente eu não estava nem um pouco a fim de sair dessa cama hoje, mas parecia que alguém tinha certa dificuldade em entender as coisas que eu dizia. Não que Carla alguma vez tivesse realmente me levado a sério. Só que, devido a tudo que aconteceu, eu achei mesmo que dessa vez ela fosse me dar ouvidos. Quero dizer, que amiga não daria?

Eu não estava no clima. Permanecia deitada em minha cama, presa no poço sem fundo do YouTube, vendo vídeos aleatórios sobre qualquer coisa insignificante que não iria mudar minha vida, a não ser roubar os ponteiros do meu tempo, quando Carla se sentou ao meu lado, animada. Animada até demais. Era um pouquinho irritante.

— Tenho uma coisa bem linda pra você!

Eu cobri minha cabeça com a coberta. Num dia normal, eu só iria revirar os olhos com aquele trocadilho idiota com o meu nome.

— Vai, Belinda, levanta esse seu traseiro murcho daí! — Ela ficou de pé, puxou o cobertor de mim e, embora eu o estivesse agarrando com força, não fui capaz de mantê-lo no corpo sem ir junto com ele ao chão. — Levanta, menina!

Ergui meus olhos para ela bastante furiosa e esperei que Carla lesse meu olhar, mas claramente havia uma grande falha de comunicação entre nós, porque ou ela não havia entendido que de jeito nenhum eu ia sair desse cômodo, ou decidiu apenas ignorar.

— Temos que escolher uma roupa legal pra você usar!

Carla caminhou até meu guarda-roupa e o abriu, foi tirando de lá um vestido azul e minha meia-calça preta, depois se abaixou e tirou de lá uma bota de cadarço que eu não usava desde... Bom, já fazia um tempo considerável.

— Você pode guardar essas coisas de volta? — pedi e me levantei pronta para cair de novo no colchão macio.

— Ei, nem pense nisso! — Carla se adiantou e colocou as mãos no meu ombro, me forçando a permanecer de pé.

Puff, aquilo já estava começando a me aborrecer de verdade. Eu nunca liguei muito para o jeito espontâneo de Carla. Para dizer a verdade, essa foi sempre sua melhor qualidade. Ela era aquela prima/amiga que me impulsionava a agir e correr atrás do que eu queria; que me fazia rir quando eu estava triste, mas também sempre soube respeitar meus momentos. Sei que ela só estava querendo me alegrar, porém simplesmente não parecia certo ficar feliz no dia de hoje.

— Me deixa — eu pedi, chacoalhando o corpo para que ela me soltasse.

— Tá, eu sei que você quer ficar aqui, Lindinha — ela começou com um biquinho nos lábios e os olhinhos tristonhos como os de um anime japonês. — Mas isso é importante. Se fizer isso por mim hoje, eu prometo que não te perturbo pelo resto do ano, ok?

Era tentador. Muito. Talvez eu pudesse reconsiderar...

— Ahá! Eu te fiz pensar, né?

Soprei uma mecha de cabelo para o lado e fiz uma careta. Hoje era véspera de Páscoa e eu não podia me imaginar fazendo parte de tudo aquilo com minha família amanhã, quando eles se reunissem à noite para celebrar.

— Tenho uma proposta melhor! — Olhei para ela de um jeito inocente. — Quero que me prometa que não vai deixar ninguém chegar perto do meu quarto no domingo quando forem comemorar. — Era uma barganha muito boa, Carla era ótima em distrair as pessoas e eu só queria ficar reclusa, sem aquele discurso chato e motivador da minha família me dizendo que eu precisava seguir em frente e essa baboseira batida.

Contando um Conto | Young Adult LPWhere stories live. Discover now