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saudades de casa

— Eu só não via problema de você entrar lá, assim a banda podia ter ensaiado mais antes da gente ir

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— Eu só não via problema de você entrar lá, assim a banda podia ter ensaiado mais antes da gente ir. - Jack disse continuando com o assunto que era pauta desde que entramos no carro.

— Que saco, eu disse que você podia terminar o ensaio, eu só não ia entrar lá e dar de cara com o Trevor.

— Ainda não vejo problema. - ele disse revirando os olhos. — E eu não ia te deixar lá fora sozinha sendo que tá anoitecendo.

— Você não vê problema porque nunca se apaixonou e não foi correspondido. E eu posso muito bem cuidar de mim sozinha tá. - cruzei os braços por cima do peito já emburrada com a situação e com o fato de Jack não entender meu lado.

— Graças a Deus nunca me apaixonei, imagina a merda. - disse dessa vez soltando uma risada e me fazendo pensar que finalmente deixaria o assunto de lado.

— Mas também não é como se fosse durar muito tempo, você sempre diz que tá apaixonada e em duas semanas já ta se apaixonando por outro. - pensei cedo demais

— Ei, isso é mentira. - eu sabia que não era tanto assim mas do jeito que ele falou parecia ser péssimo.

— Vamos ver então.

Depois da nossa pequena e insignificante discussão seguimos o caminho para Marshfield¹, nossa cidade natal. Logo chegamos a grande casa na qual passamos a infância. Paramos em frente ao portão de ferro na entrada, logo fomos reconhecidos pelo porteiro que ficava ali, ele abriu o portão e Jack seguiu com o carro.

Jack estacionou o carro logo em frente à enorme casa, entre os pilares da entrada. Desci do mesmo sentindo a brisa de fim de tarde, botei a mão em frente ao rosto para tampar o sol já amarelado e olhei para trás reconhecendo o enorme jardim com o chafariz ao lado esquerdo e um balanço no enorme carvalho do lado direito. Nada tinha mudado desde meus quatro anos, quando nos mudamos para cá.

— Finalmente resolveram aparecer. As vezes parece que nem família os dois têm mais. - olhei de volta para a frente da casa onde mamãe estava, ela tinha um sorriso que beirava o sarcástico e o doce e usava um vestido lilás solto no corpo, totalmente diferente de suas roupas de trabalho que eram terninhos em tons escuros que combinavam perfeitamente com seu cabelo castanho e olhos azuis. Alexa Cambridge era uma mulher linda e conservada para a idade, olhando para ela daquele jeito nem parecia ser a advoga durona, esposa mandona ou mãe firme.

Jack sorriu e foi em sua direção abraçá-la, fiz o mesmo. Independente de todas as nossas diferenças em perspectiva de vida nos dávamos muito bem.

— Como foi a semana de vocês? - perguntou sorrindo docemente enquanto fechava a porta de entrada e nos encaminhava para o fundo da casa onde papai deveria estar com Annelise e Fluppy.

— Tudo normal, a banda tem um show daqui alguns dias e a data caiu bem já que as provas recém acabaram. - Jack respondeu prontamente.

— E você querida? Como está tudo? - mamãe não apoiava totalmente meu plano de fazer faculdade de artes plásticas mas também não questionava mais desde que entrei para a faculdade. Ela sempre tentava mostrar interesse no que eu gostava mas de fato ela não entedia muito bem.

— Tá tudo bem também, a faculdade eu estou amando cada vez mais e no Meninas da Arte as crianças estão cada vez gostando mais das aulas. - Meninas da Arte era o lugar onde eu dava aulas de balé para crianças que não tinham condições. Mamãe e papai amaram quando souberam que me juntei a ONG que fazia esse trabalho, os dois sempre apoiaram instituições de caridade e tentavam ajudar sempre que podiam.

Mamãe sorriu para mim e abriu a boca para falar algo mas antes de conseguir dizer o que pretendia foi interrompida por dois seres entrando feitos raios na sala de jantar onde estávamos.

Annelise pulou nos braços de Jack que estava mais à frente e Fluppy rodeou minhas pernas latindo. Me abaixei para fazer carinho no labrador aos meus pés e ele fez questão de lamber meu rosto. Mamãe sorria olhando seus quatro filhos interagirem - como amante dos animais ela considerava Fluppy como um filho também. Depois de abraçar Jack, Annelise veio aos tropeços me abraçar e nisso Fluppy foi em direção a Jack pedir atenção sendo o cachorro carente que era.

Annelise era a caçula, aos seus seis anos a menina de cabelos loiros e olhos castanhos era a alegria da família.

— Anne que tal deixar o papai matar a saudade dos seus irmãos também. - mamãe disse e então levantei o olhar para ver os dois abraçados sorrindo para nós. Papai era um pouco mais baixo que Jack, que havia superado sua altura aos dezessete anos, tinha cabelos loiros de um tom muito mais escuros que os de Annelise e os olhos castanhos que Jack e Anne puxaram.

Todos diziam que eu era a cópia de minha mãe, com os mesmo cabelos castanhos e a única que puxara seus olhos azuis, se não fosse pelo meu cabelo agora pintado de rosa seríamos mais parecidas ainda. Jack era uma mistura dos nossos pais, com os cabelos e sorriso da nossa mãe, olhos e personalidade calma de nosso pai. Annelise veio para balancear tudo sendo a cópia de papai, os cabelos e olhos eram os mesmos mas a personalidade inquieta e animada definitivamente era de nossa mãe.

Quando a pequena me soltou de seu abraço de urso fui em direção a papai que  era relativamente mais alto que eu. Tendo puxado a altura de mamãe eu batia no queixo de Jack e próximo ao nariz de nosso pai. Dele recebi um abraço de urso como da pequena Annelise, definitivamente ela era a cópia dele.

Depois dos abraços para matar a saudade de algumas semanas sem nos vermos, nos dirigimos a cozinha, conversando sobre amenidades da semana, para preparar a janta. Nós dias de semana havia uma cozinheira na casa já que papai e mamãe trabalham muito, sendo donos de um escritório de advocacia os dois passavam o dia todo no trabalho e as vezes ate viajavam por alguns dias. Exatamente por isso os finais de semana eram exclusivos para passar um tempo em família, quando éramos adolescentes Jack e eu odiávamos isso já que queríamos sair com nossos amigos mas com o tempo as coisas foram se ajeitando e entramos em um consenso.

— O que vai ser a janta? Eu to morrendo de fome. - Jack disse

— Eu também to morrendo de fome. - Anne disse dando ênfase no e de morrendo e botando a mão da barriga. Me fazendo rir e abraçar a pequena por trás fazendo cosquinhas nela, o que não era muito fácil devido à altura desproporcional entre nós duas.

— Nós vamos fazer pizza. Jack pode vir me ajudar. - mamãe falou botando um avental enquanto papai jogava outro para Jack.

— Porque eu e não a Harley? - protestou se referindo a mim pelo meu nome do meio como todos na família faziam.

— Você quer comer né? Com a Harley cozinhando não dá. - papai disse em meio a uma risada me abraçando de lateral logo depois.

— Ei, eu não cozinho tão mal assim. - no momento em que disse isso ninguém falou nada e só ficaram olhando para mim segurando suas risadas. Anne foi a primeira a começar a não se conter e logo depois todos soltaram a risada, inclusive eu que sabia que o que papai falou era muito verdade.

E naquela noite entre risadas, pizzas, abraços e atualizações sobre a vida de cada um eu percebi como sentia saudades de casa. Mesmo com todas as diferenças entre nós cinco ali éramos felizes e nos amávamos, isso é família e amor em sua forma mais pura. Pensando nisso sorri observando todos rirem pela trigésima vez no dia de algo.

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ª-Marshfield é uma cidade no Condado de Plymouth no estado de Massachusetts nos Estados Unidos. Fica na costa sul do estado à cerca de 48 minutos de Boston - capital de Massachusetts.

Desculpem pela demora para sair o capítulo dessa semana, andei ocupada com meus outros livros. Para compensar fiz um capítulo maiorzinho e espero que tenham gostado.
Agora me falem, surpresas com o fato de Jack e Olivia serem irmãos ou já esperavam por isso?

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