DOIS

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Júlia Pinheiro

Eu odeio meu chefe!

Isso não é nenhuma novidade hoje em dia, odiar seu chefe é até corriqueiro no mercado de trabalho, parece um pré requisito pra ser um empregado.

Mas o fato é que eu odeio meu chefe com todo o ódio que algum ser humano pode se ter.

Não pense que eu vivo em uma comédia romântica o de meu ódio pelo senhor Aguiar é amor escondido. Com toda a certeza que não!

Meu ódio com ele se estabelece apenas pelo fato dele me obrigar a entrevistar alguém que não quer ser entrevistado.

Cara, eu sou boa repórter, mas não sou a Madre Teresa de Calcutá. Eu não faço milagres!

Meu dom é conversar com as pessoas ao ponto delas me contatem seus segredos mais íntimos, por isso faço sucesso. Sou conhecida como a repórter da verdade, porque todo mundo fala a verdade pra mim, meus belos olhos castanhos escuros são um belo par de drogas.

Não que eu use minha beleza para conseguir o que eu quero, mas cada um usa a arma que tem e, bom, eu tenho algumas armas muito boas. Meu lindo cérebro e o corpinho gostoso que a genética me deu.

Minhas lindas e longas pernas já me conseguiram coisas que nenhum dinheiro pôde comprar: a confissão de um deputado federal que estava roubando.

Ganhei mais fama do que já tinha, além de vários zeros na minha conta.

Lógico que, com o trabalho que faço, eu tenha conseguido muitos inimigos, mas valeu a pena cada um dele. Como diz o ditado, né, só chama a atenção aquele que incomoda.

Mas, voltando ao meu ódio mortal para com meu chefe, dessa vez o senhor Aguiar pegou pesado.

TheBest é o cara mais incógnito que já conheci - no caso apenas de falar mesmo, já que ele nunca quis me ver -. O Cara é famoso não pelo rosto ou pelo corpo, mas é famoso pelo que ele é capaz de fazer com as mãos.

Ele desenha, pinta, faz quadros e mais quadros incríveis que conquistaram o mundo inteiro. O último quadro que ele vendeu saiu por nada menos do que dez dígitos. São tantos zeros que eu me perco bem no meio.

O tal Fera não quer conceder nenhuma entrevista para ninguém. Ele está fazendo sucesso a mais de dois anos e até agora ninguém nunca viu o rosto dele.

Ninguém.

Ele tem um assessor difícil, nossa que homem difícil. Esse cara nunca permitiu ninguém chegar perto do tal Fera. Nem mesmo saber o básico, tipo idade ou aparência. Quem sabe me dizer o nome dele. Eu não ia contar pra ninguém.

Eu só queria que essa merda desse cara me concedesse essa merda de entrevista pra eu sumir dessa merda de cidade!

Eu bufo mais uma vez e encaro o volante do meu carro. Andei mais de cinco mil quilômetros com esse bebê e não sei se ele aguenta muito mais depois disso.

Eu olho a imensa casa pelo retrovisor. Essa casa sempre foi a casa assombrada da cidade, o lugar onde ninguém nunca, jamais, entrou.

Eu sempre tive medo dessa casa. Sempre tive um medo da porra desse lugar, mas aí o maluco do tal Besta ou Fera, sei lá como ele prefere ser chamado, ele comprou esse lugar, reformou, deixou com cara de casa e, quando eu estive lá no portão, eu sou queria entrar e ficar lá. Parece casa, saca?

Eu não entendo muito bem o sentimento que esse lugar me trás, poucos lugares me trás esse sentimento, só dois na verdade. Minha própria casa e a casa da minha melhor amiga.

Minha melhor amiga. Eu deveria socar minha própria cara por ser uma amiga tão péssima assim. Eu não vejo minha melhor amiga a mais de dois anos. Não que a distância tenha deixado nossa amizade enfraquecida ou qualquer merda do tipo, mas eu estou com saudade do abraço da minha pestinha.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Where stories live. Discover now