CINCO

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Júlia Pinheiro

Eu me arrasto pela costa verde que cerca a propriedade do tal ferinha das pinturas.

O lugar parece um hotel fazenda cinco estrelas e deve ter um três hectares no mínimo, eu já rodei essa merda de lugar todo e não acho uma porra de entrada nessa merda.

Eu limpo o suor do meu rosto e fico pensando na lasanha que tia Nenê disse que ia fazer hoje. Bem suculenta, cheia de queijo e com muito molho branco.

Puta merda, que fome!

Já se passam das cinco da tarde e tudo que eu comi hoje foi uma merda de uma maçã. Que eu comi as nove da manhã, que fique claro.

Eu tô morrendo de fome. Com sede e com uma vontade de fazer xixi da porra.

Mas eu estou presa aqui até descobri qualquer porra que eu puder. Já se passaram cinco dias que eu estou nessa cidade e não consegui nada. Absolutamente nada.

Nos primeiros dias Millie me levou pra reconhecer a cidade como ela chama. Fomos a restaurantes, a sorveterias e até ao pequeno shopping local. Tudo bem que esse último lugar me assustou um pouco. Quem diria que em Madalena tinha shoppings? Ta que não passa de um prédio de três andares com algumas lojas, mas tá melhor do que era.

Eu não fiz mais nada além de comer e tentar descobrir alguma coisa desse cara, mas ninguém na cidade sabe dele. Acham que ele é um doido, sei lá.

Todas as vezes em que perguntei dele pela cidade me falaram absurdos sobre ele. Que ele não sai de casa, que ninguém conhece o rosto dele, que ele tem peculiaridades estranhas, manias estranhas.

Eu tenho até medo de saber mais sobre isso mas meu instinto diz que isso é um exagero. Que as pessoas estão falando merdas e isso só me atrasa cada vez mais.

Eu odeio a sensação de não estar fazendo a coisa certa, de estar fazendo merda. Vou acabar demitida no final desse mês.

— Garota, você vai passar o dia todo aí? - eu tomo um susto da porra e acabo me jogando ainda mais atrás da moita onde eu achava que estava escondida

Um homem alto de pele escura, olhos e cabelos também escuros, com um porte de segurança fodão que só me deixa de pernas bambas.

— Eu... - eu engulo em seco com medo dele ligar pra polícia

Não posso ser presa. Não de novo.

Tá, eu não fui presa, presa. Eu só fiquei uma noite na cadeia por invasão de domicílio. Graças a um amigo de um amigo que trabalha dentro da PM de São Bernardo do Campo, em São Paulo que eu não tenho ficha.

Mas se eu for pega de novo por invasão de domicílio ou de privacidade eu tô ferrada. Vou ser presa com certeza.

— Oi. - eu abro um sorriso igual do gato da Alice, não me pergunte o nome porque eu não faço a menor idéia só sei que ele é o gato da Alice

— Você está com fome? - eu sou pega de surpresa já que não esperava por isso

— Vai envenenar minha comida? - ele ri negando e perde um pouco a pose de "fodão", só um pouco

— Não, menina, eu sei que você está aqui a horas e tá sem comer esse tempo todo. - ele estende uma sacola e eu me levanto do chão curiosa pra saber o que tem nela

Ao abrir me deparo com uma garrafinha de água, um pacote de biscoito, uma maçã e um pão com queijo e presunto. Eu olho pro segurança tão emocionada que só consigo abraçá-lo.

— Moço, o senhor não faz ideia da fome que eu tô sentindo. Obrigada mesmo, salvou meu estômago. - ele ri

— Tudo bem, mas não foi nada. O senhor André deixou ordens para a gente vigiar a senhora. - eu me afasto e encaro o negão a minha frente

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Onde histórias criam vida. Descubra agora