OITO

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Júlia Pinheiro

— Você é tão clichê. - eu reviro meus olhos quando ela me diz a cor outra vez — Rosa? Sério?

— Quando eu sonhava com esse momento as cores eram branco e rosa. - ela dá de ombros e vira a página da revista que está lendo — Mas não é rosa choque, é mas um rosinha clarinho, um tom pastel. - ela me olha por cima da revista — Não faz essa cara, o casamento é meu e eu escolho as cores.

— Tudo bem. - eu levanto minhas mãos em rendição — Só acho bem clichê, só isso.

— Clichê seria se fosse vermelho. - tia Nenê diz empurrando o pé da filha de cima da mesinha à nossa frente — Nem parece que eu te dei educação, menina.

— Mamãe, somos as únicas aqui, até as atendentes nos deram privacidade. Só estamos esperando a designer chegar com os nossos vestidos.

— Mesmo assim se comporta. - tia Nenê tem passado por semanas difíceis

— Alguma novidade do Thiago? - eu pergunto depois de um tempo em silêncio — Só por curiosidade mesmo.

— O Arthur foi se encontrar com ele hoje. - eu franzo a testa

— Não sabia que ele precisava de advogados, Millie, achei que era algum problema de saúde. Bom, foi isso que a tia Nenê disse semana passada. Lembra? - as duas se entreolham e dão de ombros em uma sincronia perfeita

— Não sei ao certo, só sei que meu filho tem passado por dias difíceis. - tia Nenê respira fundo — Mas vamos deixar isso de lado por um segundo e focar em experimentar os vestidos.

— Por mim tudo bem. - eu digo tentando deixar a pulga que está atrás da minha orelha sossegada, pelo menos por enquanto

Não demora muito até a estilista chegar com os vestidos. É a única estilista da cidade e ela fez questão de fazer o vestido de noiva da Millie. Claro, quem não queria ter a assinatura no vestido de noiva do casamento mais badalado da cidade?

— Eu trouxe logo os quatro, achei que sua sogra também viria. - a estilista fala e eu fico com a sensação de já ter a visto em algum lugar

— Dona Tereza vem só faltando uma semana para o casamento. Vir duas vezes assim de tão longe não dá. - Millie explica e eu afirmo

A mãe do Arthur mora em Florianópolis e detesta andar de avião, então complica tudo. O marido dela, seu Adair, disse que vai dar um remedinho pra ela vir de boa no avião. Eles são muito engraçados.

— Giane, cadê meu vestido, mulher. - espera, ela disse Giane?

— Oi? - eu engulo em seco — Tú só pode tá de sacanagem com minha cara. - Millie abre um sorrisinho sem graça pra mim — Você tá falando sério, Jamille?

— Ah, Júlia, foi a tanto tempo! - eu fico olhando pra ela com a mesma cara chocada de sempre

— Espera, Júlia? Júlia Vitória? - eu não olho pra peste que ainda segura o vestido que vou usar — Nossa, eu nem sabia que você tinha voltado.

— Ótimo, afinal da minha vida cuido eu. - eu levanto do sofá e pego minha bolsa — Vou dar uma volta. - Millie tenta segurar minha mão mas eu desvio do seu toque

— Amiga... - eu a deixo falando sozinha e saio do único atelier de noivas da cidade

Isso é uma puta sacanagem da Jamille, uma das grandes, uma fudida. Ela sabe muito bem que eu sempre odiei essa merda dessa garota e ela me arma um encontro surpresa com ela?

Eu deixo meus pés me levarem pela cidade e nem percebo quando chego a pracinha. O dia ensolarado mas ameno faz com que a praça esteja moderadamente cheia. Velhinhas se exercitando nos aparelhos de ferro instalados na parte de menos movimento, crianças brincando no parquinho enquanto barraquinhas de doces permeiam por um lado ou outro.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Where stories live. Discover now