UM

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Thiago Gonçalves

O brilho do entardecer me acalma, faz com que meus medos sejam dissipados. Logo eu, o cara mais medroso do mundo.

A luz entra pela janela do meu escritório. O meu lugar favorito do mundo inteiro. É aqui, em meio às telas, as tintas e ao conjunto de complexidades que minha mente parece entrar em ordem. Pela primeira vez na vida.

Todo dia é assim, todo dia eu tenho esse pequeno momento de prazer. Mesmo em dias chuvosos, onde não se pode ver o sol, o sentimento não muda. Só saber que está acontecendo já me acalma.

— Thiago? - eu olho pra trás e vejo minha amiga me sorrir

Marcelina é minha melhor amiga no mundo inteiro. Ela sempre cuidou de mim desde que éramos pequenos. Ela ainda cuida de mim hoje em dia.

— Sua mãe pediu pra você ligar pra ela hoje. - ela diz se aproximando de mim

Eu apenas afirmo quando ela chega ao meu lado. São poucos os momentos em que eu falo algo, sou o cara mais de ações do que de palavras.

Eu, na verdade, me sinto num conto de fadas. A minha vida parece uma recriação da história infantil "A Bela e a Fera", mas no meu caso não existe Bela nenhuma.

Eu sou a Fera. Solitário, trancado dentro dessa casa. Não que eu esteja reclamando ou querendo mudar isso, ao contrário. Eu amo morar aqui isolado de todo mundo. Mas dói esse isolamento.

Isso não começou agora, sou assim desde criança. Fui diagnosticado com Hikikomori quando tinha cinco anos. Muitas pessoas me viram como coitadinho, mas não sou.

Pra quem não sabe Hikikomori é a síndrome do isolamento. Eu não curto multidões, eu não curto pessoas no geral, gosto do silêncio, de mim e da solidão.

O fato de não ser igual a todo mundo, de gostar de multidão, de preferir meu silêncio ao barulho, não significa que sou um pobre coitado. Só que eu sou diferente.

Minha mente é analítica, eu analiso tudo antes de agir. Eu consigo pensar milhares de cenários diferentes em menos de um segundo e isso compromete meu cérebro.

Mas, fazer o que eu faço, ajuda. Pintar começou como uma terapia. Era só pra expressar os meus sentimentos, meus pensamentos e acabou se tornando parte de mim.

Eu não me acho bom, nem acho que minhas telas são tão boas assim como todo mundo diz, mas faz sucesso e, graças as minhas pinturas, hoje sou um dos milionários do Brasil.

Eu vejo isso como uma idiotice sem tamanho porque eu não sou de gastar dinheiro. Só gastei meu dinheiro comprando essa casa que eu era apaixonado desde a infância.

Essa casa era a casa mais linda de todo o mundo. Eu a via de longe por ela ser no alto de uma colina. É como se fosse um castelo, bem parecido na verdade, e era minha paixão infantil. Quando tive dinheiro suficiente eu fiz uma proposta e comprei o lugar e hoje sou o dono da casa assombrada da cidade.

É engraçado pensar isso porque algumas pessoas realmente acham minha casa assustadora, mas não é. Tudo bem que ela é enorme e toda de madeira de lei, mas é limpa, clara, com janela amplas e um quintal enorme que só me deixa cada dia mais apaixonado por ela.

Apaixonado. Essa palavra não é muito comum no meu vocabulário, principalmente depois do acontecimento.

— Pensando em quê? - eu olho pra minha amiga dando de ombros — Vai negar mesmo a entrevista?

— Não faz meu estilo, Lina. - ela afirma e deita a cabeça em meu ombro

Ainda olhamos para a paisagem da janela. Os raios do sol sobressaindo pelas nuvens espessas que me diz que logo choverá.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon