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♣♣♣

Só espero não deixar,
que as águas me levem deste cais.
Em sua forma bruta,
podem para o fundo nos arrastar.

Suzane desconfiava onde poderia estar sua amiga, ao ar livre como não poderia em metade de um dia, e Mirela conseguira se acalmar — em parte. Ainda assim a outra enfermeira preferiu não aproximar-se mais...

— Limpamos tudo, mas apareceram uns caras lá embaixo. Dissemos você que voltaria logo. Que precisou de um intervalo. Acho que não perceberam nada... — Suzane relatou.

— Perceberam sim. — garantiu. — Daqui sinto o cheiro do sangue, e são três andares!

— Ah, desculpe. É a minha roupa. Caiu um pouco de sangue quando aqueles dois... Mir, vamos precisar fazer campanha de doação de sangue.

— Eu sei. Já falei com a Vera Rosa. Tem o que? Quatro ou cinco meses da última... Os doadores mal recuperaram o sangue que doaram, e pediremos mais. Não teremos tantos doadores...

— Podemos... fazer campanhas em faculdades e... ônibus de coleta espalhados pela cidade. — sugeriu.

— Sim, vou contatar algumas clínicas veterinárias também. Sangue de cães é horrível, mas ainda é melhor do que passar fome ou atacar alguém... — concordou.

Pegou o telefone para falar com Oscar, impaciente em não ser atendida no segundo toque.

— Mana. — atendeu Oscar.

— Volte para casa uma hora antes do anoitecer. — Mirela pediu.

— Aconteceu alguma coisa?

— Apenas volte para casa. — insistiu irritada.

— Prometo ir mais cedo, e não me arriscar como ontem.

— Uma hora antes.

— Uma hora antes não vai dar, não...

— Quer fazer o favor de obedecer? Não foi a merda de um pedido. Esteja em casa uma hora antes do amanhecer. — ordenou.

Oscar reconheceu aquela voz, ignorando o tom. Era uma voz de liderança, em ameaça e transparecendo toda a irritação ao ter de repetir a ordem, e concordou que seria melhor não se desgastar com aquilo até saber o que acontecia. Era uma voz que que precisava obedecer.

Mirela olhou para Suzane, que não expirou após a última inspiração, com a respiração segura pela surpresa de nunca ter estado diante de uma fera irritada, que também era sua amiga, e apenas aquilo a apavorara.

— Desculpe por isso. — disse com a conhecida voz.

Suzane respondeu com o indicador dobrado ao lado dos lábios, e de imediato Mirela retraiu seus incisivos que não percebeu terem saltado novamente.

♣♣♣

Débora deixou a irmã quieta após receber ordens com a mesma voz de liderança usada horas antes. Mirela estava frustrada em não poder atender tantos dos seus, e por ser algo que não poderia explicar a eles. Poderia apenas esclarecer aos seus superiores, a quem pediu um encontro, para breve, se possível mais tarde naquela mesma noite. Então colaboradores entregariam bolsas durante o dia, para que estes não oferecessem riscos ao sofrer privação.

Devido a isso o caçula foi recepcionado por Débora quando as portas se trancaram uma hora antes do amanhecer, sem riscos, após a passagem da moto.

— Sabe o que está acontecendo? — perguntou Oscar tirando o capacete.

— Pediu que eu te acompanhasse ao quarto dela. — Débora respondeu.

Sob as PresasWhere stories live. Discover now