1. O Nome da Espada

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Os passos se perdiam em meio às risadas

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Os passos se perdiam em meio às risadas. Na noite, as tochas acesas nas mãos dos aldeões em polvorosa faziam suas sombras cobrirem a garota dos pés à cabeça. Não demorou muito, entretanto, para que ela estivesse sob refúgio das árvores e da mata, cada vez mais escondida. A espada balançava em suas costas, presa à bainha, e a ponta dourada do cabo refletia a luz tímida da lua. Suor escorria pelo rosto; medo da morte gelava sua pele, o coração afoito em batidas desesperadas. Um sorriso rasgava os lábios, porém. A garota estava feliz. Ela só queria gargalhar.

Sibom Ternura ficava num pequeno vale e o acesso se dava através dos dois morros, conhecidos como os Verdes Namorados. O menor deles, Cáspio, descia até um bosque de árvores densas, onde se escondia toda sorte de bandido. A menina corria ao abrigo da mata, os olhos faiscando sobre a careta travessa e o capuz. Era pequena e meio roliça, mas nem um pouco desengonçada: as pernas eram ágeis contra a terra; veloz como se o corpo fosse alado. Correu, correu e correu. Só foi parar quando teve a certeza de que os aldeões a haviam desistido de alcançar.

Ela abaixou o capuz, deixando-se cair no chão, e encostou num tronco de árvore, um suspiro escapando dos lábios. E riu mais uma vez, balançando a cabeça.

No peito, ainda podia sentir o coração disparando, do jeito que ela gostava. Esticou as pernas sobre a grama, estalando todas as vértebras que conhecia do corpo.

— Otários — murmurou, sorrindo com os olhos. — Depois eles ainda vai me agradecer.

Tirou a espada das costas, ainda na bainha, e admirou-a. O couro era preto, tracejado com linhas douradas, e tinha um selo bonito na parte de cima no formato de uma árvore grande, símbolo da Coroa de Tomi-Sulim. Abaixo, havia alguma coisa escrita, mas a garota não sabia o que significava. Ela não sabia ler.

— Tu é bonita pra dedéu, viu? — disse para a espada, como se a estivesse cortejando. — Num 'credito que eles deixava tu parada numa parede sem graça.

Tirou a lâmina da bainha e os olhos arregalaram. Era mais longa que o braço da menina, porém elegante, cintilando num prateado a ofuscar a própria lua lá no céu. O cabo dourado devia ser folheado a ouro, mas parecia muito confortável de segurar.

Na lâmina, a garota viu os próprios olhos refletidos — bolotas castanhas cheias de energia — e, depois, todo o sangue que devia ter escorrido por aquela arma. Os lábios se curvaram em mais um sorriso. Estava repleta deles.

— Tu deve ter pertencido a algum grande cavaleiro do passado, num é? — conjecturou.

Mordeu o lábio e repousou o objeto na grama por um instante. Colocou-se de pé e tornou a empunhá-lo, com toda a cerimônia que ele merecia.

— Como é que tu foi parar naquele lugar sem graça, hein? — Coçou a cabeça com a mão livre, dando de ombros. — Eu aposto que eles num vai nem dar falta. Bando de bundões. Mas num se preocupa: agora tu tem uma dona de verdade. Muito prazer. Eu sou a Fíbia.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora