2. Uma Antiga Adaga

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O primeiro sol da manhã transformava o pequeno povoado de Enseada numa faixa fúcsia de luz, árvores e areia

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O primeiro sol da manhã transformava o pequeno povoado de Enseada numa faixa fúcsia de luz, árvores e areia. Sempre estava quente no extremo sul do reino de Tomi-Sulim, embora às vezes batesse um vento e as nuvens dançassem pelo céu. As cigarras cantavam mais alto do que os pássaros naquela região e, a partir da encosta, um calor ia subindo conforme você ia descendo, até chegar no mar. De cima, dava para ver a massa azul abraçando a praia e, ao longe, os pedregulhos da chamada Ilha de Pedra. Um pacato paraíso, distante do agito das demais cidades do reino.

O casebre que Petris e Fíbia estavam ocupando na região ficava afastado dos demais, próximo à floresta, na parte mais alta do monte que descia até o vilarejo. Virando para trás, dava para ver os Verdes Namorados à distância, tocando as nuvens. À frente e mais abaixo, as casinhas de Enseada terminavam numa grande doca, onde os pescadores já começavam a se reunir para mais um dia de trabalho.

Os irmãos abriram a porta do casebre e tentaram entrar sem fazer barulho. No mesmo momento, deram de cara com um brutamontes e quase tropeçaram para o chão.

— Onde que 'cês tava? — inquiriu aquela voz grave e carregada.

Bogeis não era alguém que deixava poucas impressões. Seu tamanho intimidava — era tanto que o sujeito tinha dificuldade de passar pela porta —, também era forte e musculoso, quase como se fosse uma parede de tijolos. Tinha a pele escura, olhos claros esbranquiçados e usava trajes que complementavam sua aparência bruta. Ficava de botas e calça até mesmo no calor de Enseada, as mangas da túnica arregaçadas sobre os bíceps. A coisa que mais chamava a atenção no sujeito, por outro lado, tinha de ser a barba: densa e desgrenhada, parecia uma nuvem preta colada em seu rosto, de dar inveja em tudo que era macho.

Petris engoliu em seco, ouvindo o coração disparando debaixo do peito. Os dedos das mãos se remexeram descontrolados, como ficavam toda vez que o menino estava nervoso.

— A-a gente... — começou a gaguejar, mas Fíbia o interrompeu:

— Vamo' pra algum lugar?

Ela apontava para a mesa da sala, repleta de apetrechos. Petris franziu o cenho.

Estava abarrotada com bolsas de couro, mapas, tônicos medicinais, comida embrulhada...

Bogeis sorriu de soslaio, caminhando em direção a uma sacola de pano em cima de uma cadeira.

— Recebi uma mensagem na madrugada. — Deu de ombros. — Era um conhecido. Ele precisa que eu leve este pacote até um vilarejo a nordeste daqui. Vamo' sair hoje mesmo, logo depois do café, então se preparem, vocês dois.

Fíbia caminhou até a parede onde eles guardavam as armas: as espadas e o arco-e-flechas de Petris ficavam pendurados de ganchos de ferro.

Enquanto Bogeis não estava olhando, ela pegou a espada roubada e a colocou junto da velha. O garoto fez uma careta.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora