12. O Coração da Terra

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As batidas soavam como um coração

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As batidas soavam como um coração.

Os rosas do amanhecer cresciam a partir das copas das árvores. Os passos das crianças na estrada de terra, junto à melodia angustiante das cigarras a anunciar mais um dia de calor por vir, podiam ser o único som a ser ouvido naquele final de floresta. Não havia conversas, cantorias ou distrações e o cansaço transbordava de todos os rostos, entre caretas, mordidas de lábio e bicos de pato. Os pés reclamando e as testas molhadas de suor serviam só para atestar aquilo em que todos estavam pensando: quando é que, afinal, poderiam descansar?

O garoto dos olhos sem vida cruzou os braços sobre o peito, a careta travessa brilhando com as gotas de suor.

— Quando que a gente vai chegar, hein, dona Epinelda? — Suspirou, mordendo o lábio. Carregava nas costas um arco desses de atirar flechas, mas não tinha flecha nenhuma consigo. — 'Tamo andando a um tempão e nada desse vilarejo.

As outras crianças — quatro no total — olharam para ele, mas não disseram nada. Os rostos aflitos já diziam tudo.

Tum-tum, tum-tum.

A única pessoa naquela comitiva que parecia ainda reter um cadinho de energia no corpo era aquela mulher. Epinelda tinha os cabelos ruivos presos para dentro de um enorme chapéu de palha, as calças dobradas até a altura dos joelhos brancos, uma camisa também de mangas arregaçadas, porém um semblante inabalável e confiante, do qual despontava quase um sorriso de vez em quando, os olhos verdes sempre repletos de entusiasmo. Parecia radiante, apesar do calor e da longa caminhada. As crianças não podiam compreendê-la.

— Amedoína fica logo depois dessas árvore — afirmou a mulher, colocando a mão na cintura e encarando firme à frente. Um único fio de cabelo, rebelde, escapulia do chapéu e descia em ondas até a altura do queixo. — Ocês consegue 'guentar mais um pouquinho de caminhada que eu sei. Parem de reclamar ou só vão ficar ainda mais fedidos de suor.

Uma das garotas, a que usava um rabo de cavalo e tinha um rosto que lembrava vagamente o de uma lagarta, bateu com o cotovelo na barriga do menino dos olhos sem vida.

— Ai! — ele resmungou.

— Foi só o idiota do meu irmão que reclamou! A gente aqui num disse nada.

O rapaz olhou de soslaio a menina e fez uma expressão jocosa.

— Vocês num disse, mas é o que tá na cara, que eu num sou bobo. 'Cês são um bando de molengas!

A outra garota do grupo revirou os olhos.

— Ah, cala essa boca, vai, Péter. Num tô com humor pra te aguentar hoje não. Faz esse favor pra nós.

O garoto sorriu, convencido.

— Só se tu calar a minha boca com um beijo, Medala. Aí eu prometo que fico quietinho.

O Presságio do Sineiro: Rastro de FogoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt