Capítulo 13

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A noite já se apossava do céu, as estrelas riam de mim brilhando tão alegres, cruzei os braços sobre o colo protegendo-me da brisa gelada. Minha cabeça girou sobre o ar tão puro que era ali fora, nada comparado ao Arriba. Aquele nome trazia-me o que eu não queria pensar. A conversa extremamente cansativa que tive com Chino, as ameaças, as tentativas de... Porque? Porque ele queria que me afastasse da única pessoa que me fazia bem? Porque ameaçara matá-la se não o fizesse...as perguntas sem respostas, o estimulo do vicio que eliminara por tantos dias. Quando entrei na boate com Lucho tudo acabou para mim. Tudo. O cheiro de droga foi à primeira prova disso, dei-me conta que não poderia lutar contra isso. Depois veio ele. Sua raiva por mim exposta nos olhos negros. Os tapas não foram suficientes para raiva cessar, colocou o vício em minha frente, fez-me implorar por aquilo, humilhou-me. Jogou na minha cara o tipo que eu era e que iria pagar por tudo que fizera passar.

Surpreendeu-me atirando uma foto do corpo morto de Beltrán. Era um canalha da pior espécie por fazer aquilo, ele não sabe o quanto me segurei naquele momento. Chamou minha mãe de vagabunda e negou-se a dizer onde havia enterrado ela, afrontei-o contra isso transbordando toda raiva rebatendo as acusações, até ele mencionar... Valentina.

Foi como o fim do mundo chegando, foi como se minha voz sumisse e meu coração fosse esmagado. Ele me tinha nas mãos e não poderia mudar aquilo. Estou me perdendo cada vez mais, tentando competir com coisas que não posso lutar. Queria ser apenas eu mesma, mudar meu jeito em vez de sempre ser fraca. Mas eu não consigo sozinha e agora a única pessoa, meu porto seguro. Ela não está comigo. Eu não posso procurá-la. Eu tenho que afastá-la para não causar-lhe mal. Eu não quero ter medo. Eu não quero... Eu não quero... DROGA! Eu tenho medo, muito medo. Sinto-me perdida, com um vazio dentro do peito.

De repente percebi para onde ia, apertei os olhos e não sei por que escolhi aquele lugar. Só traria lembranças ruins, mas pensando bem pior do que estava não poderia ficar. Parei em frente à casa, as luzes apagadas e tudo do jeito que eu me lembrava. Entrei pelos fundos e observei os moveis cobertos por lençóis brancos.

"— Vai ignorar seu papai vagabunda? Que acha de um programa hein?"

A voz de Beltrán pareceu irromper da antiga casa. As lembranças corroeram meu cérebro a ponto de poder escutar sua voz ecoar pelos cômodos e visualizar seu corpo como o havia deixado. Subi as escadas observando a volta, sentindo meu corpo fraquejar a cada passo dado. Irrompi no quarto que ocupava antigamente. Muitas coisas daquele recinto traziam-me lembranças e não queria pensá-las queria destroçá-las, queria esquecê-las para não sofrer mais. A raiva apossou-se de mim, num surto de obsessão comecei a derrubar e quebrar tudo daquele quarto. Rasguei os lençóis, destruí os espelhos e derrubei os móveis. Porta retratos de uma Juliana que não existia joguei contra parede tornando-se migalhas. Acabara com tudo, desistira de tudo. Sentindo-me exausta deslizei ate o chão encostando-me na parede mais próxima. Olhei o que antes era um quarto, pensei no que era minha vida e aos poucos senti meu rosto encharcar-se. Queria lançar tudo para o alto e chorar, mas eu era orgulhosa demais para isso, não queria lágrimas, não precisava delas. Naquele instante só queria uma coisa: voltar algumas horas, só queria estar... com ela.

Sentindo-me única, normal. Poder sentir seu cheiro e acalmar-me só com aquilo, poder contar com a proteção de seus braços a minha volta. Porque era privada daquilo? Porque um homem que eu odeio tinha o poder de controlar minha vida? Ah você tem a resposta Juliana, o seu maldito vicio...é ele que te controla. E não podia evitar, não resistia, não é? Além do mais sempre tinha alguém parado a minha frente para puxar o pé, apunhalar minhas costas e afundar-me de novo. Enterrei o rosto nas mãos fixando o chão. Mirei meu próprio reflexo num pedaço de espelho bem na direção de meus olhos. Sentia-me tão diferente, meu rosto estava tão magoado. Odiava o que via, repugnava-me por ser assim.

Mi Vida Sin TiWhere stories live. Discover now