1 / OS DEVASSOS DA FAZENDA ALVORADA

10.5K 312 200
                                    

MINAS GERAIS, 1996

Eram três — Joabe, André e Jean. Devassos do jeitinho que o diabo gosta. Tipos simples, xucros, criados a vida toda no mato, embora, ao mesmo tempo, desejados, mulherengos. Não tinha naquelas redondezas uma só que já não tivesse sentido o coração bater forte por um deles. Até a dona Joana, coitada, mulher séria, metida a religiosa, tinha um fraco pelo trio de peões.

O primeiro, Joabe, era um moreno de pernas grandes tanto quanto a sua curiosidade. Não escondia de ninguém a vontade de ser mais do que era dentro da estância, mas diziam que ele ainda era muito moleque. Tinha que ter paciência, deixar as coisas acontecerem por conta. E foi tendo paciência que o rapagão de olhos cor de mel, peito desenhado e braços rijos conheceu as camas de algumas moças que já tinham passado por lá — e sem ser esquecido por nenhuma!

O segundo deles, André, fazia o tipo misterioso. Alto, tronco forte, uma fisionomia pouco simpática. Sempre quietão, o par de olhos verdes vivíssimos é que falavam por ele. E como falavam. Nunca deixava de ser assunto e despertar a curiosidade das moças, este rapaz. Talvez por ser decerto indecifrável. Ou talvez por apenas ser mais do que fazia questão de mostrar. Nunca souberam ao certo. Mas bonito, isso o danado era. Tinha mais coxa e bunda que peito e braço, coisa de genética, e dentro de jeans e botas, aquele peão era mais que um homem: era uma pintura!

Já o terceiro do trio, o Jean, era o mais velho e também o capataz da estância do seu Jorge. Trinta e poucos anos, logo se via mais experiência nele e, justo por isso, as moças cochichadoras lhe dedicavam menos fofocas e fantasias. Para elas, Jean estava mais distante do seu alcance. Além de que ele não aparentava ser o tipo de homem que se deixa seduzir por moça novinha. Cabelos negros reluzentes e um olhar paralisador, o capataz era do tipo que, com toda certeza, tiraria o juízo da patroa ou da primeira-dama. O corpo era a própria visão do pecado: desenhado, viril, fosse pelo trabalho mais duro ou pelo acúmulo de experiência. Comentado pra cacete! Do peito, uma trilha de pelinhos descia se enroscando pela barriga rija até desaparecer dentro dos jeans. E as pernas, uh, deixa para outra hora... Até porque não é difícil imaginar como eram as pernas dele.

Três, portanto. Três homens xucros do interior que, todo dia, voltavam suando de escorrer do trabalho no fim da tarde.

Isso que vou contar sucedeu lá na Fazenda Alvorada, a fazenda do seu Jorge. Fazenda de gado leiteiro, coisa fina mesmo.

Cedinho, a dona Joana, uma senhora baixotinha e de competente culinária, já saía do curral com um balde de leite fresco, a alça numa mão e a ponta da saia na outra, toda aperreada, vindo para a cozinha preparar o café dos meninos. Os meninos, claro, são esses que acabamos de conhecer.

E um pouco depois dela, pela porta da cozinha, o trio de peões entrava se espreguiçando e bocejando quase sempre sem camisa, ainda de calção. A primeira vez que isso aconteceu, a dona Joana estava tão distraída em sua tarefa que, quando os viu, "Jesus!", não deu para evitar o susto! Tudo bem que, com o tempo, foi se acostumando, e até se aproveitando deles. Era uma mulher de certa idade, mas não estava totalmente morta! No íntimo, até achava mau quando o patrão estava em casa, pois os meninos já apareciam vestidos para o trabalho.

Uma vez, quando eles surgiram só de calção de dormir pela porta, a nossa cozinheira estava coando o café na garrafa. Distraída, a velha deixou o café fervendo pingar na sua mão, deu um berro e se jogou para trás, como num desmaio dramático. Não se sabe se chegou mesmo a sentir as pernas bambearem devido a queimadura, mas foi assim que sucedeu. E quando ganhou a atenção dos três, que vieram socorrê-la depressa, a velha Joana ficou deslizando nos braços de um e de outro, fazendo que passava mal. Dita sempre discreta com esses assuntos da carne, sempre muito religiosa e asseada, nenhum desconfiou que a velha só queria um pouco de bolinação.

No Colo dos CaubóisDonde viven las historias. Descúbrelo ahora