DEPOIS DA LEITURA: OS N9VE DEVASSOS

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Aqui, quatro personagens quentes revisitaram a fantasia mais básica da gente: homens livres, rudes, suados, em jeans e botas andando por aí, nas fazendas, nas selas dos cavalos

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Aqui, quatro personagens quentes revisitaram a fantasia mais básica da gente: homens livres, rudes, suados, em jeans e botas andando por aí, nas fazendas, nas selas dos cavalos. Pondo os patrões e a criadagem doida de desejo, e pondo doidos também a gente que os leu. Para dizer a verdade, acho que o estereótipo do hétero rude-carinhoso vai viver para sempre. É um fetiche que todos merecemos ter, quem sabe até um dia realizar.

Essa história que você terminou, a propósito, foi escrita há exatos 4 anos, lá em março de 2015. Foi um dos três primeiros contos eróticos que escrevi. Não lembro bem as circunstâncias, mas o que lembro é que os meus dois extremos sexuais — o de fantasiar e o de praticar — estavam em sua iniciação. Talvez por isso, por soar bobo e iniciante na sua primeira versão, esse conto tenha ficado todo esse tempo na gaveta, inédito, recusado por mim. Porque eu sempre o achei isso mesmo: um conto ingênuo.

Numa realidade vizinha da ficção, homens machões de sítios não aceitariam investidas suspeitas de um mimadinho de cidade grande sem antes haver um bom bochicho sobre a masculinidade do dito cujo, sem uma boa dose de retração, de ressaibo e básica troça homofóbica. O contrário disso é fantasioso e conveniente demais. Afinal, a gente até entende eles: o que é diferente assusta, e se assusta, é rejeitado. Base do pensamento prático e autoprotetor. O primeiro perfume do homem.

É natural que de 2015 pra cá eu tenha evoluído como narrador, só que antes evoluí também como leitor. E foi relendo esta história, já mofada do tempo, que tive a impressão de poder reintegra-la a qualquer senso de verdade, de fazê-la soar real finalmente, de torná-la tragável. O roteiro original, confesso, mudou quase nada. O texto primeiro que foi deixado com pouco mais de quatro mil palavras apenas ganhou outras quatro mil, e os pouquíssimos (embora imprescindíveis) diálogos me deram o tom exato para a análise psicológica e sensitiva de alguns dos nove personagens, sobretudo Jorge. Em nenhuma outra história minha eu havia exposto tão bem — e aqui cabe respingar o meu orgulho de autor — o painel das sensações, dos flashbacks e dos pensamentos numa trama de protagonismo oculto como fiz em No Colo dos Cowboys.

Foi aí que mudei de opinião, e cá estamos.

A leitura mais arrastada, narrada e, sobretudo, internalista, intrínseca, é proposital mesmo. Se você não gosta, é pena pois acho que a partir de agora os meus contos soarão mais sobre personagens interiores e interessantes que sobre ações exteriores e roteiros destoantes. E isso não é só rápida previsão.

Obrigado por ter lido. Mesmo.

Jesús Blasco
mai/2019

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No Colo dos CaubóisWhere stories live. Discover now