BÔNUS / RIO DE JANEIRO, RIO DE SAUDADES

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SEIS MESES DEPOIS...

A vida costuma passar rápido quando estamos assim felizes, e mais rápido ainda quando os motivos de nossa felicidade são correspondidos. Era só olhar para a cara de saudade que o Joaquim fazia lá, seis meses depois, enfurnado no Rio, lendo a carta que moça Nina tinha lhe mandado, para se ter certeza: felicidade é simplicidade, e ela vicia.

Nina foi quem lhe deu as boas-novas: escreveu que a madrinha, a dona Janete, talvez viesse ao Rio, pois tinha posto na cabeça que queria pois queria conhecer a cidade grande. E se viesse mesmo, Nina viria junto dela e visitaria Joaquim na universidade (aqui, ele radiou).

Escreveu também que Gustavo é quem era o capataz da estância agora, decisão de Jorge que pegou os peões todos de surpresa, mas que não surpreendeu a velha Joana que sempre repetia, misteriosa, que "naquele angu tinha caroço". Mas completou que o padrinho Jorge estava feliz por demais. Sorridente assim como não se via, sempre junto do capataz novo, e que, às vezes, até ia pousar lá com os peões no dormitório. Aqui, Joaquim sorriu.

Conforme avançava nos relatos de Nina, porém, o sorriso ia murchando. Joaquim caçou, caçou. Tornou a passar o olho expectante por toda a carta, frente e verso, mas não havia mesmo nada escrito sobre o peão André. Nem uma mençãozinha.

O nosso pimpolho desabou na cama, os braços abertos, o olho parado no teto. A mente, um pouco anestesiada das novidades, de saber que estavam todos bem, mas um pouco frustrada. Como a Nina podia ter esquecido de falar sobre o André? Logo ela, que foi a sua maior confidente durantes as férias?

Ele fez um muxoxo, decepcionado.

Era um domingo, a universidade ressonava no mormaço das três da tarde.

Joaquim dobrou a carta, a meteu no bolso e decidiu dar uma volta pelo pátio. Agora ia ficar pensando no André, ia ficar tentando imaginar o que a Nina não tinha contado, e a saudade dele ia apertar mais ainda.

Quando girou a maçaneta da porta e a abriu, deu um grito:

— Mamãe!

Janete vinha arrastando uma mala.

Depois do abraço, Joaquim girava inquieto a cabeça para um lado e outro, caçando se mais alguém tinha vindo com ela.

— Veio só a senhora?

— Claro que não! A Nina também veio, está lá no carro. Corre, vai ver ela.

Joaquim saiu correndo pelos pátios vazios até sair no jardim da universidade. Lá, no estacionamento, o táxi, um Gol GTi branco, estava parado. Pegou a moça Nina saindo pela porta. A agarrou num abraço truculento antes do interrogatório:

— Por que não escreveu do André pra mim?

— Porque ele quis vir junto.

O peito acelerou. O André saía do táxi pela porta do outro lado, um sorriso rasgando o rosto. Coisa que era rara era um sorriso dele. Joaquim ficou olhado, nem acreditava. Como só haviam eles ali, o nosso rapazola não achou mau matar a saudade beijando o seu peão na frente da Nina e do taxista, que assistiu à cena com um sorriso de espanto.

— Jovens têm que se aproveitar mesmo, e beijar muito — ele comentou com a moça Nina.

A visita ia ser breve, não podiam ficar muito. Joaquim os levou ao seu quarto, mostrou onde dormia, como era rotina, todas essas dúvidas. No segundinho que conseguiu escapar da mãe e da Nina para ficar com o peão André, se enfiaram no banheiro coletivo. A universidade estava silenciosa.

— Senti saudade.

— Também. Meu molecão...

— Nossa. Nem acredito que você veio.

— Tive que vir ver ocê. Chega doía dormir todo dia sozinho, ficar pensando na gente.

— Vou para lá nas férias de novo.

— Não vejo a hora.

— Nossa, estava com tanta saudades. — Joaquim sorriu. — Queria fazer uma coisa. Você deixa?

André sorriu de volta quando o nosso rapaz deslizou por ele, caindo de joelhos. Olhou para os lados e abriu o zíper da braguilha do peão. Seu pinto escapuliu pela fenda, grosso e quente, triplicando de tamanho. Joaquim primeiro deu um beijinho de boa tarde, e o meteu na boca. Ah, esse sabor. O sabor que só um peão tem. André gemeu. Agarrou a cabeça dele, ficou guiando seu movimento.

Nenhum dos dois percebeu um olhar furtivo que vinha de uma das cabines.

Quando todos já tinha ido embora, Joaquim voltou para o seu quarto, se esparramou na cama e ficou olhando para o teto com um sorriso besta na cara. Ficou com o cheiro dele no nariz, o gosto dele na boca. Ah, André — Joaquim não o tirava da cabeça.

Então, o Marcondes apareceu, e Joaquim sentou na cama escondendo a alegria atrás de uma cara fechada. O Marcondes era perigoso, gostava de zoar todo mundo. Era o terror do Joaquim.

— Quem era aquele cara? — Ele quis saber.

— Que cara?

— O que tava contigo no pátio?

Joaquim empalideceu.

— Funcionário do meu pai.

— Maior caipirão — Marcondes riu.

A cara de Joaquim ardeu. Ele queria rebater, mas se segurou. Melhor não.

— Aí, meu — o Marcondes disse, amassando pau inchado embaixo da calça —, agora eu saquei porque que teu apelido é chupetinha, bicho!

E veio se aproximando de onde o Joaquim estava sentado, amassando o pinto, a cara séria.

— Tu vai pagar um bola gato em mim igual tu fez nele, ou conto pra todo mundo que tu gosta é de pica grossa.

E fez seu pinto duro pular da calça bem na cara de Joaquim, que sorriu e pagou o melhor boquete que aquele rola murcha do Marcondes ia ter na vida.



Escrito em 2023.

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No Colo dos CaubóisWhere stories live. Discover now