10. the only time i feel alright is with you, there's nothing i wouldn't do.

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Lisa sabia que havia algo de errado.

Primeiro de tudo: sua mãe nunca entrava em seu quarto em nenhuma situação, além de supervisionar a bagunça da porta e gritar para ela levantar da cama e fazer algo além de jogar e estudar. Segundo: a última vez que ela havia sentado na ponta de sua cama, como estava naquele momento, e a fitado com as suas usuais sobrancelhas de remorso, fora para dar uma notícia muito ruim.

E terceiro, e mais preocupante: ela não aparentava estar estressada. Seu estado de espírito era sempre estressada.

— Oi, filha — se ajeitou sentada na borda de sua cama, a mão repleta de marcas de esforço agarrando a sua por cima do cobertor.

Lisa pausou That '70s Show na metade do episódio, tendo a cara congelada de Kelso gargalhando em meio a rodinha de maconha enquanto se erguia um pouco na cama para prestar atenção na mãe, o cobertor até acima do quadril e os cabelos molhados do recém banho caindo nas costas cobertas pelos pijamas.

— O que foi? A vovó está bem? — perguntou logo, a olhando preocupada.

Ela soltou uma risada nasal, aliviando um pouco a situação.

— Ela está ótima — assegurou, apertando seus dedos com firmeza e carinho. — Temos que conversar algo, nada que você precise se preocupar, mas quero que esteja avisada caso algumas coisas comecem a faltar aqui em casa.

Ela dizia com cuidado e pausadamente, os olhos fundos nos seus. Lisa se sentiu uma criança de novo, recebendo instruções para não falar com estranhos na rua.

— Sabe, quando a senhora diz para eu não me preocupar, é aí que me preocupo — se remexeu inquieta.

Ela suspirou.

— Querida, seu pai foi despedido do restaurante essa semana — acariciou sua mão ao noticiar, como se estivesse tentando a confortar em antecedência.

Lisa arregalou os olhos, engolindo em seco.

— Mesmo?

— Mesmo. E, pra combinar, as coisas não vão muito bem na concessionária comigo faz um tempo. Pedimos um empréstimo visando abrir nosso próprio negócio em longo prazo, mas houve umas dívidas e tivemos que usá-lo para não perder a casa. Estamos falidos e tudo está como uma bola de neve.

Aumentando cada vez mais.

— Mamãe.... e o que vamos fazer? — Lisa perguntou, se empertigando em seu lugar e ajeitando os óculos no rosto ao olhá-la assustada.

— Você nada, mocinha — deu tapinhas em sua cabeça. — Vai continuar como está, focando nos estudos e se divertindo como faz. Deixe a preocupação com os adultos, ok?

A garota negou com a cabeça rapidamente, os olhos arregalados.

— Não, mas eu posso ajudar, vou ajudar. Posso voltar a passear com cachorros dos vizinhos e cortar a grama, como fiz no verão para comprar a minha câmera. Posso tentar arranjar algo em meio período também... depois do colégio tenho tempo livre.

Sua mãe a interrompeu, levantando o indicador e o balançando.

— Nada disso, Lalisa — disse impassível. — Você tem apenas quinze anos, sua única obrigação é estudar e ficar longe das drogas.

— Faço dezesseis no final do mês — murmurou emburrada, cruzando os braços.

— Não importa, estou mandando.

— Quero ajudar...

Sentiu um aperto forte em sua mão.

— Apenas não se preocupe, vamos resolver tudo isso. Até lá, procure gastar menos. Estamos avisadas?

Polaroids & Stereos | ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora