Mesmo com a crença fixa da relatividade, tudo se resume ao interior, sempre.
O ser humano nunca é por inteiro o que mostra, às vezes, nem a si mesmo. Como civilização temos uma constante tendência de querer nos encaixar em moldes predefinidos que ao menos questionamos o motivo de ser dito como certo ou errado, e isso nos incita a ser controlados desde o início, pela urgência de caber nos padrões até mesmo que dizemos abominar. Mas, com a certeza absoluta, mesmo que mude tudo o que há por fora para ser aceito e caber, o que há dentro, ruim ou bom, vai permanecer.
É tudo sobre a essência da alma, sobre do que somos construídos e moldados.
Algo que Shakespeare citara, na famosa peça de Hamlet, é que o ódio do outro é nada mais que o medo de si. E Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray, também dizia que, a razão pela qual gostamos de pensar tão bem dos outros é que tememos a nós mesmos.
Sendo assim, vivemos em um constante medo de parar por um momento e perceber que nossas almas são corrompidas, que os moldes que nos forçamos a formar não adiantam de nada se por dentro as coisas nunca mudam. Temos medo de nós mesmos, de nossos pensamentos, do que nossa verdadeira essência é capaz de fazer.
Pois tudo, no final, se resume à ser amado e aceito.
○•••○
A caminhada de volta conteve todos os sinônimos de derrota que Lisa conseguiu listar na mente no período entre o centro até sua casa.
Ainda estava com o palito de madeira que antes sustentava o dakkotchi que Jennie havia lhe comprado entre os dedos, agora sem utilidade alguma, exatamente como ela estava se sentindo vendo tudo deteriorar em volta enquanto assistia. Bambeou ele pelos dedos esguios e depois mordiscou a ponta, inquieta. Jennie a deixou na esquina após dobrar para a rua que levava até seu bairro, em uma direção contrária de onde a maioria vivia. Então estava sozinha.
E longe, bem longe.
Ajeitou os óculos no rosto e suspirou, olhando para os tênis surrados se destacando do cinza sem graça e nivelado do asfalto. Já passava das 18h e sua mãe a mataria por ter perdido a hora do jantar, e por estar na rua depois de escurecer. Esperava que a desculpa do trabalho escolar funcionasse, ou então teria que dar adeus ao celular e ao videogame por duas semanas no mínimo, se ela estivesse de bom humor.
Mas essa era a menor de suas preocupações no momento.
— Consigo ver a fumaça saindo dos seus ouvidos de tanto que pensa — escutou a voz rouca e familiar a puxar de volta de seus pensamentos.
Estava tão avoada que mal percebera estar passando na frente da casa de Jisoo enquanto olhava para os próprios pés. E lá estava ela, com a traseira apoiada na cerca de tinta branca e gasta, um cigarro preso entre o indicador e o médio enquanto a face neutra pelo alívio trazido pela nicotina não anulava nem um pouco a decepção e o cansaço estampados em seus olhos.
Lisa se assustou de início, dando um solavanco em seu lugar. Mas logo a fitou com desconfiança ao ver o que carregava na mão.
— O que é irônico, pois quem está torrando os próprios neurônios com essa droga é você. — disse dura, com os braços cruzados e as sobrancelhas afiadas em uma clara expressão de desaprovação.
Jisoo apenas sorriu minúsculo de canto, tragou e soltou um suspiro alto ao liberar de seu pulmão. Se manteve quieta quando a tailandesa admitiu a derrota e se prostrou ao seu lado, esticando as pernas ao apoiar a base da coluna na cerca, imitando sua posição.
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Polaroids & Stereos | Chaelisa
FanfictionEntre as poucas dificuldades de Lalisa, seu maior problema era ser perdidamente apaixonada pela garota australiana e quieta da escola que ao menos sabia de sua existência. Porém, Park Chaeyoung era o ser que dava luz à sua vida com todos aqueles mol...