Lost in your strange trails

.2. fujo dos gritos de um fantasma

Love like ghosts / The night we met

      Enquanto percorria a trilha de sempre, pensava. Pensava principalmente sobre como me fazia sentir coisas que não podia explicar, você estava em todo lugar. Antes não entendia quando diziam que o amor é como um fantasma, mas como poderia, se nunca o havia visto tão de perto? No entanto, agora entendo: é como uma sombra, me segue para onde quer que eu vá. Está sempre presente, não abandona meus pensamentos, insiste em me fazer companhia. Mas é assustador ao mesmo tempo, por tudo isso que me faz sentir. É uma mistura de euforia e pânico: fico tão feliz que passo meus dias cantando, mas o terror me dá agulhadas no estômago, na ansiedade de saber se aparecerá à noite. É como se lhe desse permissão para me machucar, e ainda o fizesse de muito bom grado.

      Aumentei o passo, ouvindo repetidamente o som dos galhos se partindo e as conversas dos pássaros (estavam mais animados que o normal naquele dia), deixando pra trás a pequena cidade que se tornou minha casa depois que te conheci, e me aproximando cada vez mais da minha paisagem favorita - o cenário de todo o nosso tempo juntos.

      Entretanto, não te encontrei em lugar algum. Passaram-se horas e mais horas e tudo o que fiz foi ver meu reflexo ao lado da lua, naquele lago que parecia tão sem vida sem você por perto. Senti aos poucos o desespero tomando conta de cada parte do meu corpo. Atravessei a floresta, mas onde estava? Imaginei que sumiu por conta da noite passada; estava chorando e não me contou o porquê.

      E se na verdade você estava sumindo aos poucos? Sua pele parecia menos tangível a cada encontro, achei que era apenas impressão. Você se foi com o fim do mundo e do tempo? Se sim, nosso tempo havia se esgotado rápido, tanto quanto os raios do sol trouxeram a destruição de tudo isso que conhecemos, e essa era a pior notícia que eu poderia receber. Mas por que, de tudo, a única coisa que realmente sumiu foi você?

      O ar foi embora de meus pulmões e minhas pernas tremiam. Corri. Corri sem parar, por muito tempo, até não mais sentir meus pés. O canto dos pássaros ficava cada vez mais alto e se misturava com a sua voz. Estava gritando. Por que gritavas? Estava atordoado: você estava em toda parte, e, ao mesmo tempo, em lugar algum.

      Pensei que poderia resolver tudo se pudesse voltar para a noite em que nos conhecemos, apesar de começar a sentir que me arrependia desta. O alívio que aquela noite costumava me trazer, agora me estrangulava. Era quase como se me afogasse de dentro para fora.

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