.7. volto para o caminho

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Meet Me in the Woods

      Escuro. Não tinha chão, nem paredes: vazio. Sentia-me pesado, como se tivessem amarrado sacos cheios de areia em cada extremidade do meu corpo.

      - Esse peso é a escuridão. - Disse uma voz atrás de mim. Não conseguia me virar, estava tão pesado que mal me movia. - São os seus "demônios", por assim dizer. Carregou muitos durante a sua vida.

      - Onde estou?

      - Não importa, só precisa saber que está morto.

      - Eu morri?

      - Sim.

      - E onde está Louise? - Perguntei. A voz foi ficando mais alta ao passo que se aproximava de mim.

      - Não pode ficar com ela. Carrega pesos demais, enquanto ela está leve e voa.

      - Como um pássaro?

      - É, ela é quase um deles agora.

      Sorri. Talvez por isso os pássaros eram tão bons amigos.

      - E como posso chegar até ela? O que faço para me livrar desses pesos?

      Um riso sarcástico. Ele riu de mim, mas não vi graça alguma.

      - Devia tê-lo feito enquanto estava vivo.

      Fiquei angustiado. Passei todos esses dias procurando por você, e não a veria nunca mais? Injusto. Respirar se tornou uma tarefa difícil e lágrimas quentes inundavam meus olhos, mas já não eram de tristeza ou angústia. Eu precisava vê-la, fiz de tudo! Não era a morte quem ia me impedir.

       - Quero voltar. Mande-me de volta e deixarei todos os pesos no planeta. Depois que terminar, você me traz de volta. - Ele riu de novo, mas eu não estava brincando. Sua voz se alterou até ser uma completamente diferente; era a voz de meu pai.

       Acho que brigamos. Não estou certo de que tenha sido assim, mas lembro de uma batalha. Apesar de todos aqueles pesos, tentei enfrentá-lo. Não sei quanto tempo se passou, era como se este não passasse ali. Quando estávamos ambos cansados demais pra continuar, eu disse:

       - Você mandou meu fantasma pra lá, também mereço uma chance. - Era minha última carta.

       Ele deu um longo suspiro e tomou a forma de meu pai, parando bem na minha frente. Pousou sua mão em meu ombro, apertando de leve, como um pai prestes a dizer algo a seu filho.

      - Doze horas é tudo o que posso te dar. - Seus olhos velhos e cansados olharam no fundo dos meus, desapareceu aos poucos.

      Os sacos sumiram, evaporaram. Fui jogado pra baixo, depois pra esquerda, pro alto e para baixo de novo; quase como uma marionete.

. . .

      Procurava pela cidade fantasma. Estava no deserto, um carro se aproximou, um jovem ofereceu carona. Aceitei porque não tinha nada a perder. Doze horas. Estamos separados por doze horas, Louise. Caminhei até o fim do mundo.

. . .

       Voltei pro vazio, os pesos não estavam mais lá. Meu pai veio me dar os parabéns pessoalmente, depois se foi. Fui jogado para direita e para cima em seguida. O vazio foi tomando forma, estávamos numa floresta. Era noite e o céu mostrava todo seu conjunto de estrelas – os vivos não sabiam o que estavam perdendo.

      Quando enfim meus olhos focaram em algo, vi você. Quase desmontei, sentia que iria desabar de felicidade. Corri em sua direção o mais rápido que pude. Você estava na minha frente! Fiquei parado observando cada detalhe, como se visse o paraíso. Mas era isso mesmo o que você era (aliás, é). Quando olho pra você vejo todas as flores e lagos mais lindos, de você sai todo o canto que me faz querer estar vivo.

      - Por quanto tempo estive longe? - Perguntei.

      - Alguns dias, talvez.

      - Estranho, pra mim pareceram eras.

      Você deu de ombros e sorriu. Sorriu e explodi. Explodi de felicidade porque você estava bem ali comigo. Se um dia me mostrou seus piores medos, vivi o meu e ele acabava naquele momento: você estava de volta e agora todos os fantasmas ficaram para trás. 

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Lost in your strange trailsWhere stories live. Discover now