Meet Me in the Woods
Escuro. Não tinha chão, nem paredes: vazio. Sentia-me pesado, como se tivessem amarrado sacos cheios de areia em cada extremidade do meu corpo.
- Esse peso é a escuridão. - Disse uma voz atrás de mim. Não conseguia me virar, estava tão pesado que mal me movia. - São os seus "demônios", por assim dizer. Carregou muitos durante a sua vida.
- Onde estou?
- Não importa, só precisa saber que está morto.
- Eu morri?
- Sim.
- E onde está Louise? - Perguntei. A voz foi ficando mais alta ao passo que se aproximava de mim.
- Não pode ficar com ela. Carrega pesos demais, enquanto ela está leve e voa.
- Como um pássaro?
- É, ela é quase um deles agora.
Sorri. Talvez por isso os pássaros eram tão bons amigos.
- E como posso chegar até ela? O que faço para me livrar desses pesos?
Um riso sarcástico. Ele riu de mim, mas não vi graça alguma.
- Devia tê-lo feito enquanto estava vivo.
Fiquei angustiado. Passei todos esses dias procurando por você, e não a veria nunca mais? Injusto. Respirar se tornou uma tarefa difícil e lágrimas quentes inundavam meus olhos, mas já não eram de tristeza ou angústia. Eu precisava vê-la, fiz de tudo! Não era a morte quem ia me impedir.
- Quero voltar. Mande-me de volta e deixarei todos os pesos no planeta. Depois que terminar, você me traz de volta. - Ele riu de novo, mas eu não estava brincando. Sua voz se alterou até ser uma completamente diferente; era a voz de meu pai.
Acho que brigamos. Não estou certo de que tenha sido assim, mas lembro de uma batalha. Apesar de todos aqueles pesos, tentei enfrentá-lo. Não sei quanto tempo se passou, era como se este não passasse ali. Quando estávamos ambos cansados demais pra continuar, eu disse:
- Você mandou meu fantasma pra lá, também mereço uma chance. - Era minha última carta.
Ele deu um longo suspiro e tomou a forma de meu pai, parando bem na minha frente. Pousou sua mão em meu ombro, apertando de leve, como um pai prestes a dizer algo a seu filho.
- Doze horas é tudo o que posso te dar. - Seus olhos velhos e cansados olharam no fundo dos meus, desapareceu aos poucos.
Os sacos sumiram, evaporaram. Fui jogado pra baixo, depois pra esquerda, pro alto e para baixo de novo; quase como uma marionete.
. . .
Procurava pela cidade fantasma. Estava no deserto, um carro se aproximou, um jovem ofereceu carona. Aceitei porque não tinha nada a perder. Doze horas. Estamos separados por doze horas, Louise. Caminhei até o fim do mundo.
. . .
Voltei pro vazio, os pesos não estavam mais lá. Meu pai veio me dar os parabéns pessoalmente, depois se foi. Fui jogado para direita e para cima em seguida. O vazio foi tomando forma, estávamos numa floresta. Era noite e o céu mostrava todo seu conjunto de estrelas – os vivos não sabiam o que estavam perdendo.
Quando enfim meus olhos focaram em algo, vi você. Quase desmontei, sentia que iria desabar de felicidade. Corri em sua direção o mais rápido que pude. Você estava na minha frente! Fiquei parado observando cada detalhe, como se visse o paraíso. Mas era isso mesmo o que você era (aliás, é). Quando olho pra você vejo todas as flores e lagos mais lindos, de você sai todo o canto que me faz querer estar vivo.
- Por quanto tempo estive longe? - Perguntei.
- Alguns dias, talvez.
- Estranho, pra mim pareceram eras.
Você deu de ombros e sorriu. Sorriu e explodi. Explodi de felicidade porque você estava bem ali comigo. Se um dia me mostrou seus piores medos, vivi o meu e ele acabava naquele momento: você estava de volta e agora todos os fantasmas ficaram para trás.
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Lost in your strange trails
FanfictionEle sonhou com o fim do mundo e quando acordou ela não estava lá. O que divide o real do imaginário, afinal? ___ Baseado no álbum "Strange Trails"+"When the night is over" da banda americana Lord Huron. #1 em Desaparecimento - 29/09