.6. Vejo-a escapar entre meus dedos

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Way out there / The world ender

      Eu perdi tudo. Você viu, eu estava morto. E meu pai vinha me buscar, tinha que correr. Antes de ir, tinha algo a fazer. Eu vi o fim do mundo uma vez, talvez seja porque eu sou o fim. E se eu fui o escolhido para acabar com tudo isso? Enquanto corria na direção da cidade fantasma, cantava, feliz de uma forma que nunca havia sentido antes. Ao que parece, foi pra isso que me mandaram para este mundo. Voltei da morte, apesar de terem tentado me apagar da história. Já sei que não é tão fácil chegar ao céu, então me deixe mostrar como acabar com tudo isso.

      Em cada esquina estava um morador; nenhum deles lhe conhecia, no entanto. Estranho, mas não me surpreendi: Ben morto já havia me avisado. As pessoas veem apenas aquilo que querem, e escolheram não enxergá-la, quando estava ali o tempo todo. Sei que estava com você, assim como sei que o que tivemos foi real, não estou louco.

      Depois que escolhi seguir suas trilhas, tão estranhas e fascinantes, não sei para onde vou, só sei que estou longe de casa e não tenho como voltar, simplesmente porque não me vejo em casa sem você. Quero encontrá-la, entretanto, tenho que me vingar primeiro. Minhas pernas tremiam enquanto corria com a arma em mãos (encontrei-a no caminho, onde você escondeu), mas não estava com medo: meus ancestrais me acompanhavam (sabia disso porque gritavam em minha mente). Minha visão estava embaçada por conta do suor, que era tanto que escorregava por entre minhas sobrancelhas e cílios, mas não me incomodava – estava prestes a me (nos) vingar.

      Meu peito doía tanto que mal conseguia permanecer de pé. A dor se espalhava e em pouco tempo meu braço esquerdo e mandíbula gritavam, como se alguém os torcesse até a morte. Todas as cores se transformaram em preto, meus olhos já não queriam (e nem podiam) mais permanecer abertos.

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      Estava tudo uma bagunça. Por que todos pareciam tão obcecados por branco naquele lugar? E os gritos, por que gritavam? Além de gritarem uns com os outros, pareciam achar que podiam me controlar, arrastando-me de um lado para o outro enquanto eu estava amarrado e deitado. Deitado e amarrado, me amarraram deitado.

      -O que tem de errado com ele? - Perguntou alguma voz que não pude reconhecer.

      Gritei e tentei me soltar, não podiam me amarrar ali e esperar que eu agisse como se não fosse nada!

      -Ao que parece, esquizofrenia, do mais grave dos casos. - Outra voz. Ao que parece, muitas vozes que não conhecia pareciam achar saber muito sobre mim.

      Tudo ficou preto outra vez.

. . .

      -Estamos perdendo-o! - Gritaram.

      Aos poucos parei de ouvir, ver e sentir. Estava tudo tão escuro e tranquilo que quase suspirei aliviado. 

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Lost in your strange trailsWhere stories live. Discover now