Capítulo 2

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A casa de Pietro estava linda, tudo em seu devido lugar, como ele gostava. Havia se mudado a pouco tempo e a cozinha era o dobro do tamanho da antiga. Então para comemorar a nova conquista convidou os velhos amigos para um "open house" com direito a degustação dos seus melhores pratos.

- Bia, Manuel que bom que vieram! - nos cumprimentou

- É claro que viriamos! - Manuel o abraçou

- Está tudo tão lindo! - ele sorriu agradecido

- Venham, entrem! Estamos na varanda.

Estavam quase todos lá, Chiara, Celeste, Daisy, Jhon e até Jandino e Carmin. Segundo Pietro, Thiago estava no Brasil, e Pixie em um intercâmbio pela Europa. Nos juntamos a eles em uma roda de conversas em volta da mesa. Não pude deixar de notar que Carmin estava mudada, até trocamos algumas palavras ao invés de "farpas". Estamos conversando sobre a volta de Jhon e seu mico ao confundir a esposa de um cantor com a mãe dele. As gargalhadas rolavam soltas. Pietro adentrou a varanda carregando uma bandeja com uma travessa de um tipo de pasta esverdeada. Todos se encantaram com o perfume da comida. Exceto eu. Não consegui disfarçar a ânsia ,e Manuel me olhou preocupado. Antes que pudesse dizer algo eu já tinha saído correndo pro banheiro, deixando olhares preocupados.

- Então foi isso que aconteceu !? - Chiara me interrompeu, recebendo um olhar de reprovação de Celeste.

- Deixa a Bia falar! - acenou para que continuasse.

Antes que pudesse perceber já estava sobre o vaso. Me sentei no chão tentando me lembrar se havia comido algo estragado. Nada. Me levantei e fui até a pia para enxaguar a boca e lavar o rosto e um estralo surgiu. Tentei lembrar da última vez que menstruei, já estava atrasada a algumas semanas, com a faculdade acabei até esquecendo. Encarei o espelho a minha frente, meu sangue havia sumido do rosto e fui consumida pelo pânico.

Duas batidas na porta.
- Bia ? Meu amor, tudo bem? - era Manuel.

Demorei um pouco pra responder, ele abriu a porta que tinha esquecido de trancar.

- Oi !? Tá tudo bem. Foi só um mal estar, já passou!- tentei acalma -lo .

Ele ainda me encarava com preocupação e desconfiança, mas depois de prometer que estava bem ele me deixou sair do banheiro.
O resto de noite foi tranquila ,sem perguntas, sem mais enjôos, mas tinha uma duvida me consumindo por dentro, será que eu poderia estar grávida ?

No dia seguinte tratei de comprar um teste, aquela dúvida tava me matando.
Estava mais uma vez no chão do banheiro, abraçada aos joelhos com o queixo apoiado nós mesmos. Acima da pia, o meu destino. O celular apita dizendo que já se passaram 10 minutos, que pra mim durou a eternidade.
Levantei cambaleando, respirei duas vezes antes de olhar. Uma. Duas. Duas linhas. Como duas linhas vermelhas são capaz de mudar uma vida ?

As lágrimas despencaram, a verdade estava ali na minha frente. Meu coração tava tão disparado que dava pra ouvir do outro lado da porta.

- Eu tô grávida. - sussurrei pra mim mesma.
Não conseguia acreditar nas minhas próprias palavras.

Uma coisa eu sabia. Ninguém poderia saber, não ainda. Muito mesmo o Manuel.

Algumas semanas depois Manuel embarcou rumo a Espanha, sem nem desconfiar do que estava acontecendo dentro de mim. Não importava o que acontecesse, eu não poderia arriscar o futuro dele.

Chiara e Celeste me encaravam com os olhos cheios de água. Celeste soltou um suspiro pesado.

- Então... o Manuel não sabe de nada ? - perguntou

- Não. Como eu poderia contar !? ele largaria tudo pra ficarmos juntos. Não me perdoaria se ele perdesse essa chance.

- Mas vai contar, não vai ? é filho dele, ele precisa saber!

- Eu não sei! Se eu contar ele vai voltar. - ela não disse nada, mais sabia que não era certo.

Chiara sorriu consigo mesma.

- Vamos ter um bebezinho! - disse sorrindo-Vamos ser tias! - cutucou Celeste no braço, a fazendo rir.

Demos as mãos.
- Estamos com você Bia! - Disse Celeste

- Pro que der e vier, sempre! - completou Chiara.

- Obrigada meninas, é muito importante saber que vocês estão aqui comigo. Eu amo vocês!- me emocionei.

- Te amamos!- disseram juntas. Nos abraçamos.

O resto dos dias correram bem, quer dizer, entre uma ida e outra ao vaso sanitário. Foram dias incríveis, mas era hora de encarar a realidade e contar a verdade a minha família. Estou morrendo de medo da reação deles, mas eles precisam saber.

Três pares de olhos excessivamente arregalados me encaravam. Helena começou a rir, mas parou quando viu minha cara apavorada. Meu pai estava pálido, em um impulso se levantou e quase caiu da banqueta, mas se apoiou na mesa. Minha mãe e Helena correram para acudi-lo. Eu assistia a cena horrorizada.

- Mariano, calma meu amor! respira. - minha mãe tentava acalma -lo.
Seu olhar de decepção era mais doloroso que uma facada. Nunca havia visto meu pai assim.

Minha mãe o levou até o quarto para descansar. Meus olhos já não aguentavam mais segurar as lágrimas. Helena correu pra me abraçar, e pela primeira vez em muito tempo eu me senti a garotinha que gostava de desenhar o céu, não a mulher que cometeu um erro deplorável.

- Vai ficar tudo bem maninha. Estamos juntos nessa! - ela enxugou minhas lágrimas com seu lenço dourado. - dê um tempo ao papai, ele vai entender. - eu soluçava.

Eu sabia que a reação não seria das melhores, mas não imaginava que seria assim.

Minha mãe entrou no quarto com uma caneca com chá quente, camomila, meu preferido. Ela se sentou na beirada da cama e acariciou meus cabelos.

- Sabe... No fundo acho que eu já sabia. - ela sorriu.

- Como?- perguntei curiosa.

- Bem, eu sou sua mãe, eu sei de tudo que se passa com você e sua irmã, é como um sexto sentido de mãe. - ela se gabou - vai ter isso também. - acariciou minha barriga, que até então não tinha forma alguma.

- Sinto muito se decepcionei vocês, eu juro que não queria que acontecesse - as lágrimas reapareceram- me desculpa.

- Tudo bem meu amor, eu sei, seu pai também sabe. Você jamais será uma decepção, muito menos esse bebezinho. Só dê tempo ao tempo.

- Obrigada mãe, eu te amo tanto. - a abracei.

- Eu te amo mais minha filha. - ela acaricio meus cabelos. Ela saiu do quarto dando passagem ao meu pai.
Seus olhos estavam inchados pelo choro. Ele se ajoelhou ao lado da cama e segurou minhas mãos. Antes que pudesse dizer algo eu me apressei.

- Me perdoa pai, eu sinto muito mesmo. - ele enxugou meu rosto.

- Tudo bem, vai ficar tudo bem. É assustador ver sua garotinha se tornar uma mulher de uma hora pra outra. Mas você é forte e corajosa, sei que vai dar o seu melhor. Nós somos sua família e vamos estar com você sempre. Eu te amo muito minha filha.- ele se emocionou.

Me agachei pra abraça-lo. - Te amo papai - sussurrei. - Um abraço longo e cheio de palavras não ditas. Sei que ele não gostou da ideia de manter em segredo do Manuel, mas apenas concordou com minha vontade, disse que eu tinha o direito de fazer minhas próprias escolhas.

Falando no Manuel, nós conversávamos pelo menos quatro vezes na semana. As vezes quando estou muito chorosa tento evitar contato, pra que ele não se preocupe. As vezes tenho vontade de gritar aos quatro ventos a verdade, mas quando vejo sua empolgação com o trabalho na gravadora, o violão novo e as entrevistas, acabo desistindo. Não está sendo fácil, mas estou fazendo isso por ele. Por nós.









"Conte a Ele" - BinuelOnde histórias criam vida. Descubra agora