Capítulo 58

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BIA

Eu tinha colocado o apartamento a venda poucos dias depois de conhecer nossa nova casa. E graças ao pessoal da mudança, nossas coisas já esperava em caixas que estavam empilhadas no canto da sala, prontas para serem levadas para o nosso novo lar. Tudo parecia estar acontecendo tão rápido. Não sei, mas no fundo parecia que eu estava deixando alguma coisa para trás.

Passei a mão pela parede da sala, ela tinha uma mancha de canetinha hidrográfica laranja que não saiu com água e sabão. Eu tinha desistido de limpa-las depois que Maria começou a dominar hidrocores e pincéis. Não adiantava.

Agora com tudo vazio, consigo perceber como o apartamento é pequeno. Antes de Manuel chegar, ele parecia um labirinto extenso para nós duas. Mas sem Manuel não seríamos completas.

— Acho que essa é a última. – disse Manuel, colocando uma pequena caixa no chão. Ele me encarou preocupado. — Ei. O que ouve?

— Lembranças. – murmurei. Eram elas que estavam me prendendo ali. — Vou sentir falta daqui. – admiti.

— Eu sei. – Manuel me abraçou, pousando minha cabeça em seu peito. — Vocês duas viveram muitos momentos inesquecíveis aqui, e eu também. Sei o quanto eles foram importantes. – ele se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos. — Vamos criar novas lembranças na casa nova. Todos juntos. As melhores do mundo.

— Seremos muito felizes na nossa nova casa. – murmurei distante, enfiando o rosto em sua camiseta, e sentindo seu perfume.

— Você é a minha casa. – respondeu baixinho, deixando um beijo em meus cabelos.

(…)

Maria estava super empolgada com a casa, principalmente depois que ela percebeu que teria muitas telas – paredes – em branco para desenhar. Ela corria de um canto ao outro brincando com o eco que os cômodos vazios faziam toda vez que ela dava uma gargalhada.

Como prometido nós iríamos pintar as paredes do quarto, então espalhei algumas folhas de jornal pelo chão e separei alguns dos meus materiais de pintura.

— Tô' prontinha! – exclamou Maria, segurando um rolo de pintura que era maior do que a sua estatura. Ela estava usando um avental de bolinhas e galochas de chuva, pronta para desbravar o mundo das cores.

— Muito bem. Mas isso aí é muito grande pra você. – apontei para o objeto em sua mão. — Por que não pega o rolo menor?

— Tá bom. – concordou dando de ombros, e trocou de material.

— Aqui estão, senhoritas. – disse Manuel, soltando duas latas de tinta no chão. Ele sorriu para nós, e balançou a cabeça. — Acho que estou vendo dobrado. Duas “Bias”.

Maria e eu trocamos um sorriso cumplice.

— Você chegou bem na hora. – lhe estendi um pincel de cerdas largas. — Me mostre o que sabe fazer. – desafiei, com um ar debochado.

— Vou te surpreender com meu dotes artísticos. – assinalou , com um sorriso triunfante.

Maria tinha escolhido um azul mentolado para o fundo, e assim fizemos. Demos a primeira demão de tinta, e enquanto ela secava ficamos imaginando o que desenharíamos ali.

— Quero um arco-íris bem grande. – pediu Maria, rodopiando pelo quarto com os braços abertos.

— Eu senti tanta falta de ver você nesse macacão. – me virei para Manuel, ele me observava com um sorriso divertido, enquanto retocava o rodapé. — Me traz tantas lembranças.

"Conte a Ele" - BinuelOnde histórias criam vida. Descubra agora