Capítulo 29

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MANUEL

Bia estava no sofá, debruçada sobre a almofada, chorando. Maria ainda se recusava a abrir a porta, Bia insistiu tanto que acabou ficando sem voz. Eu não conseguiria ir embora e deixa-las assim. Pais e filhos não deveriam brigar, por mais que Maria diga que não quer nos ver, ela sabe que precisa da gente.

Encosto a testa na porta do quarto dela, já fazia um tempo que eu estava ali de pé.

- Filha...por favor, abra a porta. – pedi mais uma vez. – Sei que está decepcionada, mas nós fizemos um juramento, lembra? Eu não vou te deixar, nunca.

Silêncio. Talvez tenha dormido.

Quando estou prestes a recuar, as trancas se abrem.

- Graças a Deus. – murmurei a mim mesmo.

Abri a porta. Maria estava na cama, abraça aos joelhos, com a cabeça escondida entre eles.

Me aproximei, ajoelhando a sua frente. Ela levantou o rosto. Os olhos estavam pequenos e inchados pelo choro. Senti o coração despedaçar. Pai nenhum quer ver sua filha, ou filho daquela forma.

- Me desculpe pelo que você escutou. – disse calmamente.

Ela apoiou o queixo nos joelhos.

- Você disse que não iria me deixar. E agora você vai embora. – murmurou.

- Eu não vou! Eu jamais farei isso. Você é tudo que importa para mim. – sequei uma lágrima em sua bochecha.

- Por que a mamãe mandou você embora?

Respirei fundo.

- Por que...por que eu fiz uma coisa ruim. Eu menti para ela. – fechei os olhos com força. Assim como estou mentindo pra você agora, foi o que a minha consciência gritou. Maria é uma criança esperta e madura para a idade dela. Mas não significa que deva saber sobre tudo que está acontecendo. Seria demais para ela. É demais até para mim.

- Então peça desculpas! – ela disse como se fosse óbvio.

Seu jeito inocente de pensar me encantava.

- Queria que fosse fácil assim. – digo. Talvez mais a mim mesmo do que a ela.

Ela abaixa os joelhos, cruza as pernas e puxa a pequena pelúcia para o colo, o apertando com força contra o peito.

- Mamãe ficou triste comigo. – dessa vez ela que parece estar falando com sigo mesma.

Acariciei seus pezinhos quentinhos sobe a meia.

- É, ela não ficou muito contente com o aconteceu. – me aproximo como quem fosse contar um segredo. – Não acha que deve um pedido de desculpas a ela?

Maria balança a cabeça.

- Sim. – sussurrou. – Você pode vir comigo?

Dei um pequeno sorriso e lhe estendi a mão.

- Claro. – ela colocou a mão dentro da minha e a ajudei a levantar.

Bia levantou a cabeça quando sentiu nossa presença na sala, ela se endireitou no sofá e secou o rosto molhado e vermelho.

Maria olhou para mim, com se pedisse um incentivo. Dei uma piscadela e ela assentiu, caminhando timidamente até o sofá.

Encostei na parede, observando-as de não muito longe.

- Oi. – Maria se sentou a sua frente.

Bia limpou a garganta, ela ainda parecia sentir dor.

- Oi meu amor. – sua voz soou falha.

"Conte a Ele" - BinuelOnde histórias criam vida. Descubra agora