Capítulo 3

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Hoje tenho consulta com a obstetra, Celeste e Chiara se ofereceram pra me levar. Estou no banco de trás assistindo Chiara saltitar no banco do passageiro enquanto Celeste grita com ela pra que pare de desconcentra-la. Rio da cena.

- Tomara que seja menina, não, não um menino, já somos em muitas meninas, mas tem os laços e as ... – ela não parava de falar um minuto, e eu não parava de rir.

- Chiara! – Celeste gritou- pode parar por favor, estou tentando me concentrar no trânsito! – ela estava a ponto de joga-la pela janela.

Estendi a mão para tocar Chiara.

- Acredito que ainda seja cedo demais para saber o sexo. – ela fez um bico.

- Que pena. – ela abaixou a cabeça, mas levantou logo em seguida. – mas talvez semana que vem já de pra saber, aí finalmente vamos comprar o enxoval, ai as roupinhas de bebê são tão fofas..- começou ela mais uma vez, minha amiga sonhadora, "limites" está fora do seu vocabulário. Celeste revirou os olhos, mas logo em seguida caiu na gargalhada quando Chiara disse que se negaria a trocar as fraudas da criança. Rimos da cara e nojo dela. Não sei o que seria de mim sem elas.

A luz que vinha das janelas era cegante aos olhos. Estavamos em uma salinha esperando pela doutora. Enquanto Celeste lia alguns panfletos sobre gravidez eu e Chiara preenchíamos uma ficha. A senhora de jaleco branco e óculos na ponta do nariz abriu a porta segurando uma prancheta.

- Desculpa a demora - Ela nos olhou confusa. – muito bem ,quem de vocês é a senhorita Urquiza ?- checou a prancheta.

- Sou eu - disse me levantando. Ela arrumou os óculos.

- Olá meu bem, sou a doutora Ana é um prazer te conhecer! – me cumprimentou sorrindo. – Essas são ?- apontou para Celeste e Chiara.

- São minhas amigas, Chiara e Celeste – ela sorriu.

- MELHORES amigas – corrigiu Chiara.

-Certo, certo. Por favor me acompanhem. – ela nos guiou pelos corredores.
 
O gel que as grávidas alegam ser congelante não era exatamente tão lá essas coisas, era refrescante apenas. Celeste observava tudo com maior atenção, como se estivesse fazendo anotações mentalmente. Chiara estava com a cabeça apoiada nas mãos como se esperasse seu filme favorito começar.
A médica virou o monitor na minha direção.

- Pronta ?- eu assenti.

No começo as imagens eram embaçadas, como uma televisão quebrada. Mas aos poucos foi se focando.

- Onde está? Não estou vendo- Comentou Chiara.

- Está bem aqui. – apontou a médica um pequeno pontinho na tela.

- É tão pequeno – Celeste observou.

- Você está de dez semanas, - ela se virou para mim - seu bebê é praticamente do tamanho de uma azeitona. - Chiara arregalou os olhos.

Eu só conseguia sorrir, era tanta felicidade que parecia que meu coração iria explodir de tanta emoção.
De repente a sala foi invadida pela mais bela melodia já escutada, o bater de um coração. Nem as escolas de samba do Brasil eram capaz de fazer tanto barulho.

Passei a mão pela tela desenhando seu formato com os dedos, e mais uma vez minhas lágrimas estavam lá, rolando pelo meu rosto. Meu Filho (a). E no mais profundo do meu coração desejei que Manuel estivesse aqui comigo, segurando minha mão e escutando essa linda canção.

Enxuguei as lágrimas e recuperei o fôlego.

- Já dá pra saber o sexo ?- perguntei ansiosa

- Lamento, ainda não. A partir da 13ª semana pelo ultrassom.

- Não acredito que vou ter que esperar mais três semanas! – Chiara cruzou os braços, como uma menininha mimada.

- Podemos comprar algumas peças sem cor específica. – ela sorriu com a ideia.

- E finalmente teremos um pouco de sossego. – Celeste cutuca Chiara.

Cheguei em casa e pendurei o pequeno retrato em um mural de fotos. Era a segunda. É como acompanhar a evolução do amor.
Me sentei a mesa de desenho na esperança de se distrair um pouco. Uma tentativa falha já que não conseguia deixar de encarar o celular a espera de um mensagem, ligação ou sinal de vida de Manuel. Já faz uma semana sem notícias. Decidi fazer uma ligação. Um, dois, três, no quarto toque ele atendeu. Sua voz estava rouca, como quem acabará de acordar, e por um momento esqueci do fuso horário de quatro horas.

- Bia, meu amor? Tá tudo bem?- ele bocejava do outro lado.

- Oi meu amor, desculpa te acordar, me esqueci da variação de horário. - ele deu uma risadinha abafada.

- Sem problemas. Como você está? Estou com tanta saudade!

Conversamos por alguns minutos, ele contou que estava trabalhando muito, e se desculpou por não mandar notícias e estar mais presente. De repente o outro lado da linha ficou mudo, só havia o som de sua respiração pesada. Ele dormiu.

- Boa noite, meu amor. Te amamos ! - sussurrei a última parte.

Fui até a cozinha buscar um copo de água e encontrei meu pai devorando algumas media lunas.

- Quer? - empurrou o prato na minha direção. Fiz uma carreta.

- Não, mas obrigado. - ele agarrou o prato novamente.

Peguei o copo com água e me sentei na banqueta a sua frente.

- Pai? - levantou a cabeça pra me olhar- acha que estou fazendo a coisa certa ? - ele pigarreou e ajeitou a postura.

- Eu ... Eu não sei minha filha. Um filho é algo muito importante pra se manter em segredo. - ele segurou minhas mãos - Mas sei que suas intenções são as melhores. - ele sorriu.

- Obrigado pai. - me levantei para abraça-lo.

São poucos aqueles que sabem da gravidez, tirando as minha família e as meninas, só Pietro sabe. Graças a Chiara que deixou escapar pela grande boca dela. Pedi a eles que caso perguntassem do meu desaparecimento, era porque estava muito ocupada com os trabalhos da faculdade. Falando em faculdade, mudei o curso para EaD, assim posso ficar mais tempo em casa e descansar, já que com a gravidez veio também um sono insistente, se eu parar, durmo.

"Conte a Ele" - BinuelOnde histórias criam vida. Descubra agora