Capítulo 16

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       Estava em uma minivan preta com mais quatro guardas, incluindo Esdras. Ela não era muito grande, mas tinha espaço o suficiente para levar nós e suas armas. Uma informação relevante que acabei descobrindo nessa saída do reformatório, os guardas não andavam armados lá dentro para evitar confusões por parte dos alunos, mas no transporte para fora de San Rafael utilizavam revólveres e armas de eletrochoque. Kalamari me explicara que era apenas por precaução, mas eu sabia que eles não pensariam duas vezes em me dar um choque.

       — Falta muito? — perguntei não obtendo uma resposta.

       Aquele silêncio me permitiu pensar no que havia acontecido no dia anterior. Eu quase transei com Nike, se não tivesse usado uma desculpa esfarrapada, não sei no que teria dado. Em parte fora minha culpa, não deveria tê-lo beijado, mas ele estava tão atraente e compreensivo que acabei me deixando levar no calor do momento.

       A ida ao hospital veio como uma bênção, poderia evitar meu amigo e colocar meus pensamentos em ordem. Valia a pena perder sua amizade por um relacionamento que jamais daria certo? Nike era bonito e divertido, mas estava longe do tipo de cara que eu namoraria. Na verdade, jamais cogitara a ideia de namorar, preferia ser livre para fazer o que bem entender e o fato de eu ser um anjo também não ajudava muito. No entanto, eu merecia um pouco de diversão antes de ser mandada definitivamente para a prisão.

       De uma coisa eu tinha certeza, não voltaria mais a ver Nike quando saísse do reformatório. Então para que me preocupar tanto, não é mesmo?

       — Chegamos — um dos guardas que eu não sabia o nome pronunciou.

       San Rafael não era uma cidade muito grande, isso explica o tamanho do hospital. Era menor que o reformatório, mas melhor conservado. As paredes tanto do lado de fora quanto de dentro eram brancas e o piso não saía desse tom. O local não parecia estar muito movimentado, mas tive que esperar alguns minutos para ser atendida.

       Enquanto eu falava com a atendente Esdras organizou os guardas, dois ficariam no lado de fora do hospital, um no hall de entrada e Esdras entraria na sala comigo. Eu sabia que ele havia dividido assim para evitar o máximo de contato dos outros guardas comigo e a enfermeira que faria o teste, todos precisavam acreditar que era uma simples doação de sangue.

       Informei meus dados para a atendente e o motivo de estar lá, Kalamari havia conseguido pegar minha identidade falsa e por conta disso não ocorreu nenhum problema no cadastro.

       — Muito bem, senhorita De Freyn. Está tudo certo para seu teste, uma enfermeira vai te acompanhar até uma sala reservada e em poucos minutos a senhorita já terá o resultado.

       — Eu posso levar alguém junto?

       Nesse meio tempo Esdras veio em minha direção.

       — Apenas parentes.

       Olhei para meu guarda. Nós não éramos parentes, como ele iria entrar sem revelar que sou uma detenta?

       — Eu sou o noivo dela. Isso me permite entrar, não é?

       Engasguei com minha saliva e precisei tossir algumas vezes para me recompor.

       Esdras me deu um leve chute na canela e sorriu para a atendente que apenas concordou e entregou a ele um adesivo de acompanhante para colar em sua roupa.

       Uma enfermeira logo apareceu e nos levou até a sala onde coletaria a amostra para fazer o teste de compatibilidade.

       O cômodo não era muito grande, e dentro só havia uma bancada e uma cadeira.

TentarWhere stories live. Discover now