God Save The Queer • l.s (HIATUS)

03 - Brooke Shields, porque ela tem sobrancelhas incríveis.

N/a: esse aqui tá do tamanho do primeiro capítulo e o segundo juntos, então tomem o tempo que precisarem pra ler. E boa leitura!

#GSTQfic

Harry se lembra do primeiro quadrinho da Marvel que ele leu. Era uma revista "Tales of Suspense" de número 39; a primeira edição onde Homem de Ferro apareceu.

Seu tio Michael é quem havia comprado, e deu para Harry quando percebeu que o sobrinho estava ficando muito empolgado por todo esse lance de desenhos e super heróis. Anos depois, esta simples revistinha se tornaria uma relíquia, mas Harry não sabia disso. Ele derrubou um pouco de chocolate quente nas folhas.

Aquele foi o início.

Era como se as portas estivessem se abrindo para Harry passar. A Marvel era um universo completamente diferente, gigantesco e maravilhoso, que ele podia facilmente se perder quando queria. Igual a Alice no País das Maravilhas, só que ao invés de um buraco e um coelho que fala, ele tinha páginas e um autor incrível planejando suas próximas histórias em outro continente.

E sobre os personagens? Bom, Harry às vezes até se esquecia que eles não eram, de fato, humanos.

Havia algumas fotos suas todo pintado de verde para se parecer com o Hulk em festinhas à fantasia que o colégio dava quando ele era mais novo e, em todas elas, o menino parecia bravo, porque era magricela e as pessoas o confundiam com o Mutano de Jovens Titãs, mas Harry ainda se lembra da sua mãe dizendo que aquele era o espírito, já que o Hulk é muito mal-humorado mesmo.

Sua coisa favorita, porém, não eram as lutas, as mortes, ou as habilidades sobrenaturais que eles tinham. Talvez correndo o risco de soar como um sádico, Harry gostava mesmo era de ver a vida dos personagens virando de cabeça para baixo.

Alguns demoravam mais que outros, mas sempre acontecia. Ser um personagem de Stan Lee automaticamente te colocava no posto de que, em algum momento, você passaria por uma merda colossal e precisaria salvar o planeta por culpa disso. Apenas por "estar no local errado na hora errada", como diria sua avó.

Era algo que ele se perguntava se existia: essa transformação maluca de uma hora para a outra. E se existia, era bem chato que ainda não houvesse acontecido com ele.

O Peter Parker, por exemplo, era apenas um adolescente normal, que foi picado por uma aranha radioativa e ganhou poderes e um "sentido aranha" aguçado de perigo. Por culpa disso, ele se tornou o Homem Aranha.

E tudo bem, Harry sabe que isso é só uma história em quadrinhos, mas parecia ser um fato universal de que a vida de todo mundo muda drasticamente em algum momento. É quando, por um instante, você para e pensa no absurdo que sua vida se tornou, e daí existem apenas dois caminhos: sofrer e desejar que as coisas voltassem ao que eram antes, ou aceitar e tentar fazer daquilo uma coisa boa.

Para Harry, sua aranha radioativa foi Louis.

Ele soube disso no instante em que saiu tropeçando bêbado de uma festa às três horas da manhã, enquanto seu primo corria atrás dele com o punho ferido e a boca sangrando, depois de ter quase matado um dos maiores valentões do seu colégio. Não era uma cena que Harry estava acostumado a vivenciar, digamos assim, mas vamos por partes, porque muita coisa aconteceu antes deste momento.

— Uma festa, é? — perguntou Anne no início da noite, com a mão na cintura.

— Não é bem uma festa... — respondeu Harry, com sua melhor cara de inocente. — A gente só vai jogar videogame e comer porcaria.

— E por que vocês não fazem isso aqui?

— Porque a mãe de Liam não quer nos incomodar — deu de ombros —, ele sempre vem pra cá, então nada mais justo eu ir lá também. É uma lógica simples pra equilibrar as coisas, mãe.